Caminhoneiros suspendem greve após acordo com governo
SÃO
PAULO/BRASÍLIA, 31 Jul (Reuters) - A greve dos caminhoneiros que bloqueou
algumas rodovias do país e já ameaçava setores da produção agrícola e
industrial foi suspensa após o governo entrar em acordo com os representantes
da categoria na noite desta terça-feira após horas de negociação.
O desbloqueio das estradas, contudo, ainda deve durar algumas
horas porque os caminhoneiros devem se desmobilizar aos poucos por uma questão
de segurança, segundo o presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC),
Nélio Botelho.
"O desbloqueio será gradativo e deve durar até amanhã de
manhã (quarta-feira)", disse Botelho no fim da reunião com o ministro dos
Transportes, Paulo Sérgio Passos, que comandou as negociações pelo governo.
Os caminhoneiros em greve reivindicavam, entre outras coisas, um
prazo maior de um ano, e não de 45 dias, para a aplicação da Lei do Motorista,
que vai aumentar o controle sobre a jornada de trabalho da categoria.
O acordo fechado entre o governo e os representantes dos
caminhoneiros nesta terça-feira prevê a constituição de uma mesa de negociações
que debaterá as reivindicações por 30 dias a partir de 8 de agosto.
Nesse prazo, também ficou acertado que os caminhoneiros não
serão multados por descumprir as novas regras de jornada de trabalho
estabelecidas pela lei aprovada neste ano.
O ministro defendeu a polêmica nova regra que prevê um descanso
de 11 horas entre uma jornada e outra de trabalho, mas disse que esse tema
também será debatido na mesa de negociação.
"Nós devemos, e uma mesa de negociação tem esse propósito,
estar abertos a discutir todos os temas que sejam pertinentes e afetem a
categoria", disse Passos a jornalistas após a reunião.
Botelho afirmou que a lei é muito complexa, mas não quis
antecipar qual proposta a categoria defenderá. Ele levantou a hipótese de haver
uma regra para caminhoneiros de longas distâncias e outra para profissionais
que trabalham em áreas urbanas ou fazem entregas em curtas distâncias.
PROBLEMAS
Mais cedo, a União Brasileira de Avicultura (Ubabef) afirmou que
o abastecimento de ração para criação de frangos e também o transporte de
animais vivos foram prejudicados. O abastecimento de outros produtos
agropecuários também esteve ameaçado.
Os caminhoneiros fizeram manifestações e bloqueios desde domingo
na rodovia Presidente Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo, mas outros
Estados também registraram protestos nesta terça-feira.
"Empresas associadas já relataram problemas com o
abastecimento de ração para a criação de frangos, com a retenção de centenas de
caminhões devido aos bloqueios", afirmou a Ubabef em nota. "Um
descompasso nesse fornecimento é extremamente prejudicial para a produção de
uma importante proteína animal."
O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo. A
carne de frango também é a mais consumida no país, com um consumo per capita de
47,7 quilos por habitante ao ano, segundo dados do setor.
“Outro problema grave diz respeito a animais vivos, já que a
produção avícola também depende do transporte de pintos de um dia para as
regiões produtoras e, posteriormente, de aves vivas para as agroindústrias’,
afirmou a Ubabef”.
Mas não somente setores com bens perecíveis foram prejudicados.
A indústria de carros também foi atingida, com algumas entregas sendo
suspensas, informou o Sindicato Nacional dos Cegonheiros por meio de sua
assessoria de imprensa.
Já o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de
Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom) informou que as atividades ocorriam
dentro da normalidade, "com dificuldades pontuais no atendimento a
clientes localizados em regiões que dependem do trânsito em vias
bloqueadas."
Nesses casos, as empresas do Sindicom estavam "buscando
rotas alternativas para o abastecimento."
As regiões mais afetadas pelos bloqueios nesta terça-feira estavam
no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, segundo a União Nacional dos
Caminhoneiros (Unicam), mas desde o início da paralisação os caminhoneiros
fizeram manifestações no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo,
Minas Gerais e Bahia.
Nesta terça-feira, de acordo com a Unicam, foram registrados
protestos na BR-101, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no oeste do
Paraná, além de paralisações na Dutra, na altura de Barra Mansa, Piraí e
Resende, e no Espírito Santo, na cidade de Iconha.
REGRA NOVA
O protesto dos caminhoneiros, iniciado na quarta-feira da semana
passada, tem entre outras motivações a nova regra que exige um intervalo de
descanso mínimo de 11 horas a cada 24 horas.
Segundo o setor, há poucas áreas de descanso nas principais
rodovias, o que inviabiliza o cumprimento da regra. Além disso, a medida também
reduzirá o rendimento dos caminhoneiros.
Durante a mobilização, caminhoneiros que tentaram furar o
bloqueio foram ameaçados e alguns veículos foram até apedrejados.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro,
e de Eduardo Simões, em São Paulo)