Argentina: restrição à importação já afeta mercado de suínos
Buenos Aires, 12 - Quarenta dias depois do endurecimento
das barreiras às importações na Argentina, o mercado doméstico de carne suína
começa a sentir efeitos de desabastecimento. "A indústria está com graves
problemas de abastecimento e não está podendo cumprir os prazos de entrega dos
produtos terminados aos clientes", disse à Agência Estado o presidente da
Câmara Argentina da Indústria de Embutidos e Frios (Caicha), Martin
Gyldenfeldt. O cenário provocou uma alta do preço do produto nas últimas semanas,
passando de 7,60 pesos por quilo para 8,50 pesos.
"O
problema mais grave é a falta de produto porque há menos matéria-prima e menos
trabalho. Toda a cadeia está sendo prejudicada", disse Gyldenfeldt. Ele
afirmou que as fronteiras estão fechadas para todos os cortes de suínos desde
1º de fevereiro, quando entraram em vigor as novas exigências do governo para
as importações: a Declaração Jurada Antecipada de Importação (DJAI), junto à
Receita Federal, e uma Nota de Pedido que se envia por correio eletrônico ao
secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno. Ambas as notificações devem
ser aprovadas para que os importadores possam realizar suas operações.
Antes das
medidas, Moreno havia informado à indústria que permitiria a entrada apenas de
recortes e toucinho. A alfândega argentina, porém, está fechada para todos os
produtos. "Faltam não só o pernil e a paleta que usamos para fazer
presunto, mas toucinho e outros cortes para os embutidos e demais frios",
disse o executivo da Caicha. Gyldenfeldt informou que "desde o início das
medidas, entraram no mercado apenas quatro caminhões contendo 22 toneladas,
cada um".
Segundo
ele, os produtores locais não têm oferta suficiente para atender às
necessidades da indústria. A produção nacional argentina de suínos é de 3,3
milhões de cabeças e faltariam 1,3 milhão mais de abates para atender o consumo
doméstico e substituir todas as importações. "Há muita preocupação porque
estamos falando da falta de matéria-prima para trabalhar. Ainda não podemos
falar de quebra na cadeia de pagamento, mas há queda do volume de entrega dos
produtos", reconheceu.
Gyldenfeldt
disse que "há esperanças" de que a visita do ministro de Agricultura
do Brasil, Mendes Ribeiro Filho, prevista para a próxima sexta-feira (16),
possa mudar a posição do governo argentino e permitir uma abertura do mercado
aos suínos brasileiros. "Esperamos que alguma solução possa surgir dessa
visita", disse o executivo. Mendes Ribeiro tem uma reunião marcada com o
homólogo dele, Norberto Yahuar, às 12 horas desta sexta-feira, segundo agenda
do embaixador do Brasil em Buenos Aires, Enio Cordeiro. No entanto, Yahuar não
tem poder de decisão sobre a pauta de comércio exterior da Argentina. Esse
assunto hoje se encontra exclusivamente nas mãos do secretário Moreno, cuja presença
ao encontro não está confirmada até o momento.
Exportação
brasileira cai 85%
Hoje pela
manhã, a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne
Suína (Abipecs) informou que as medidas de restrição à entrada de carne suína
brasileira na Argentina levaram, em fevereiro, a uma queda acentuada nas vendas
para aquele destino: 84,97% em volume (478 t) e 84,16% em receita (US$ 1,51
milhão). Em 2011, a Argentina foi o quarto maior mercado da carne suína
brasileira, com representatividade de 8,14% em volume e 9,02% em receita. No
bimestre desde ano, em volume, a Argentina passou para a quinta posição, mas
manteve a quarta em receita. Mas somente em fevereiro, o país vizinho ficou no
nono lugar em volume e oitavo em receita.
O
presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, diz que a associação continua na
esperança de que o governo federal, por meio de atitudes e medidas práticas
firmes, reverta o quadro, restabelecendo as exportações para o país vizinho.
Segundo ele, o Brasil importa significativos volumes de produtos agropecuários
da Argentina, como batata, alho, pera, arroz e produtos lácteos, entre leite
UHT e queijos, com a perspectiva de inclusão de carne de aves. Por isso, ele
considera discriminatória a medida argentina contra a carne suína brasileira.
Em
entrevista à Agência Estado, Camargo Neto afirmou que a discriminação contra a
carne suína está ficando insustentável e não afasta a possibilidade de ir à
Argentina para reforçar a equipe brasileira de negociadores na reunião de
sexta-feira. "Se o Brasil quiser, tem condições de reverter a situação.
Mas se o Brasil não se preparar direito para as negociações, não acontecerá
nada. Mas estou otimista", disse o executivo.
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