por Francisco Petros e José Marcio Mendonça
Agora a Espanha -
I
O conservador
Partido Popular ascendeu à chefia do governo espanhol com a sua tradicional
pregação pró-mercado. Encantou a maioria do eleitorado, incluso o mais jovem,
com o ideário genérico da "austeridade". A mesma pregação da alemã
Angela Merkel, a mulher sem graça que tenta incorporar o espírito de Thatcher,
a dama de ferro. Pois bem : depois de cerca de seis meses de governo, Mariano
Rajoy teve de pedir a bagatela de 100 bi de euros para que o sistema financeiro
do país não quebrasse. Ressalta-se que este pacote assiste tão somente aos
problemas financeiros e nada se destina à tragédia do desemprego galopante de
cerca de 25% da força de trabalho (mais de 50% entre os jovens até 30 anos).
Ademais, esta é a segunda intervenção do sistema monetário europeu nos bancos
do país - grande parte da injeção de recursos por parte dos maiores BCs do
mundo ao final do ano passado foi parar nas mãos dos espanhóis.
Agora a Espanha -
II
O ideário
pretensamente liberal de Mariano Rajoy era uma farsa, isso até os ossos de Lord
Keynes já sabiam. Afinal, o tal do "mercado" é uma ficção ideológica
cada vez mais sem lugar no cotidiano. O mais incrível é que a bolha imobiliária
que causou este processo foi engendrada pelos conservadores espanhóis, agora
socorridos pelo sistema europeu. A austeridade caberá, sobretudo, ao povo
espanhol que terá de despejar suas moedas na sacola estatal que viabiliza tudo
isso. A Espanha se junta, assim, ao seleto grupo da Europa meridional, composto
por Portugal e Grécia e, do outro lado, os desesperançados irlandeses que
votaram, há dois fins de semana, na austeridade da senhora Merkel. Ainda falta
a solução da Itália, esta mais vigorosa para se sustentar no curto prazo, mas
igualmente carente de crescimento.
Agora a Espanha -
III
Poderemos ter um
pouco de calma nos próximos dias. Todavia, em breve, os helênicos voltarão a
votar (no próximo dia 17) e a fragmentação política do país gerará mais tensão
ao Velho Continente. É quase certa a vitória do Syriza, contrário ao acordo,
muito embora seja possível uma coalizão (intrigante) entre o Socialista Pasok e
o conservador Nea Democratia. De todo modo, a pequena Grécia caminha para sua
saída do euro. Será ao mesmo tempo uma tragédia (sem trocadilhos) e uma
esperança. Quem viver, verá. Afora isso, pode-se afirmar que não há nenhuma
possibilidade concreta de que possa se reverter o dramático quadro social de
toda a Europa. A política de austeridade de Merkel persiste levando o
Continente para a beira do precipício. Enquanto, não se adotar um receituário
expansionista do ponto de vista monetário e fiscal, o destino da Europa está
mais para a depressão econômica que a simples recessão. Em tempos de Eurocopa,
melhor torcer contra a política econômica da Alemanha. Não apenas nos gramados.
E o FMI, quem
diria !
Da Christine
Lagarde, diretora-gerente do FMI, um dia antes do Comissariado Europeu decidir
despejar até 100 bi para resgatar os bancos da Espanha :
"As autoridades políticas tem de deixar os
mercados com suas ações em lugar de permitir que os medos do mercado guiem suas
políticas."
A Espanha pediu e a União Europeia agiu por puro
medo do mercado.
CPI : o barulho e
o tsunami
Os depoimentos dos
governadores Marconi Perillo (PSDB/GO) e Agnelo Queiroz (PT/DF), hoje e amanhã
na CPI Cachoeira-Delta, vão fazer uma barulheira política, com os petistas
tentando comprometer os tucanos e vice-versa. Porém, será um barulho muito mais
eleitoreiro do que tudo, até porque o Congresso não pode fazer nada com os
dois, se seus desvios suspeitos forem comprovados. Eles só podem ser cassados
pelas respectivas Assembleias Legislativas nos Estados (Câmara Distrital em
Brasília) ou depois de longo processo no Supremo. Barulho de verdade, tsunami
mesmo, virá quando a Comissão, inevitavelmente, mergulhar nos negócios da
Delta. As últimas informações do Coafi enviadas à CPI são, segundo pessoas que
manejaram os documentos, de tirar o sono de muita gente, multipartidariamente.
