por Francisco Petros e José Marcio Mendonça
Francisco Petros
Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira. Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000/02).
José Marcio Mendonça
Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde". Editou o Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP)
A Grécia votou
Não se pode dizer
que os gregos deixaram de votar pensando em ficar na chamada
"eurolândia". Afinal de contas, a Nea Democratia é o partido que
incorpora a visão mais eurocentrista dentre todos os partidos gregos. Além
disso, a coalizão a ser formada pode alcançar uma maioria relativamente folgada
num país que viveu uma inusitada fragmentação política. A pressa em formar um
novo governo e a tentativa de atrair para a coalizão mais que os partidos
"tradicionais" indicam que os gregos buscam uma saída para a tragédia
na qual entraram. Todavia, a probabilidade de ficar no euro é pequena. Isso
porque nos próximos meses haverá um grande acúmulo de pagamentos e as pressões
sobre o novo governo serão enormes. A disposição da Alemanha de Merkel em
flexibilizar a rigidez fiscal está muito mais vinculada ao necessário
proselitismo pró-europeu que algo efetivo para que os países voltem a crescer.
De toda a forma uma coalizão mais sólida entre os helênicos pode servir para
que a saída do euro seja possível, sem que isso provoque uma hecatombe.
Veremos.
Espanha e Itália
O risco da Espanha
já está em níveis da América Latina dos anos 80. O mais incrível é que a União
Europeia já injetou 100 bi de euros para salvar o sistema financeiro e os
analistas acreditam que serão necessários mais 80-90 bi para que exista
estabilização. Enquanto isso, os investidores, dotados do famoso espírito de
"debandada", já voltam seus canhões especulativos para a Itália. A
cada leilão de títulos públicos o risco-país sobe e o financiamento se torna
mais penoso para o erário. A sina da Itália será igual a dos outros países
meridionais da Europa e a Irlanda. Todos sabem disso, mas o jogo geopolítico da
Alemanha ainda permanece suficientemente forte para evitar uma revisão mais
drástica do processo.
A calmaria durará
pouco
Talvez os mercados
ainda reajam nos próximos dias às notícias da eleição grega e da melhoria da
volatilidade. Mas a coisa está mais para "tiro curto". Não há nada
suficiente para reverter este processo agudo de contenção do crédito. É certo
que não é hora para os otimistas, mas não deixa de ser horrível ter que dizer
que o pior pode não ter passado.
Não vai jogar a
tolha, mas...
O ministro Guido
Mantega vai continuar jurando de pés juntos que o PIB semestral brasileiro, de
julho a dezembro, será de 4,5%. Contudo, hoje todo o esforço da política
econômica está voltado para não deixar a economia derrapar abaixo dos 2,5%. Mas
será que funciona colocar o PIB num elevador movido a empréstimos - crédito
para o consumidor e, agora, dinheiro para os governos estaduais? No caso dos
governos estaduais, inclusive, quem garante que eles não vão pegar recursos no
BNDES para investimentos já programados, liberando recursos para outras
despesas muito apreciadas em anos eleitorais?
Os pacotinhos estão
saindo, mas...
... está faltando
uma parte na contribuição que a presidente Dilma deseja que o setor público dê
para acelerar o ritmo da economia brasileira : um ajuste nas contas oficiais,
com cortes de despesas desnecessárias, para sobrar mais dinheiro para obras e
investimentos. Não há incompatibilidade entre ajuste fiscal e investimentos, ao
contrário do que querem fazer crer a "obtusidade córnea e má fé
cínica" de alguns analistas oficiais e oficiosos.
Satisfeitos, mas
nem tanto.
Ninguém recusa
dinheiro - e ainda mais uma boa bolada - oferecido com vantagens, como é o caso
da linha de crédito de R$ 20 bi oferecidos pelo governo Federal aos
governadores, via BNDES, com juros de família, de 7,1% ou 8,1% (com e sem
aval). Agora, os 27 chefes de Executivo estaduais vão brigar para ver como o
bolo será dividido, qual a cota de cada um nesse latifúndio. Tem também na mesa
mais R$ 39 bi do BB. Tudo para obras e investimentos. Os governadores
gostariam, porém não era isto - ou só isto - que eles queriam. O que eles
pretendem mesmo do governo Federal é dinheiro para valer, não apenas
empréstimos. Eles querem melhorar seu fluxo de receitas, permanentemente. Os
governadores se queixam da perda de participação no bolo tributário nacional.
Querem ver na mesa, por exemplo, a definição da nova divisão dos royalties do
petróleo. Só depois aceitam discutir mudanças mais profundas no ICMS.
Ninguém reage,
mas...
