quarta-feira, 13 de junho de 2012

A NATUREZA COBRA NA HORA EXATA


“Nordeste vai ser o mais atingido por mudanças climáticas”, diz especialista da Embrapa


O aquecimento global já afeta a agricultura brasileira. Noites mais quentes prejudicam o milho e o algodão. Quedas repentinas de temperatura impedem a floração do café. A redução da oferta de água tira a produtividade da soja.

Os efeitos do aquecimento global já podem ser sentidos no Brasil. Os resultados de uma pesquisa inédita da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que comprova o impacto na produtividade da nossa agricultura.
A natureza está em fúria com chuvas extremas, secas longas, o mar subindo e o solo virando deserto. Os cientistas mediram, discutiram e provaram: o clima está mudando e a humanidade precisa se proteger e evitar o pior. Que riscos o Brasil corre? É o que fomos perguntar na Embrapa Informática em Campinas que, com dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) montou um centro de tecnologia de informação sobre mudanças climáticas. O alerta não pode ser ignorado.
“O Brasil é um país vulnerável, e essa vulnerabilidade começa exatamente na região costeira. Você caminha um pouco para o interior e a agricultura também tem a sua vulnerabilidade e também as cidades. No meu entendimento, a região nordestina, do semiárido nordestino, é a que mais vai ser atingida”, afirma Eduardo Assad, agro climatologista da Embrapa.
Um estudo da Embrapa mostrou que no Centro-Oeste, por exemplo, nos últimos 70 anos, o volume máximo de chuva diária subiu de 120 milímetros para 200 milímetros. E o aquecimento do planeta? Eles compararam a temperatura do pior cenário imaginado pelos cientistas com o que realmente aconteceu. E houve mais calor do que o previsto. A conclusão é de que as mudanças climáticas já afetam o Brasil.
Noites mais quentes prejudicam o milho e o algodão. Quedas repentinas de temperatura impedem a floração do café. A redução da oferta de água tira a produtividade da soja.
O Brasil está perdendo árvores como a sumaúma. As pessoas contam que ela retém a água no período da cheia e libera no período da seca. Nós não podemos abrir mão delas, porque o futuro do planeta terá menos água.
A árvore está no meio da Amazônia. Parece longe dos centros urbanos, mas são as nuvens formadas na região Norte que garantem as chuvas no Sudeste.
Fomos à parte mais verde da maior cidade do Brasil, São Paulo. A proteção do patrimônio natural é uma questão dos grandes centos urbanos e da floresta, de São Paulo e da Amazônia.
Quem vive na cidade está preocupado com o engarrafamento, com o preço dos alimentos. Quem produz no campo, quer sol e água, no tempo certo. Mas tudo está ligado. Os gases de efeito estufa emitidos nas cidades e no campo pioram a vida urbana, aumentam o risco da agricultura. E as sementes da solução podem estar sendo destruídas.
“Com o cerrado do jeito que está, nós podemos produzir muito e precisamos investigar as plantas que estão ali. São 12 mil espécies que nós não conhecemos e que têm um valor inestimável para fitoterápicos, para soluções de alimentação, para biossoluções”, diz Assad.
A Sinop nasceu nos anos 70, quando o governo distribuiu grandes áreas de terra para empresas, para forçar a ocupação da Amazônia. Sinop é uma sigla que quer dizer Sociedade Imobiliária do Noroeste Paranaense e fica no Mato Grosso. É uma área de transição entre cerrado e Amazônia, entre pecuária, agricultura e floresta, entre velhas e boas práticas.
Naquela época, a lógica era derrubar tudo. Árvore no chão é que era riqueza. Muita gente ainda pensa assim.
Fomos ao pátio de apreensões do Ibama na Sinop. Nos primeiros meses deste ano, foram R$ 78 milhões em multas. Foram 125 autos de infração, 7 mil hectares de terras embargadas, e 41 tratores apreendidos.
Um trator é adaptado para o desmatamento. Ele tem garras que arrastam os troncos das árvores que eles acham que têm maior valor comercial. Tratores que deveriam ser usados na agricultura são usados para o desmatamento. Eles têm estas lâminas que derrubam as árvores também de maior valor comercial. Ao fim, é colocado o correntão. Com dois tratores e o correntão, as árvores são derrubadas. Depois de tudo, o fogo e a destruição.
No momento em que nós visitávamos Sinop, o Ibama fez o maior flagrante de desmatamento do ano na região. Foram 500 hectares com uso do correntão. O Ibama de Sinop tem que cobrir 30 municípios. E, por isso, atua com metas.
“A estratégia é descapitalizar o potencial infrator. Nós vamos retirar o equipamento dele. E se ele ainda persistir, nós vamos retirar o grão que ele produzir”, explica Evandro Selva, gerente do Ibama / Sinop.
O Bom Dia Brasil ligou para o dono das terras. Ele disse que estava refazendo o pasto: "Talvez eu tenha feito errado de não ter buscado uma licença de limpeza de pastagem. Acho que foi o meu grande erro. Eu não sabia que tinha que ter a necessidade de arrumar uma licença dessas, entendeu?”
Há uma outra ameaça. Ela ronda os mares. O economista Jose Eli da Veiga alerta. O uso excessivo de produtos químicos na agricultura mata a vida nos oceanos.
“Para produzir alimentos em grande escala e alimentar a enorme população crescente no mundo usamos fertilizantes nitrogenados que, em excesso, entra na terra e chega aos mares. Nós estamos matando os mares e os oceanos são mais importantes para a estabilidade da vida na terra que as florestas”, explica José Eli da Veiga.
Estamos todos juntos no mesmo planeta. Estamos todos correndo os mesmos riscos. Conflitos entre países ricos e pobres. Agricultura e meio ambiente. Cidade e campo. Não fazem sentido.
Quando o clima muda, a agricultura perde.
As plantas da caatinga, do cerrado, da Amazônia, têm segredos que ajudarão a produzir alimentos em tempos difíceis.
A vida precisa ser protegida nas florestas, nas cidades, nos oceanos. Vinte anos depois, o mundo volta ao Rio de Janeiro com velhos medos e uma nova esperança.
Bem vindo planeta Terra. Boa sorte a todos nós.

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