domingo, 27 de novembro de 2011

Lata velha

Volta Redonda tem 68 mil veículos com mais de dez anos de fabricação

"É velho, mas é meu". "É velho, mas ‘tá' pago". Estes e outros adesivos do tipo podem ser encontrados em vários automóveis que percorrem as ruas de Volta Redonda - e não é sem motivo: segundo os dados do Detran-RJ (Departamento Estadual de Trânsito), a cidade tem, atualmente, 111.485 veículos. Destes, nada menos que 68.208 têm mais de dez anos de fabricação (61,18% do total). O número de carros rodando no município com mais de 20 anos de vida também é expressivo, com 33.527 automóveis tendo sido fabricados até 1991 (30,07% da frota da cidade). A conclusão é simples e direta: Volta Redonda, da mesma forma que capitais como o Rio de Janeiro (com 60,5% dos automóveis com mais de dez anos), é terra de carro velho.
E carro antigo é sinônimo de maiores cuidados com manutenção e reposição de peças uma vez que, a partir dos quatro anos de uso, a depreciação do veículo começa a se acentuar. Alguns dos problemas mais críticos são os de aquecimento e falha no motor, entre outros. Acima dos dez anos, então, as visitas à oficina deveriam ser constantes.
Porém, tal situação só é vista entre aqueles com melhores condições financeiras e que realmente se preocupam em manter o carro bem conservado, ainda mais com o aumento observado no valor das peças nos últimos anos. Essa é a opinião do mecânico Rogério Santiago dos Santos, 43 anos de idade e 30 de profissão, proprietário de uma oficina no volta Grande.
- A maioria dos veículos levados até a oficina tem mais de dez anos de uso, até porque os carros mais novos costumam ter a garantia estendida. No geral, menos de 20% costumam vir logo que o carro apresenta problema ou para fazer a revisão. A grande maioria aparece apenas quando o automóvel faz muito barulho. Um cliente mesmo tem um carro fabricado há mais de 15 anos e disse que nunca havia colocado uma correia dentada nova, e que precisa ser trocada a cada 30 ou 40 mil quilômetros - relatou.
Rogério alerta que um carro mal conservado pode ser perigoso tanto para o condutor quanto para outros motoristas, ciclistas ou pedestres. Ele lembra que veículos antigos podem apresentar problemas na suspensão, freios ou correia dentada que, além do prejuízo, podem colocar em risco a vida das pessoas.
- Um pivô da suspensão tem de ser trocado com até 50 mil quilômetros ou se apresentar folga, e já vi carro em que ele tinha 200 mil quilômetros rodados - alertou. - As pessoas deixam de cuidar do carro por questões financeiras, você vê que tem gente sem condições de manter um veículo.
O profissional salienta que, dependendo da marca do veículo, a mecânica pode ser mais complicada - e cara, algo muitas vezes não levado em consideração por quem adquire um automóvel. Isso acaba gerando, segundo ele, situações como as observada na sua oficina durante a semana: enquanto alguns procuram levar o carro anualmente para a revisão e a troca das peças que forem necessárias, nada menos que três carros chegaram rebocados por guincho até a última terça-feira.
- O ideal seria comprar um carro zero a cada dois anos para nunca ter problema - aconselha.
Renovação constante
Um setor da área de serviços onde a renovação da frota é constante é no de táxis. Segundo o taxista Cezar Augusto Ferreira Gomes, de 30 anos - e há dez na profissão -, a cooperativa a que está associado exige a troca do veículo a cada três anos, sendo que o carro adquirido deve ser zero (situação facilitada pela isenção de IPI dada pelo governo federal aos profissionais, que reduz drasticamente o preço do automóvel).
- O desgaste é bem maior tanto na parte mecânica quanto na aparência, pois o carro fica praticamente 24 horas por dia na rua - explica.
Cezar disse que todos os táxis passam por uma revisão na cooperativa a cada três meses, um dos motivos para os problemas mecânicos serem tão raros.
- Eles são difíceis de ocorrer, e quando acontecem costumam ser problemas na parte elétrica ou de embreagem. A troca de peças é constante, o que acaba encarecendo a vida útil do táxi, principalmente depois do primeiro ano rodado - disse.
Além do carro do serviço, o taxista tem um carro particular. O Escort 95 não recebe os mesmos cuidados que o táxi, o que não significa, porém, que ele esteja mal cuidado.
- Sempre que ele tem um problema eu procuro resolver logo - garantiu.
Cuidados redobrados com o oito cilindros
O mecânico Osmar Santos de Carvalho, de 50 anos, trabalha há 20 na profissão e possui um carro com mais de 30 anos de fabricação. E não se trata de um automóvel qualquer: ele possui há cerca de dez anos um Ford Landau 76, modelo que foi utilizado durante muitos anos como veículo oficial da presidência da república e de outros cargos oficiais. Ele já chegou a ter dois carros, mas atualmente mantém apenas o Landau.
- Sempre gostei de carro de oito cilindros, ainda mais desse tipo de veículo - explica.
Segundo ele, a manutenção do carro é barata, sendo possível encontrar as peças através da Internet - como a da bomba d'água que precisa ser trocada.
- Ele não dá problema, o difícil é encontrar um funileiro quando preciso restaurá-lo. Além disso, é preciso polir o carro com frequência e não jogar muita água na lataria, pois ela apodrece com muita facilidade nos automóveis antigos. Fora essa questão, o cuidado com a mecânica é o mesmo de um carro mais novo - encerrou.
A viabilidade do mais novo
Diminuir a taxa de juros, abertura de crédito e a volta da isenção de taxas para a aquisição de automóveis. Estas são algumas das soluções que a economista Lucimeire Cordeiro da Silva Faria acredita que o governo poderia utilizar para a renovação da frota de veículos. Segundo ela, já existem fatores que facilitam a aquisição de um carro zero, como a competição entre as montadoras. Os gastos de manutenção que um automóvel usado exige é outra questão que deve ser considerada.
- O gasto com manutenção e a insegurança, caso sejam levados em consideração, nos faz, muitas vezes, optar pelo carro zero ou mais novo - opinou.
Além disse, Lucimeire lembra a volatilidade com que os bens acabam perdendo valor ou se tornando obsoletos.
- De acordo com a regra contábil, em cinco anos um carro se deprecia totalmente. Todo bem adquirido é depreciado com o tempo, é assim com os equipamentos domésticos e industriais. Hoje sofremos com a rápida evolução tecnológica, que nos obriga muitas vezes a trocar de celular e computador. É assim com os carros também, o desgaste de uma máquina provoca altos custos de manutenção, valendo a pena, em muitos casos, optar por um equipamento mais novo - aconselha.
A especialista diz que seria preciso fazer uma pesquisa para saber de que maneira a condição financeira influi na capacidade de manutenção do veículo. Independente do resultado, entretanto, ela destaca que a preservação da integridade física e da vida deve ser colocada como prioridade.
- O consumidor deve, acima de tudo, pensar na segurança e na economia de sua família. Manter um carro velho sem ter condições financeiras para isso é optar por um gasto excedente e pela insegurança pessoal e de todos os demais - alerta.
Frota de veículos de Volta Redonda por década*
Década                 Veículos
1920-1929               8
1930-1939                 2
1940-1949               7
1950-1959                79
1960-1969             1.339
1970-1979             11.657
1980-1989              16.965
1990-1999             30.622
2000-2009            42.176
2010-2011               8.630
Total                    111.485
*Fonte: Detran-RJ

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