Rindo sozinho. Até
quando ?
Com o PSDB e o PT
em guerra esta semana na CPI Cachoeira-Delta, enrolados hoje no depoimento do
governador Marconi Perillo, tucano de GO, e amanhã no de Agnelo Queiroz,
petista do DF, o PMDB está uma felicidade só. Em parte ele armou esta confusão
para os dois concorrentes mais perigosos do PMDB nas eleições municipais :
uniu-se aos tucanos para chamar o depoimento de Agnelo e aos petistas para
convocar Perillo. Esta alegria pode durar pouco : petistas e tucanos preparam o
troco para trazer Sérgio Cabral à CPI quando a empreiteira Delta entrar na
berlinda de fato e de direito. Nessa hora, não haverá amizade do governador
fluminense com o ex-presidente Lula e com o senador Aécio Neves. A vingança de
petistas e tucanos será comida crua mesmo.
PT : de nau sem rumo
a nau com novo rumo ?
O raciocínio que
se segue é de um petista de escol, de bem com o partido e de bem com a vida,
mas que, por motivos óbvios, não quer (ainda) se identificar para não cair na
roda da inquisição dos companheiros mais intolerantes. Entende o interlocutor
que seria útil ao PT passar por alguns "sustos" nas eleições
municipais deste ano, com derrotas em cidades consideradas "chaves"
para a legenda, para que os petistas revejam suas políticas dos últimos anos e
retome o leito perdido quando se rendeu totalmente à realpolitik nacional.
Parafraseando Delúbio Soares em uma reunião do PT, que discutia botar na
internet as contas do partido, o interlocutor diz que "concessões como
estão sendo feitas, alianças como estão sendo praticadas, é burrice
demais". Ele lembra que a militância petista tradicional já não tem o
entusiasmo de sempre - há apenas uns poucos remanescentes dos bons tempos nas
ruas, a burocracia do partido e muitos assalariados temporários. Para encher
convenções é preciso patrocinar alguma coisa. O partido está cada vez mais
dependente do ex-presidente Lula. E, com todo respeito, diz, Lula não é eterno
nem eternamente infalível em suas projeções políticas. Por fim, mesmo sendo
paulista e paulistano, acredita que seria útil que o PT ficasse menos atrelado
às coisas de SP.
O mensalão em foco
- I
A entrevista do
ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, advogado de um dos réus do processo e autor
da tese de que o mensalão não passou de um jogo de "recursos
não-contabilizados", a um programa de televisão no fim de semana em SP,
revela a surpresa que tomou conta de suspeitos e de suas equipes de defensores
com os rumos que o processo tomou nos últimos tempos no STF. Os sinais, vindos
de vários causídicos de acusados das estripulias mensaleiras, era de que eles
esperavam - ou será que tinham ilusória certeza - que o julgamento seria
postergado para o ano que vem. Por obra e graça de algum "espírito"
desconhecido, dava-se como certo de que nada ocorreria neste ano. Talvez por
que estivessem tão crentes, tão confiantes nesta possibilidade, é que tenham
colocado as chamadas "manguinhas de fora". E a situação, que parecia
segura, se inverteu.
O mensalão em foco
- II
O STF encheu-se de
brio. Não foi por pressões da opinião pública, pois esta ainda não entrou no
clima do jogo, e nem por culpa da sempre culpada imprensa, que não tem a
influência que se lhe atribui quando as coisas imaginadas pelos estrategistas
políticos não dão certo. Foi muito mais por causa das provocações e o ar de
superioridade exibido sem certo pudor pelos defensores e amigos dos acusados.
