PASSAGEM
PARA A ÍNDIA
Panorama: A Índia e o Ceilão vistos da nave Gemini 11
Sábado passado eu estava terminando
de preparar uma salada para o almoço e a tarde parecia sombria. Liguei a
televisão para saber das últimas notícias e a Flavia Freire, a musa loira do
tempo global, tinha assumido o controle total do Jornal Hoje. Em menos de dez
minutos ela acabou com todas as minhas esperanças de passar a tarde
explorando as nascentes do rio Caximbal. Com a autoridade de quem tem o apoio
de cinco satélites meteorológicos da NASA, a loira anunciou que uma frente
fria estava chegando para inundar o feriadão com muita chuva.
Olhei pela janela e já estava ficando
escuro lá pros lados de Volta Redonda. Teria que me conformar em passar o
sábado dentro de casa, assistindo um bom filme. Dei uma olhada no estoque de
DVDs e resolvi me mandar para a Índia, com uma pequena ajuda do diretor Dave
Lean. "Passagem para a Índia" tem todas aquelas imagens panorâmicas
e grandiosas que se espera de um filme de Dave Lean, mas é mais sobre o
choque de culturas do que sobre a velha pátria do Mahatma Gandhi. Durante
muitos anos a Índia foi parte do Império Britânico, mas embora os ingleses
tenham dominado o subcontinente indiano pela força das armas, nunca
conseguiram dominá-lo culturalmente. Pelo contrário, foram colonizados pela
milenar cultura indiana e até hoje não se libertaram desse vínculo.
Há mais de meio século que a Índia se
tornou independente da Inglaterra, mas quase todo diretor do cinema britânico
tem que fazer um filme sobre a Índia. De Dave Lean ao Danny Boyle que rodou
lá o seu "Quem quer ser um milionário?". Até o James Bond já foi
para a Índia em um daqueles filmes do Roger Moore. E, é claro, o papa da
ficção científica britânica, Arthur C. Clarke, trocou a fria Inglaterra pelo
Ceilão, uma ilha que forma uma espécie de apêndice na extremidade sul do
subcontinente indiano.
Pessoalmente eu nunca estive na Índia
ou no Ceilão e provavelmente nunca irei lá. Mas isso não me impede de achar a
Índia um lugar fascinante. Também nunca fui a Saturno ou a galáxia Colar de
Jóias, mas isso não me impede de sonhar com esses lugares. Acho que meu caso
de amor com a Índia vem da leitura dos livros de Rudyard Kipling, outro
inglês colonizado pela civilização indiana. E pelas histórias em quadrinhos e
desenhos animados sobre as florestas misteriosas, cheias de templos e
palácios milenares, abandonados por civilizações desaparecidas.
Semelhança
Como o Brasil, a Índia é um país onde
o antigo e o moderno convivem, mas o antigo deles tem centenas de séculos,
enquanto o nosso antigo não vai além de uns duzentos anos. E os indianos já
aprenderam uma coisa que ainda não entrou na cabeça dos brasileiros. Que a
saída para a miséria e para a maioria dos problemas é a cultura, o
conhecimento.
Nas últimas décadas a Índia vem
exportando cientistas para o resto do planeta e alguns deles já deixaram sua
marca no mundo da ciência. Quando os astrofísicos estudam os buracos negros,
eles falam no limite de Chandrasekar. A massa máxima que uma estrela anã
branca pode ter sem desabar sobre si mesma, formando uma estrela de nêutrons
ou um buraco negro.
O nome vem de Subrahmanian
Chandrasekar, que calculou esse valor na década de 1930, quando os cientistas
do resto do mundo nem sonhavam com a existência de astros exóticos como os
colapsares. Hoje, a Índia milenar tem um programa espacial e enviou uma sonda
para a Lua em 2008. A Chandrayaan-1 (do sânscrito veículo lunar) entrou em
órbita lunar e lançou uma sonda que atingiu o polo sul da Lua no dia 14 de
novembro de 2008, fazendo da Índia o quarto país a colocar sua bandeira em
solo lunar.
Em seu romance "As fontes do Paraíso"
Clarke imaginou o passado e o futuro se encontrando lá naquelas bandas. Ele
descreve a construção de um elevador espacial em uma ilha do oceano Índico,
bem parecida com sua pátria adotiva, o Ceilão. Não duvido nada, afinal, os
indianos planejam colocar seus primeiros astronautas em órbita, em 2015. Os
brasileiros deviam seguir o exemplo deles. Olhando para o futuro sem esquecer
o passado. E apostando na cultura e no conhecimento, mais do que no esporte.
|
sexta-feira, 27 de abril de 2012
BREVE RELATO
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário