TJ manda soltar coronel acusado de corrupção
O desembargador Paulo Rangel, do plantão judiciário do Tribunal de
Justiça, concedeu ontem habeas corpus ao coronel Djalma Beltrami, comandante do
7 BPM (São Gonçalo), preso anteontem pela Polícia Civil sob a acusação de
receber propina do tráfico do Morro da Coruja. Na decisão, o magistrado
escreveu que "estão brincando de investigar" e criticou o trabalho da
Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói, responsável pela prisão do oficial.
Rangel afirmou que o juiz da 2 Vara Criminal de São Pedro da Aldeia, que
expediu o mandado de prisão contra Beltrami, se deixou levar "pela maldade
da autoridade policial, que entendeu que ‘zero um’ só pode ser o comandante do
7 batalhão". A expressão "zero um" é usada numa conversa gravada
de um PM com um traficante e, segundo a investigação da Polícia Civil, seria
uma referência a Beltrami. Ainda em sua decisão, o desembargador diz: "A
versão da autoridade policial colocou, até então, um inocente na cadeia".
O magistrado completa: "Investigação policial não é brinquedo de polícia".
Quando recebeu a notícia de que o habeas corpus havia sido concedido,
Beltrami estava no Quartel-General da corporação, no Centro, e chorou. O habeas
corpus foi impetrado pela defensora Cláudia Valéria Taranto.
Antes da decisão do TJ, a Associação de Oficiais Militares Estaduais do Rio (AME-Rio) defendeu
Beltrami. A entidade repudiou a ação do titular da DH, delegado Alan Luxardo,
responsável pela Operação Dezembro Negro, durante a qual o oficial foi preso.
Presidente da associação, o coronel Fernando Belo questionou a principal
prova apresentada pela polícia para prender o oficial: a escuta telefônica em
que há referência ao "zero um":
— Não há prova alguma que possa colocar Beltrami na situação em que
está. Esta é uma prisão criminosa.
Os coronéis Belo e Ubiratan Ângelo, ex-comandante-geral da PM, visitaram
Beltrami pela manhã no QG da PM. Ubiratan também criticou a prisão:
— O sigilo da investigação já foi quebrado, ele (Beltrami) foi exposto,
então que se apresentem todas as provas.
O corregedor da PM, Waldyr Soares Filho, foi ontem à DH de Niterói para
pedir formalmente as cópias do inquérito:
— Não tive acesso ao inquérito. O delegado prometeu que, em breve,
enviará o inquérito à corregedoria. Só não disse quando. Só sei das informações
pela imprensa.
Os coronéis Belo e Ângelo mostraram um documento do Disque-Denúncia, do
dia 6 deste mês, segundo o qual traficantes do Morro da Coruja planejariam
assassinar o coronel Beltrami.
Procurados ontem pelo GLOBO, a Secretaria de Segurança, o comando da
Polícia Militar e a Chefia da Polícia Civil não quiseram se pronunciar sobre o
assunto.
Delegado afirma que há outras evidências
‘Nos próximos dias, isso virá a público’
O delegado Alan Luxardo lembrou que a investigação durou sete meses e
disse que o inquérito ainda está em fase de conclusão — que deverá ocorrer em
até 20 dias.
— O que foi divulgado é apenas uma parte das investigações, há outras
evidências do envolvimento dele (coronel Beltrami). Nos próximos dias, isso
virá a público — afirmou o delegado, que ainda criticou a postura dos coronéis.
— Não estou fazendo isso sozinho, há promotores e juízes envolvidos nesse caso.
Quem não tem conhecimento de toda a investigação não tem como palpitar.
Segundo o Ministério Público, que participou da operação, a investigação
da DH de Niterói não se resume ao conteúdo das escutas telefônicas divulgado.
Policiais teriam filmado o encontro de um PM ligado ao comandante Beltrami com
um dos chefes do tráfico em São Gonçalo. O encontro teria acontecido após a
gravação da conversa (divulgada anteontem) entre um PM e um traficante, na qual
o bandido diz estar disposto a pagar R$ 10 mil para o "zero um". Esse
PM, segundo o Ministério Público, foi transferido para o 7 BPM a pedido de
Beltrami, que já o levara para dois outros batalhões. Durante a investigação,
foram feitas ainda outras escutas telefônicas.
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