Pode-se ter certeza de que o movimento da CPI Cachoeira-Delta e o encontro
Lula-Gilmar Mendes (via Nélson Jobim) foram decisivos para a decisão do STF de
tentar encerrar o processo até setembro. Qualquer movimento parecido com essas
duas desastradas ações só pode aumentar os brios do Supremo e prejudicar, ainda
mais, a defesa dos réus.
É uma questão de
matemática
O governo não
admite publicamente que reduzirá, como permitido pela lei de Diretrizes
Orçamentárias, a meta de superávit primário deste ano, abatendo do total parte
dos investimentos do PAC. Vai deixar simplesmente que ocorra. Avisar antes pode
aumentar as desconfianças dos agentes econômicos externos e obrigar o BC a
continuar justificando a baixa contínua da Selic. A ordem é acelerar os
investimentos públicos - e como a arrecadação não está subindo no ritmo
previsto nem as despesas correntes estão de fatos contidas, não dá para
investir num ritmo maior do que foi feito até o fim de maio e, ao mesmo tempo,
ficar com o superávit cheio de 3,1% do PIB. Até os milagres têm limite. É uma
questão de matemática.
Os planos de
aceleração dos investimentos - I
Da lista de
medidas que se especulava em Brasília a serem possivelmente adotadas pelo
governo para, de sua parte, acelerar a retomada de um ritmo mais acelerado de
crescimento da economia nacional, duas já saíram do papel semana passada - a
CEF reduziu os juros e ampliou o prazo para financiamentos da casa própria e o
BNDES cortou os juros de empréstimos para capital de giro das empresas.
Os planos de
aceleração dos investimentos - II
E novas
providências foram incluídas no rol das medidas em estudo :
1.
O aumento da capacidade de endividamento dos Estados e municípios.
2.
Criar um RDC para compra de equipamentos para as áreas de saúde e educação.
3.
Aumentar o limite de refinanciamento de dívidas bancárias com incentivo
tributário de R$ 30 para R$ 100 mil.
4.
Mudar artigo da lei de Responsabilidade Fiscal para tirar exigências de
contrapartidas - novos impostos, aumentos de alíquotas - para concessão de
incentivos fiscais.
5.
Estabelecer juros mais baixos e regras mais generosas para financiamentos
agrícolas.
6.
Dar maior prazo para as empresas recolherem impostos federais.
7. Ampliar e
antecipar as compras governamentais, com preferência para empresas nacionais
com diferença de preço até 25%.
Como Dilma está
"no pé" de seus ministros, com cobranças diárias, o pacote deve ser
acelerado esta semana.
Cair na realidade
Do economista José
Roberto Mendonça de Barros, em artigo no "Estadão" de domingo :
"É impossível não ver que temos aqui um
problema muito maior do que uma flutuação conjuntural e que é hora de parar com
avaliações triunfalistas ou a denúncia de conspirações internacionais. Num
mundo que vai crescer menos, a disputa vai se elevar, e o que vai falar mais
alto é a capacidade de competição de cada país."
Efeito dominó ?
Sem ver riscos de
uma "crise sistêmica" no setor bancário brasileiro, alguns analistas
dizem que o Banco Cruzeiro do Sul não vai fechar agora a lista de instituições
financeiras brasileiras em dificuldades, sob intervenção ou vendidas à força, numa
lista que inclui, entre outras, o Banco Panamericano, o Banco Schahin, Matone,
Morada... Para esses analistas, na conformação atual do sistema financeiro do
Brasil, os pequenos bancos vão se tornando inviáveis. Uma das preocupações da
presidente Dilma é evitar a concentração bancária no Brasil.
Radar NA REAL
8/6/12
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TENDÊNCIA
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Cotação
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Curto prazo
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Médio Prazo
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Juros ¹
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- Pré-fixados
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NA
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- Pós-Fixados
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NA
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baixa
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Câmbio ²
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- EURO
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1,2534
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baixa
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baixa
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- REAL
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2,0329
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baixa
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estável/baixa
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Mercado Acionário
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- Ibovespa
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54.429,85
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estável/baixa
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estável
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- S&P 500
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1.325,66
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estável
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alta
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- NASDAQ
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2.858,42
|
estável
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alta
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(1) Títulos públicos e privados
com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
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