sexta-feira, 27 de abril de 2012

BREVE RELATO


PASSAGEM PARA A ÍNDIA


A Índia e o Ceilão vistos da nave Gemini 11
Panorama: A Índia e o Ceilão vistos da nave Gemini 11

Sábado passado eu estava terminando de preparar uma salada para o almoço e a tarde parecia sombria. Liguei a televisão para saber das últimas notícias e a Flavia Freire, a musa loira do tempo global, tinha assumido o controle total do Jornal Hoje. Em menos de dez minutos ela acabou com todas as minhas esperanças de passar a tarde explorando as nascentes do rio Caximbal. Com a autoridade de quem tem o apoio de cinco satélites meteorológicos da NASA, a loira anunciou que uma frente fria estava chegando para inundar o feriadão com muita chuva.
Olhei pela janela e já estava ficando escuro lá pros lados de Volta Redonda. Teria que me conformar em passar o sábado dentro de casa, assistindo um bom filme. Dei uma olhada no estoque de DVDs e resolvi me mandar para a Índia, com uma pequena ajuda do diretor Dave Lean. "Passagem para a Índia" tem todas aquelas imagens panorâmicas e grandiosas que se espera de um filme de Dave Lean, mas é mais sobre o choque de culturas do que sobre a velha pátria do Mahatma Gandhi. Durante muitos anos a Índia foi parte do Império Britânico, mas embora os ingleses tenham dominado o subcontinente indiano pela força das armas, nunca conseguiram dominá-lo culturalmente. Pelo contrário, foram colonizados pela milenar cultura indiana e até hoje não se libertaram desse vínculo.
Há mais de meio século que a Índia se tornou independente da Inglaterra, mas quase todo diretor do cinema britânico tem que fazer um filme sobre a Índia. De Dave Lean ao Danny Boyle que rodou lá o seu "Quem quer ser um milionário?". Até o James Bond já foi para a Índia em um daqueles filmes do Roger Moore. E, é claro, o papa da ficção científica britânica, Arthur C. Clarke, trocou a fria Inglaterra pelo Ceilão, uma ilha que forma uma espécie de apêndice na extremidade sul do subcontinente indiano.
Pessoalmente eu nunca estive na Índia ou no Ceilão e provavelmente nunca irei lá. Mas isso não me impede de achar a Índia um lugar fascinante. Também nunca fui a Saturno ou a galáxia Colar de Jóias, mas isso não me impede de sonhar com esses lugares. Acho que meu caso de amor com a Índia vem da leitura dos livros de Rudyard Kipling, outro inglês colonizado pela civilização indiana. E pelas histórias em quadrinhos e desenhos animados sobre as florestas misteriosas, cheias de templos e palácios milenares, abandonados por civilizações desaparecidas.

Semelhança

Como o Brasil, a Índia é um país onde o antigo e o moderno convivem, mas o antigo deles tem centenas de séculos, enquanto o nosso antigo não vai além de uns duzentos anos. E os indianos já aprenderam uma coisa que ainda não entrou na cabeça dos brasileiros. Que a saída para a miséria e para a maioria dos problemas é a cultura, o conhecimento.
Nas últimas décadas a Índia vem exportando cientistas para o resto do planeta e alguns deles já deixaram sua marca no mundo da ciência. Quando os astrofísicos estudam os buracos negros, eles falam no limite de Chandrasekar. A massa máxima que uma estrela anã branca pode ter sem desabar sobre si mesma, formando uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.
O nome vem de Subrahmanian Chandrasekar, que calculou esse valor na década de 1930, quando os cientistas do resto do mundo nem sonhavam com a existência de astros exóticos como os colapsares. Hoje, a Índia milenar tem um programa espacial e enviou uma sonda para a Lua em 2008. A Chandrayaan-1 (do sânscrito veículo lunar) entrou em órbita lunar e lançou uma sonda que atingiu o polo sul da Lua no dia 14 de novembro de 2008, fazendo da Índia o quarto país a colocar sua bandeira em solo lunar.
Em seu romance "As fontes do Paraíso" Clarke imaginou o passado e o futuro se encontrando lá naquelas bandas. Ele descreve a construção de um elevador espacial em uma ilha do oceano Índico, bem parecida com sua pátria adotiva, o Ceilão. Não duvido nada, afinal, os indianos planejam colocar seus primeiros astronautas em órbita, em 2015. Os brasileiros deviam seguir o exemplo deles. Olhando para o futuro sem esquecer o passado. E apostando na cultura e no conhecimento, mais do que no esporte.







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