As cobranças da
presidente Dilma a seus ministros, para que sejam mais ágeis ao tocar a máquina
do governo, principalmente no que diz respeito à liberação de recursos para
investimentos e programas, estão ficando cada vez mais duros. E incomodam. Mas
ninguém reage abertamente. No privado, no entanto, muitos se justificam dizendo
que o problema não é de seus ministérios e sim do "detalhismo" da
presidente, que tudo quer ver e interferir nos mínimos detalhes, bem como da
Casa Civil, por onde tudo tem de passar e não tem a agilidade que a presidente
acha que deve ter - ou tinha no tempo dela. As orelhas de Gleisi Hoffmann devem
arder todos os dias. Outras que estão ardendo um tanto são as da ministra do
Planejamento, Miriam Belchior. As duas estão começando a criar a fama de
"engavetadoras".
Radar NA REAL
15/6/12
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TENDÊNCIA
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SEGMENTO
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Cotação
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Curto prazo
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Médio Prazo
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Juros ¹
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- Pré-fixados
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NA
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estável
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estável/alta
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- Pós-Fixados
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NA
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baixa
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baixa
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Câmbio ²
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- EURO
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1,2585
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baixa
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baixa
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- REAL
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2,0609
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baixa
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estável/baixa
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Mercado Acionário
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- Ibovespa
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56.104,69
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estável/baixa
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estável
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- S&P 500
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1.348,84
|
estável
|
alta
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- NASDAQ
|
2.872,80
|
estável
|
alta
|
(1) Títulos
públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Encanto quebrado?
A greve em mais de
50 universidades e instituições superiores de ensino federais caminha para
completar seu primeiro mês. Parece o primeiro sinal claro de que os dias da pax sindical
que Lula celebrou com as centrais sindicais e os funcionalismos públicos
Federal estão contados. Já houve paralisações nos metrôs federais e, na semana
passada, boa parte dos médicos do SUS pararam por um dia. E, como se diz nos
meios sindicais, "há indicativos" de que outros movimentos podem
pipocar em greve. Uma turma do judiciário já fez manifestação pública na última
sexta-feira.
Paredes com
ouvidos
Certo hospital de
SP - e acerta quem pensar no Sírio-Libanês - além de praticar excelente
medicina, por motivos óbvios tem também dotes políticos, palco que é de
atendimento de grandes figuras da República. Suas paredes são ágeis. Semana
passada, dois personagens que bem conhecem tanto Dilma quanto Lula, pois
prestaram atendimento a ambos, trocaram algumas confidências e concluíram que
Dilma está afastada demais dos políticos, ao contrário de seu antecessor. E que
isto pode sair caro para ela. Até aí não tem nada demais : o mundo político não
ligado à presidente, mesmo seus aliados, pensa a mesma coisa. O intrigante é
que o diagnóstico parece ter saído do pensamento do "Grande Eleitor".
CPI : não adianta
correr
Vexames à parte é
inevitável a convocação do dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, para
depor na CPI. Há apenas um refresco esta semana porque se descobriu em Brasília
que os deputados e senadores são imprescindíveis para os debates sobre os rumos
do planeta na Rio+20 e estabeleceu-se um recesso branco na Câmara e no Senado.
Porém, com a história da "tropa do cheque" e as primeiras revelações
da quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico da empresa em todo o país,
não haverá muitos parlamentares dispostos a botar a cara para bater. Nem com a
blindagem que o PMDB e o PT criaram. O próprio Planalto, mesmo temendo alguns
respingos pela proximidade da Delta com o PAC, não vai se meter neste pantanal
para salvar quem quer que seja. A convocação do ex-diretor do DNIT, Luiz
Antônio Pagot, também não escapa. A estratégia para evitar mais desastres será
garantir a convocação, mas sem data para o depoimento, jogando tudo para
agosto, depois do recesso parlamentar, na esperança de que o julgamento do mensalão
e a campanha eleitoral arrefeçam as repercussões.
As
contas da Delta
Esta coluna teve
uma conversa reveladora sobre os pagamentos da Delta para
"intermediários" das obras contratadas. Segundo as denúncias,
incluídas as originadas das operações policiais, a Delta pagou algo como R$ 145
milhões às empresas suspeitas. Nossas informações de um profissional que
detalhou as contas dos últimos quatro anos da empresa "está faltando
dinheiro"... Ou seja, mais revelações virão à tona. Ou servirão para que
as luzes não recaiam sobre os distintos beneficiários...
Só de longe
Quanto ao
mensalão, não há hipótese de o Palácio do Planalto, se envolver ainda que muito
discretamente, por baixo do pano, em qualquer coisa que diga respeito ao
julgamento no STF. Bem que os envolvidos e seus padrinhos gostariam de algum
gesto nesse sentido, porém vão ficar esperando sentadinhos para não cansarem
muito. A turma de Dilma quer distância dessa bomba, é questão de outra turma.
Também não muito
perto
O envolvimento da
presidente Dilma na campanha eleitoral, a favor dos aliados, deverá ser muito
menor do que todos gostariam vê-la ainda mais com a popularidade dela andando
lá pelos 80%. Há pelo menos duas razões para isso : (1) ela quer manter uma
posição mais institucional ; (2) há muita confusão entre os aliados em várias
cidades importantes e isso pode criar problemas para ela com a base, quando
algum partido se sentir preterido. A presidente vai ajudar, permitindo imagens
nos programas eleitorais, até gravando mensagens. E dando ajudas indiretas,
como fez esta semana ao reservar um lugar para um indicado de Maluf para o
ministério das Cidades em troca do apoio do PP malufista ao petista Fernando
Haddad em SP. Nada do engajamento do antecessor. No segundo turno esta
determinação pode mudar.
