Relógio de US$ 30 mil causa embaraço a patriarca da
Igreja russa
Moscou,
26 abr (EFE).- O patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Kirill, nunca teria
imaginado que um relógio de pulseira, um presente que recebeu há alguns anos,
pudesse se tornar uma dor de cabeça e um objeto de ferrenha atenção da mídia do
país.
O problema é que o 'singelo' presente, recebido por Kirill
durante uma visita pastoral à Ucrânia em 2009, segundo publicou a imprensa
local, é um Breguet que custa a bagatela de US$ 30 mil.
No início de abril, em uma conversa com o apresentador de
televisão Vladimir Soloviov, publicada por este, o patriarca admitiu ter
recebido o relógio de luxo, mas ressaltou que jamais o usou e que o mesmo segue
guardado em sua caixa, junto a outros presentes.
Kirill, que fez votos de pobreza quando tomou os hábitos de
monge, insistiu que a fotografia publicada pela imprensa ucraniana se trata de
uma montagem e que com sua indumentária não pode usar relógio de pulseira
durante os serviços religiosos.
Pouco depois de Soloviov ter revelado o conteúdo de sua conversa
com o líder da Igreja Ortodoxa Rússia, alguns blogueiros postaram na internet
uma foto de Kirill em cujo pulso esquerdo supostamente estava o já famoso relógio.
A foto data também de 2009, mas sua particularidade é que ela
foi publicada justo no site oficial do Patriarcado de Moscou.
Logo após a difusão da imagem, esta foi retirada pelos
administradores da página oficial.
A polêmica talvez não tivesse ido além, mas a foto voltou a ser
publicada, desta vez retocada: o relógio desapareceu do pulso de Kirill, mas é
observado claramente seu reflexo no verniz da mesa onde o patriarca apoia o
braço.
O 'milagre' do relógio começou a percorrer os foros na rede, o
que obrigou o escritório de imprensa do Patriarcado a declarar que uma jovem
que trabalhava com o arquivo gráfico o apagara por erro.
As perguntas dos jornalistas sobre qual era o relógio usado por
Kirill na ocasião acabou não sendo respondida de forma oficial.
'Não é costume nosso nos fixarmos no relógio usado pelo
patriarca', disse o diácono Aleksandr Volkov, número dois do escritório de
imprensa do líder religioso russo, citado pelo periódico 'Novie Izvestia'.
A história do relógio não foi a única a colocar Kirill nas
páginas da imprensa por assuntos muito distantes do mundo religioso.
A imprensa lembrou há alguns dias o processo civil envolvendo
Lidia Leonova, uma prima de segundo grau de Kirill, que vive em um apartamento
em Moscou que foi cedido ao patriarca pelas autoridades em meados da década de
1990.
Leonova processou por danos e prejuízos o vizinho do andar de
baixo, o ex-ministro da Saúde Yuri Shevchenko, e o Tribunal de Moscou condenou
o ex-funcionário a pagar a ela uma compensação de 20 milhões de rublos (US$ 680
mil).
Os juízes deram razão à prima do patriarca, que argumentava que
o pó proveniente de reformas no apartamento de Shevchenko a obrigou a fazer
obras em sua casa.
Segundo o bispo de Smolensk e Viazma, Panteleimon, as críticas
ao patriarca não são mais que um cúmulo de 'intrigas e calúnias'.
'Acho que tudo isto não tem nada a ver com o patriarca, e sim
com gente que divulga todo tipo de imundícies. Nosso povo, educado em tempos
soviéticos, perdeu toda a nobreza interior', indicou Panteleimon em entrevista
publicada no último número da revista ortodoxa 'Neskuchni Sad'.
O bispo acrescentou que o bolchevismo fez os russos 'perderem o
respeito às autoridades, que se encontram acima deles'.
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