SAIBA MAIS-A Rio+20 acabou; e agora?
RIO DE JANEIRO, 22 Jun (Reuters) - Terminou na
sexta-feira a Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, conhecida
como Rio+20, com um acordo que adia a implementação de muitas propostas
voltadas para a proteção de recursos naturais ameaçados pela mudança climática
e a globalização, o que deixou muitos participantes se perguntando: "E
agora?".
Cerca de 100 chefes de Estado e governo se
reuniram nos últimos três dias no Rio para tentar estabelecer "objetivos
de desenvolvimento sustentável", uma iniciativa da ONU construída em torno
do crescimento econômico, da preservação ambiental e da inclusão social.
Embora alguns governos tenham ficado
razoavelmente satisfeitos com o documento final da cúpula, outros se mostraram
frustrados e até irritados com uma suposta falta de ambição e urgência no
combate a problemas decorrentes do aumento do consumo, da população e da
industrialização.
A seguir, perguntas e respostas sobre o que
pode acontecer após a Rio+20:
PARA ONDE A RIO+20 DEVERIA LEVAR?
O objetivo da cúpula era definir formas de
promover um crescimento econômico que garanta a todas as pessoas do mundo
acesso sustentável à alimentação, energia e água, sem prejudicar ainda mais o
ambiente.
Os governos expressaram aval a uma adoção
universal da "economia verde", o que implica uma transformação das
práticas tradicionais de consumo e produção.
A esperança é de que empresas alterem seus
métodos, e que indivíduos revejam seu estilo de vida.
Aqueles que apoiam do plano disseram que, em
parte graças às discussões da Rio+20, os balanços corporativos e governamentais
poderão dentro de uma década passar a refletir lucros e prejuízos ambientais.
Mas alcançar metas mais amplas não será algo
possível da noite para o dia. "A economia verde não é uma grande explosão,
é uma transição", disse Donald Kaberuka, do Banco Africano de
Desenvolvimento (AfDB). "Alguns dizem que levará até 50 anos. O Rio não
era para ser o final do processo, e sim o começo da jornada."
QUANDO COMEÇARÁ A IMPLANTAÇÃO?
O trabalho prático em cima do documento
aprovado na Rio+20 começará imediatamente, disse na sexta-feira a ministra
brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. "Temos métodos e prazos a
serem cumpridos até completarmos o processo, que serão consolidados em 2014 ou
2015", disse ela.
O comissário (ministro) europeu do Meio
Ambiente, Janez Potocnik, foi mais pragmático. "Precisamos dormir em cima
dele e ver (o texto) com menos emoções, e então teremos de focar concretamente
no processo após o Rio", afirmou ele à Reuters.
QUAIS PRAZOS PRECISARÃO SER CUMPRIDOS?
Os objetivos do desenvolvimento sustentável
(ODSs) deverão ser estabelecidos no máximo até o final de 2014, para que possam
complementar um conjunto revisto das chamadas "metas de desenvolvimento do
milênio", voltadas para o combate à pobreza. As atuais "metas do
milênio" foram estabelecidas antes do ano 2000, e expiram em 2015.
Funcionários da ONU precisarão trabalhar para
evitar sobreposições excessivas entre os dois conjuntos de metas de
desenvolvimento.
"Antes de começarmos a avançar para as
metas universais, há um assunto ainda inconcluso com as metas do milênio, que
precisam ser resolvidas antes de 2015. A discussão agora é a respeito da agenda
pós-2015. Essa conversação será muito importante", disse Kaberuka, do
AfDB.
Um grupo de trabalho com representantes de 30
países -seis de cada continente- irá preparar a definição dos ODSs e
apresentará em setembro de 2013 um estudo à Assembleia Geral da ONU.
O trabalho na identificação das necessidades
financeiras para o desenvolvimento sustentável e de formas para arrecadar esses
valores deverá ser concluído até uma reunião da ONU em setembro de 2014.
Já o trabalho a respeito de algumas outras
questões irá demorar mais, e datas como 2020 e 2025 são especificadas no
documento final da reunião.
COMO O TRABALHO SERÁ ORGANIZADO?
Grupos de trabalho serão nomeados para
trabalhar a respeito de algumas áreas, como ODSs ou proteção dos oceanos.
Potocnik disse que havia uma proposta, que
ele batizou de "amigos dos parágrafos", para que grupos de países
desenvolvam determinados tópicos que lhes interessem especialmente. Organismos
internacionais também poderiam desempenhar um papel nos preparativos para a
implementação, disse ele, sem especificar quais organismos poderiam ser
envolvidos.
HAVERÁ UMA RIO+30 OU RIO+40?
Um prosseguimento da cúpula Rio+20 na mesma
escala ainda não foi marcado para daqui a 10 ou 20 anos, mas muitos
observadores da cúpula disseram que os progressos acerca de algumas questões
previstas no acordo de sexta-feira precisam ser mensurados.
Alguns dos prazos no documento da Rio+20 são
tão distantes que talvez as medidas sejam implementadas quando já será tarde
demais para evitar os piores impactos da mudança climática e da globalização,
dizem críticos.
"Não temos 20 anos, nem 10", disse
Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace Internacional. "A história
nos diz que pouca coisa irá acontecer em termos reais, e definitivamente não na
escala temporal de urgência que a ciência climática nos diz que é necessária",
acrescentou.
O QUE PODE SER FEITO ALÉM DO ACORDO DA
RIO+20?
Uma série de badaladas cúpulas globais para
questões ambientais até agora ficou aquém das expectativas, desde pelo menos
2009, quando uma reunião da ONU em Copenhague terminou de forma quase caótica.
Como resultado, muitos ecologistas, ativistas
e líderes empresariais acreditam que o progresso nas questões ambientais
precisa ser feito localmente com o setor privado, sem contar com a ajuda de
acordos internacionais.
"Sempre acreditamos que a ação mais
inovadora da Rio+20 seria fora do processo formal", disse Manish Bapna,
presidente em exercício do Instituto Mundial dos Recursos.
Paralelamente à cúpula, empresas e governos
locais lançaram vários projetos e compromissos. Na quarta-feira, oito bancos
multilaterais de fomento prometeram 175 bilhões de dólares ao longo de dez anos
para o apoio ao transporte sustentável no mundo todo.
Nesta semana, o prefeito de Nova York,
Michael Bloomberg, e colegas dele do mundo todo se dispuseram a demonstrar como
as cidades podem realizar progressos mesmo que um acordo multinacional não seja
possível.
"Talvez a parte mais importante do
trabalho que está acontecendo aqui seja naqueles que costumavam ser
considerados eventos paralelos -as parcerias entre o setor privado, a academia,
as ONGs, os governos locais e os governos de nível estadual", disse Lisa
Jackson, chefe da Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
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