Novo exame de sangue pode prever infarto semanas antes
Teste detectou tamanho
anormal em células de pessoas infartadas.
Dado poderá servir como marcador para prever ataque cardíaco iminente.
Um novo exame de sangue
pode ser útil para ajudar os médicos a prever quem está prestes a sofrer um
infarto. A descoberta tem como base um estudo realizado pelo Instituto Scripps
de Pesquisa, de La Rolla, na Califórnia, divulgado nesta quarta-feira (22), na
revista "Science Translational Medicine".
Durante
um infarto – ou ataque cardíaco - a pessoa sente dor no peito em pontadas,
aperto ou queimação e tem sudorese. No Brasil, ao menos 300 mil pessoas morrem
por ano em decorrência de doenças do coração, como o infarto e o AVC, segundo
dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Os principais fatores de risco são o tabagismo, estresse,
pressão alta, colesterol alto, diabetes, sedentarismo e a história de infarto
na família.
A pesquisa americana conclui que as células provenientes da
medula óssea e que circulam nos vasos sanguíneos de pacientes que sofreram
ataques cardíacos tinham tamanhos diferentes e maiores do que o normal, além de
frequentemente aparecerem com núcleos múltiplos. Isso indica que elas poderiam
sinalizar um risco de ruptura da placa de gordura dentro da artéria – que causa
o infarto.
"A capacidade de diagnosticar um ataque cardíaco iminente
tem sido considerada o 'santo Graal' da medicina cardiovascular", disse Eric Topol, principal pesquisador do
estudo e diretor do instituto.
Segundo o especialista, a descoberta é importante e “pode ajudar
a mudar o futuro da medicina cardiovascular”.
Metodologia
O estudo envolveu 50 pacientes que sofreram infartos em quatro hospitais de San Diego, na Califórnia. Os pesquisadores descobriram que as células do músculo cardíaco e as que circulam nos vasos sanguíneos tinham sido drasticamente alteradas nessa população quando comparado às de pessoas saudáveis.
Com coautoria de médicos e cientistas da Scripps Health, e de um
grupo de empresas do ramo da saúde, a pesquisa teve financiamento de US$ 2
milhões (R$ 3,6 milhões) do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em
inglês), dos Estados Unidos.
Os resultados podem ser considerados significativos, se for
levado em conta que mais de 2,5 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofreram
um ataque cardíaco ou um AVC (acidente vascular cerebral), de acordo com Paddy
Bennett, principal pesquisador do Instituto Scripps.
"A esperança é ter este teste desenvolvido para uso
comercial no próximo ano ou em dois", afirma Raghava Gollapudi, MD, então
principal pesquisador da Sharp HealthCare, uma das empresas envolvidas no
estudo.
"Este seria um teste ideal para realizar na sala de emergência
para determinar se um paciente está à beira de um ataque cardíaco ou prestes a
sofrer um nas próximas duas semanas. Mas por agora só podemos testar para
detectar se um paciente acabou de sofrer um ou teve recentemente um ataque
cardíaco. "
Médico brasileiro questiona
O cardiologista Rui Fernando Ramos, diretor da Sociedade Paulista de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) não está tão otimista com o teste. Segundo ele, faltou avaliar mais pessoas que não tinham sofrido infarto para concluir, de fato, se elas poderiam apresentar previamente as mesmas deformidades nas células.
"A minha crítica que vai para a pesquisa é que eles têm que
fazer outra experiência porque isso já envolveu pacientes infartados, entre os
quais foi notado que as células eram deformadas. Mas isso não quer dizer que se
eu for infartar daqui uma semana e colher o sangue hoje, minhas células estarão
deformadas. Eles não tiveram a capacidade de confirmar a deformidade da célula
no infarto agudo semanas antes da pessoa infartar”.
Mas Ramos reconhece que o estudo vai além ao detectar o formato
anormal das células em pessoas que sofreram o infarto. Dado que pode ser
significativo na hora de analisar exames de sangue.
Não há exames disponíveis no Brasil que possam detectar
precocemente um infarto, segundo o médico. Por isso, a melhor maneira de
manter-se longe do risco é fazer exames períodicos, se tiver casos na família,
e cuidar do corpo e da alimentação, indica ele.
"Não fumar, fazer exercícios diários, manter uma
alimentação saudável e a pressão arterial e a taxa de gordura no sangue baixas
ajudam a evitar o acúmulo de gordura nas artérias".
Nova descoberta para o AVC
Um estudo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, também divulgado nesta quarta, mostra um avanço em casos de AVC (acidente vascular cerebral). Pesquisadores da Escola de Medicina da universidade mostraram que a remoção de um conjunto de moléculas, que normalmente ajudam a regular a capacidade do cérebro para a formação e eliminação de conexões entre as células nervosas, pode ajudar consideravelmente na recuperação de um AVC até mesmo dias após o ocorrido.
O AVC, ou derrame cerebral, ocorre quando há um entupimento ou
rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro provocando a paralisia da área
cerebral que ficou sem circulação sanguínea adequada, em definição do
Ministério da Saúde.
Em experiências com ratos, os cientistas demonstraram que quando
estas moléculas não estão presentes, a capacidade dos camundongos de se
recuperar melhorou significativamente.
Estes efeitos benéficos cresceram ao longo de uma semana após o
AVC, o que sugere que, no futuro, os tratamentos, tais como as drogas
concebidas para reproduzir os efeitos em seres humanos, podem funcionar mesmo
vários dias após ocorrer um acidente vascular cerebral.
Para Corey Goodman, especialista em desenvolvimento de drogas
que envolvem biotecnologia, o resultado da pesquisa é "animador". No
entanto, ele adverte que a mesma metodologia em humanos demanda mais esforços.
"Para levar isso em testes em seres humanos você precisa de
uma molécula que pode entrar no cérebro e isso é muito específico para os tipos
de moléculas testadas".
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