Delta não honra compromissos mas continua recebendo
da União
RIO - Se por um lado a Delta Construções deixa de pagar seus
ex-funcionários, a empresa não tem do que reclamar no que diz respeito aos
pagamentos do governo federal. Só este ano a construtora embolsou quase R$ 240
milhões, sendo que no mês de maio, quando sofreu a quebra de sigilo bancário em
todo o país, o total recebido foi de R$ 55,2 milhões, sendo que a maior parte
veio dos cofres do Ministério dos Transportes. Em junho, apenas nos dois
primeiros dias, os repasses já haviam chegado a R$ 8 milhões.
No Rio de Janeiro, cerca de 800 ex-funcionários foram demitidos em
maio das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em
Itaboraí. Eles reclamam que até agora não receberam o pagamento relativo à
rescisão e que sequer podem dar entrada no FGTS ou no seguro-desemprego. Isso
porque o consórcio não deu baixa na carteira de trabalho de nenhum deles e a
documentação encontra-se toda bloqueada.
Por ora, um grupo de ex-funcionários do consórcio vem se
mobilizando nas redes sociais e estão recolhendo documentos para dar entrada na
Justiça na tentativa de resolver a situação. Contam apenas com a ajuda do
sindicato, que tenta negociar uma solução para o impasse que, além da Delta,
envolve a Petrobras.
Recentemente a empresa enviou nota à imprensa confirmando que
possui muitos "ativos patrimoniais a receber", e que obteve grande
parte desses pagamentos em restos a pagar. Conforme números divulgados pelo
site Contas Abertas, foram quase R$ 229 milhões desembolsados pelo governo
federal para quitar despesas contraídas em anos anteriores com a Delta, o que
representa 95,8% do total recebido em 2012.
Na última segunda-feira a construtora entrou com pedido de
recuperação judicial, a antiga concordata, medida tomada para evitar a falência
e apresentar formas de quitação das dívidas. Caso a decisão da Justiça seja
favorável, suspenderá, por seis meses, todas as execuções judiciais contra o
grupo. O pedido judicial foi feito após a saída da holding J&F, que há um
mês assumira a gestão da empresa.
Enquanto a União não bloqueia os pagamentos à Delta, começam a
surgir em algumas instituições públicas dúvidas na hora de honrar ou não os
contratos com a empresa. O governo do Amazonas, que tem quatro contratos com a
Delta para a locação de 518 viaturas policiais de diferentes modelos no valor
de R$ 143,8 milhões, não fez pagamento algum até o momento, embora já existam
nove empenhos que somam R$ 32,9 milhões.
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