Tecnologia faz crescer produção do agronegócio no Norte e
Nordeste
Agricultores em TO e BA conseguem
produzir mais do que média nacional.
Uso de GPS e softwares pode ampliar ainda mais a produção.
Em
busca de “se tornar um produtor rural de verdade”, Edmar Correa deixou a
pequena propriedade de 30 hectares em Minas Gerais e
migrou para o Tocantins há 17 anos. Hoje, ele é pioneiro na integração de
pecuária e agricultura no Brasil e, em 1100 hectares, consegue uma produção de
gado até quatro vezes maior que a média nacional.
“A oportunidade que tenho aqui eu não teria em Minas Gerais”,
diz Correa. “Com essas tecnologias, estamos conseguindo produzir bem”, diz
Correa.
Os ganhos de produtividade obtidos por produtores como Correa
contribuíram para que a agropecuária brasileira registrasse uma expansão de
3,9% em 2011, segundo dados divulgados pelo IBGE –
apesar da crise econômica mundial, que reduziu a demanda por alimentos no
exterior.
Edmar Correa é retrato do aumento da produção agropecuária na
nova fronteira agrícola do Brasil, os estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e
Bahia, apelidados de “região Mapitoba”. Eles tiveram um crescimento do PIB
entre 2000 a 2009 maior que a média nacional, e sua produção agropecuária deve
aumentar 50% nos próximos dez anos, segundo o Ministério
da Agricultura. Já no Brasil, a projeção é de um crescimento de 21% -- menos
da metade.
De
acordo com José Gasques, coordenador de Gestão Estratégica do Ministério da
Agricultura, a aplicação de tecnologias tem provocado o avanço na produção
agropecuária da região do Mapitoba. “Nessas áreas novas [de expansão da
agropecuária], a tecnologia é mais avançada que nas áreas tradicionais”,
afirma.
“Assim, é possível produzir lavouras anuais em áreas em que
chove menos e em que antes só havia pastagem”, complementa André Nassar,
coordenador da RedeAgro, formada por instituições e empresas do setor
agropecuário.
Agricultura
de precisão
A aplicação de tecnologia de ponta não é homogênea na região, pondera o pesquisador do Ipea, José Eustáquio Vieira Filho. Produtores que detêm alto nível tecnológico convivem com agricultores que usam técnicas muito simples. Já em regiões de agropecuária tradicional, como o Sudeste e o Sul, essa lacuna não é tão grande.
Uma das tecnologias de ponta com alto potencial de crescimento é
a chamada “agricultura de precisão”, que usa tecnologias da informação, como
GPS e softwares, para determinar os procedimentos necessários em uma porção
específica da lavoura. Assim, a quantidade de fertilizante, por exemplo, varia
de acordo com a qualidade do solo em cada área da propriedade.
Em Pernambuco,
estudos da EMBRAPA Semiárido já
mostraram que é possível reduzir custos da irrigação com o uso de equipamentos
e softwares. Em uma fazenda de uva em Petrolina, os pesquisadores da empresa
usaram agricultura de precisão para detectar áreas que armazenavam mais água e
que precisavam de menos irrigação. Assim, os custos são reduzidos e a
produtividade aumenta.
“O risco climático é relativamente elevado na região [do
Mapitoba] e a agricultura de precisão pode reduzir períodos de plantio e
colheita”, aumentando a produtividade, afirma Gasques.
Integração
pasto lavoura
Os bons resultados do produtor Edmar Correa, em Pedro Afonso (TO), foram obtidos através da técnica de integração pecuária e agricultura. Ele planta soja em 75% da propriedade e deixa os 25% restantes para pastagens. Todos os anos, os pastos são deslocados para áreas de soja, que recebiam fertilizantes, em um processo de rotação.
Desse modo, o capim é mais produtivo e Correa consegue obter até
1.800 kg de gado por hectare. Na pecuária tradicional, gira em torno de 400 kg.
“Nós consideramos o capim como lavoura. Precisamos cuidar dele como cuidamos da
soja, do milho”, diz ele.
Os ganhos de rendimento e produtividade não poderiam ser obtidos
apenas com a adubação do capim, justifica o produtor, já que o processo seria
muito caro. Já com a combinação com a soja, os gastos com tecnologia valem à
pena. Outra tecnologia usada é a rotação dentro do próprio pasto, que fica
cerca de um mês descansando depois de receber o rebanho.
De acordo o coordenador de desenvolvimento animal Secretaria de
Agricultura de Tocantins, a produção de gado do estado entrou em um novo
patamar com a migração de agricultores do Sul e Sudeste e a aplicação de
tecnologias de integração pasto e lavoura.
“O Tocantins é tradicionalmente um estado pecuarista, mas os
produtores não tinham tradição de recuperar as pastagens degradadas. A
agricultura ajuda nesse processo, até porque os agricultores já têm
maquinário”, afirma.
O oeste da Bahia é outro exemplo. Enquanto a média da produção de soja nacional foi de 52 sacas por hectares, na região o valor chegou a 56 – maior que o de produtores tradicionais, como Mato Grosso (53), Mato Grosso do Sul (48) e Paraná (55), segundo a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia. Antonio Grespan, que migrou do Paraná para Barreiras (BA) há 22 anos, obteve resultados ainda melhores: 66 sacas por hectare.
O
segredo do sucesso, segundo Grespan, é a junção de práticas e tecnologias que
tornam o cerrado do oeste baiano fértil e competitivo. “O diferencial de
produtividade se deve à tecnologia que foi gerada e a cultivares mais
produtivas. Aqui, o produtor não sobrevive com baixa tecnologia. No Paraná, por
exemplo, regiões agrícolas foram abertas com baixa tecnologia, porque a região
é muito fértil”, compara.
Para tornar a área fértil, Grespan realizou correção do perfil
do solo, aplicando calcário até 40 cm de profundidade e usando a tecnologia de
gessagem (uso de gesso). “O cerrado é um ambiente de solo naturalmente muito
pobre, que se torna apto com a correção do perfil”, explica.
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