Argentina adota medida de câmbio que pode afetar
Brasil
O governo
argentino decidiu nesta segunda-feira reforçar o controle de câmbio para evitar
a saída de dólares do país. A partir do dia 3 de abril, os argentinos não
poderão mais utilizar seus cartões de débito bancário no exterior para retirar
moeda estrangeira de suas contas em pesos.
Ao
viajarem para o Brasil, por exemplo, e retirar reais de suas contas em pesos,
só poderão fazê-lo se tiverem uma caderneta de poupança em dólares na
Argentina.
"A
medida vai afetar o turismo argentino no exterior porque, mesmo que as pessoas
ainda possam usar cartões de crédito, vão se sentir menos seguras, ao saber que
não contam com outras formas de pagamento", disse o economista Marcelo
Elisondo. "E comprar dólares para viajar ao exterior tornou-se muito mais
complicado", completa.
Essa é a
segunda medida de controle de câmbio adotada pelo governo argentino em menos de
cinco meses. A primeira, em outubro passado, obrigou os argentinos que queriam
comprar dólares (ou qualquer moeda estrangeira) a pedir autorização prévia à Afip,
a Receita Federal local.
Nos
bancos e nas casas de câmbio, os compradores de divisa estrangeira têm que
apresentar provas de que têm suficientes pesos declarados para realizar a
operação. Turistas que querem trocar os pesos que sobram de viagens podem
fazê-lo, desde que apresentem provas de que trocaram moeda estrangeira por
moeda local.
As
medidas, em um país que, historicamente, está acostumado a calcular preços e a
poupar em dólares, mostraram-se impopulares. Na Argentina, ao contrário do que
ocorre no Brasil, aluguéis são calculados em dólares. E quem poupa prefere
trocar pesos por dólares e guardá-los em casa do que colocá-los em uma
caderneta de poupança no banco - não importa em que moeda.
A crise
de 2001, que resultou no confisco de contas bancárias e cadernetas de poupança
e na desvalorização do peso (que, na época, valia o mesmo que o dólar), só
aumentou a desconfiança da população em relação à moeda local e aos bancos.
Para o
governo, o controle de câmbio é a única forma de impedir a fuga de capitais - a
principal preocupação depois de inflação, que, segundo estimativas de
consultorias privadas, chega a 20% ao ano. A primeira medida já deu resultados
positivos: a saída de dólares por mês baixou de US$ 2 bilhões para US$ 500
milhões. Mas, segundo Elisondo, "são mecanismos artificiais que não darão
resultados a longo prazo".
Segundo
fontes do Banco Central argentino, a nova medida simplesmente complementa a
primeira e o objetivo é obrigar os argentinos a declararem o que ganham na
Receita Federal. Tanto assim que quem tem cartão de crédito poderá continuar
utilizando-o no exterior.
Para o
economista, isso, no entanto, não é o suficiente para resolver o principal
problema do governo: manter um superávit da balança comercial de US$ 10
bilhões, em ano de crise internacional.
O Produto Interno Bruto (PIB)
argentino, que vinha registrando uma média de crescimento de 7,5% desde 2003,
deve crescer, no máximo, 3,5%, segundo economistas independentes. "E vamos
exportar menos porque, por falta de competitividade, o governo está
dificultando as importações e muitos produtos que exportamos dependem de
insumos do exterior, como o setor automotivo", conclui Elisondo.
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