Bananão e
bananinhas
Morreu semana
passada em Londres o jornalista e escritor Ivan Lessa, dono de um texto
sofisticado e de fina ironia. Costumava chamar o Brasil de "Bananão",
embora não deixasse de amar o país a seu modo e distante desde o fim dos anos
1970. O que a CPI fez na semana passada, com as mornas inquirições dos
governadores Marconi Perillo (PSDB/GO) e Agnelo Queiroz (PT/DF) e a recusa em
convocar para depor Fernando Cavendish e Luiz Antônio Pagot, parece uma
homenagem do Congresso a Lessa - para provar que em matéria de política
continuamos cada vez mais uma república bananeira, um Bananão.
Pêndulo eleitoral
1
De repente, o PT
de SP, que parecia caminhar para o isolamento na disputa pela prefeitura
paulistana, deu a impressão de sair da solidão. Na sexta-feira, conseguiu, com
uma mãozinha da presidente Dilma e o grande empenho de Lula, dois trunfos
eleitorais : emplacou Luiza Erundina, do PSB, uma política de boa imagem, e
arranjou o apoio do PP de Paulo Maluf. Assim, aumentou o tempo no horário
eleitoral obrigatório no rádio e na televisão. E ficou com a que, nas
circunstâncias poderia ser a melhor vice para o quase desconhecido Haddad.
Porém, nem bem saboreava essas vitórias e mais o resultado da pesquisa
DataFolha divulgada no domingo, com seu candidato saindo da estagnação em que
se encontrava a meses, passando de 3% para 8% nas intenções de votos dos
paulistanos, o PT sofreu um duro revés. Erundina, que até havia ensaiado
algumas justificativas para estar do mesmo lado de Maluf, um político que ela
detesta e do qual sofreu muitas agressões, tão de repente quando aceitou ser
vice de Haddad, anunciou que vai rever sua posição - na verdade, disse que não
quer mais o lugar - seu estômago revelou-se delicado demais para engolir o
malufismo. Lula, dirigentes do PT e do PSB ainda tentarão demover Erundina.
Parece difícil. Agora, é medir o prejuízo que isso pode trazer para a campanha
de Haddad.
Pêndulo eleitoral
2
No campo
adversário, o PSDB de José Serra, que parecia navegar em águas limpas, além de
perder os minutos eleitorais do partido de Maluf, está enrolado em tremenda
confusão por causa da formação da chapa de vereadores de sua aliança. Ele quer
um blocão, exigência dos outros partidos para apoiá-lo, porém a turma de
candidatos do PSDB não quer a aliança nas eleições proporcionais, com medo de
perder vagas especialmente para o pessoal do PSD de Gilberto Kassab.
Mal
estar
Estão cada vez
maiores as indisposições entre o PT e o PMDB e deste também, embora não
confessada, com o governo Federal. Bons peemedebistas nem desconfiam mais, têm
quase certeza de que se prepara uma cama para deixá-los mal nas disputas pelas
prefeituras e diminuir seu poder de fogo na aliança governista. O epílogo desse
processo seria cortar as candidaturas de Renan Calheiros à presidência do
Senado, de Henrique Alves à presidência da Câmara e trocar de vice na chapa de
uma reeleição de Dilma.
Rio+20
Quem for ao maior
encontro sobre sustentabilidade nos últimos anos no planeta vai descobrir que
os resultados objetivos da reunião foram deixados de lado pelos participantes,
sobretudo pelos países mais desenvolvidos. Todavia, a simbologia mais
intrigante do evento é o fato de se ver o Rio congestionado de carros, sem
capacidade de operar eficientemente seu transporte público e os serviços
(públicos e privados) de qualidade duvidosa. Haverá quem acredite que até a
Copa e as Olimpíadas as coisas melhorem, mas a amostra destes primeiros dias
nas terras cariocas foi sofrível.
Os correspondentes
estrangeiros
O cenário era
eleitoral : os correspondentes estrangeiros de São Paulo elegiam uma nova
diretoria para a sua associação na Escola de Direito da GV. Dois candidatos
concorriam. Os programas eleitorais tinham lá suas divergências em termos de
administração e finanças. Todavia, no tema mais importante todos concordavam :
o governo Dilma piorou muito as relações com os jornalistas de órgãos
internacionais. Estes não conseguem entrevistas com pessoas-chaves do governo,
não tem acesso ao Planalto e nem aos governos estaduais. Dizem que o Brasil
está em alta na mídia estrangeira, mas que, por aqui, os governos não dão bola
para os correspondentes. Falta matéria-prima para "vender" lá fora.
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