QUANTAS ESPÉCIES EXISTEM NO PLANETA?
Em 2009, cientistas descobriram 200 novas espécies em Papua Nova Guiné. Considerada pelos cientistas a espécie mais bonita localizada, o gafanhoto de olhos rosa vive nas árvores mais altas da floresta
Nos morros da Cordilheira dos Andes,
vive um morcego do tamanho de uma framboesa. Em Cingapura, há um verme
nematoide que habita apenas os pulmões de um inconstante lagarto. O morcego e o
verme têm algo em comum: ambos são novos para a ciência. Cada um recebeu
recentemente seu nome científico oficial: Myotis diminutus para
o morcego eRhabdias singaporensis para o verme.
Essas certamente não são as últimas
espécies que os cientistas descobrirão. Todo ano, pesquisadores relatam mais de
15 mil novas espécies e sua carga de trabalho não mostra sinais de que vá
parar. "Pergunte a qualquer taxonomista em um museu e eles dirão que há
centenas de espécies esperando descrição", diz Camilo Mora, ecologista
marinho na Universidade do Havaí.
Cientistas nomearam e catalogaram 1,3
milhão de espécies. Quantas espécies mais existem para serem descobertas é uma
pergunta que paira como uma nuvem sobre a cabeça de taxonomistas por dois
séculos. "É impressionante que não saibamos a coisa mais simples sobre a
vida", disse Boris Worm, biólogo marinho na Universidade Dalhousie em Nova
Escócia.
Em agosto, Worm, Mora e seus colegas
apresentaram a última estimativa de quantas espécies existem, baseada em um
novo método que desenvolveram. Eles estimam que haja 8,7 milhões de espécies no
planeta, variando 1,3 milhão para mais ou para menos.
O novo artigo, publicado na revista PLoS Biology, está provocando fortes reações de outros
especialistas. "Na minha opinião, é um artigo muito importante",
disse Angela Brandt, bióloga marinha na Universidade de Hamburgo, na Alemanha.
Porém, críticos dizem que o método do novo artigo não funciona e que a
diversidade real da Terra é muito maior.
Em 1833, um entomólogo britânico
chamado John Obadiah Westwood fez a primeira estimativa conhecida de
biodiversidade global, adivinhando quantas espécies de insetos havia. Ele
estimou quantas espécies de insetos vivam em cada espécie de planta na
Inglaterra, e então extrapolou esse número para todo o planeta. "Se
dissermos 400 mil, devemos, talvez, não estar muito longe da verdade", ele
escreveu.
Atualmente cientistas sabem que o
número de Westwood é muito baixo. Eles já descobriram mais de 1 milhão de
espécies de insetos e seu índice de descobertas não mostra sinais de
desaceleração.
Em décadas recentes, os pesquisadores
procuraram caminhos melhores para determinar quantas espécies faltam para serem
descobertas. Em 1988. Robert May, biólogo evolucionista da Universidade de
Oxford, observou que a diversidade de animais terrestres aumenta quanto menores
eles se tornam. Ele concluiu que nós provavelmente já descobrimos a maioria das
espécies de animais grandes, como mamíferos e aves, e então usou sua
diversidade para calcular a diversidade de animais menores. Ele acabou com uma
estimativa de 10 a 50 milhões de espécies de animais terrestres.
Outras estimativas iam de 3 milhões
até 100 milhões. Mora e seus colegas acreditaram que todas essas estimativas
eram falhas de uma forma ou de outra. Ainda mais sério é o fato de que não
havia forma de validar os métodos utilizados para ter certeza sobre sua
confiabilidade.
Para a nova estimativa, os cientistas
apareceram com um método próprio, baseado em como os taxonomistas classificam
as espécies. Cada espécie pertence a um grupo maior, chamado gênero, que
pertence a outro grupo maior, chamado família, e por aí vai. Humanos, por
exemplo, pertencem à classe dos mamíferos, junto a aproximadamente 5.500 outras
espécies.
Em 2002, pesquisadores na
Universidade de Roma publicaram um artigo no qual usaram esses grupos maiores
para estimar a diversidade das plantas na Itália. Em três diferentes lugares,
eles marcaram o número de gêneros, famílias etc. Havia menos grupos de alto
nível do que de baixo nível em cada lugar, assim como as camadas de uma
pirâmide. Os cientistas puderam estimar quantas espécies havia em cada lugar,
assim como é possível estimar o tamanho da base de uma pirâmide baseando-se no
resto dela.
O artigo chamou pouca atenção na
época, porém Mora e seus colegas se apropriaram dele, esperando usar o método
para estimar todas as espécies da Terra. Eles mapearam a descoberta de novas
classes de animais desde 1750. O número total subiu abruptamente nos primeiros
150 anos e depois começou a se estabilizar - um sinal de que estávamos perto de
descobrir todas as classes de animais. Eles descobriram que o índice de
descobertas de outros grupos de alto nível também veio diminuindo. Os
cientistas construíram uma pirâmide taxonômica para estimar o número total de
espécies em grupos bem estudados, como mamíferos e aves. Eles realmente fizeram
boas previsões.
Confiantes com seu método, os
cientistas então o usaram em todos os grupos maiores de espécies, chegando à
estimativa de 7,7 milhões de espécies de animais, por exemplo, e 298 mil
espécies de plantas. Apesar de a terra seca cobrir apenas 29% da superfície do
planeta, os cientistas concluíram que é lar de 86% das espécies do mundo.
"Acredito que seja uma nova
abordagem interessante e imaginativa para a importante questão do número de
espécies que de fato vivem na Terra hoje", disse May. Contudo, Terry
Erwin, entomólogo no Instituto Smithsoniano, diz que há uma grande falha no estudo.
Não há razão para afirmar que a diversidade em grupos pouco estudados seguirá a
regra daqueles bem estudados. "Eles estão medindo a atividade humana, não
a biodiversidade", disse.
David Pollock, biólogo evolucionista
na Universidade do Colorado que estuda fungos - um grupo particularmente pouco
estudado - concorda. "Isto parece ser uma abordagem incrivelmente pouco
fundada", disse. Existem 43.271 espécies catalogadas de fungos mas,
baseado no que Mora e seus colegas estimam, existem 660 mil espécies de fungos
na Terra. Porém, outros estudos sobre a diversidade de fungos sugerem que o
número possa chegar a 5,1 milhões de espécies.
Os autores no novo estudo admitem que
seu método não funciona bem com bactérias. Cientistas acabaram de começar a
investigar mais aprofundadamente a biodiversidade de micróbios, o que significa
que estão descobrindo grupos de alto nível de bactérias em ritmo acelerado.
Mora e seus colegas escrevem que sua estimativa - cerda de 10 mil espécies -
deveria ser considerada um "limite inferior".
Microbiologistas, por outro lado,
estão razoavelmente certos de que a diversidade de micróbios fará a diversidade
de animais parecer pequena. Uma só porção de terra pode conter 10 mil espécies
diferentes de bactérias, muitas das quais são novas para a ciência.
Jonathan Eisen, especialista em
biodiversidade microbial da Universidade da Califórnia, Davis, disse que achou
o novo artigo decepcionante. "É como dizer que dinossauros andavam pela
Terra há mais de 500 anos", disse. "Por mais que seja verdade, pra
que dizer isso?".
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