sexta-feira, 27 de abril de 2012

VALE A PENA COMPRAR CARRO NOVO E FINANCIADO?


Desvalorização dos carros dificulta devolução em caso de inadimplência


SÃO PAULO - A desvalorização rápida que os automóveis zero quilômetro sofrem é a grande vilã do consumidor que deseja devolver o veículo, por dificuldade de arcar com a dívida.
De acordo com o professor do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana), Creso de Franco Peixoto, os automóveis desvalorizam dois dígitos percentuais no primeiro ano e mantêm significativa taxa de desvalorização nos anos seguintes, até a sua "morte econômica", no final da vida útil. “Ao término do primeiro ano de pagamento do longo e barato financiamento em ambiente de esfriamento de produção industrial, inadimplentes encontram valor residual do financiamento maior do que o valor real do bem”, completa.
Segundo Peixoto, há veículos com depreciação de 40% no primeiro ano. Financiados em valor integral e linear por 60 meses, paga-se 20% do bem no primeiro ano. Uma diferença de 100% em relação ao valor do consumo veicular, na data do primeiro aniversário. “Com isso, fica devedor se quiser devolver”, conta.
Financiamento Segundo Peixoto, a baixa taxa de juros do financiamento se torna armadilha. “Caso tivesse optado por leasing, arrendamento com direito de compra ao final, devolveria simplesmente o veículo e ainda não pagaria IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Esta é a melhor solução?”, questiona.
De acordo com o professor, a emoção incita os compradores. Ele ainda afirma que exemplos de marketing automobilístico exultam beleza, enquanto esquecem custos. “Financiadoras mostram felizes compradores assinando contratos. Não há propaganda que cite custos anuais ou que apresente o risco da prestação vencida, tal como ocorre em propaganda de cigarros, que deixam claros os riscos do tabagismo”, completa.
“Carro deve ser comprado após se avaliar custos e necessidade. Muitos compram gigantescos veículos para levar a família em raro passeio anual, enquanto usam o produto de forma solitária, nas cotidianas viagens casa-trabalho-casa”, comenta.
Peixoto ainda avalia que é possível viver sem ter um carro, desde que sejam oferecidas as condições necessárias para o uso do transporte público. “Sim, é possível não precisar ter carro! Infelizmente, a típica oferta brasileira do transporte público ainda não premia esta possibilidade”, afirma.
Sem a dívida do carro para pagar, o consumidor poderia investir o dinheiro em outros bens. “O dinheiro do carro poderia ser aplicado no mercado financeiro. Imóveis, bens efetivos de aplicação de capital, que desvalorizam menos de 2% ao ano, seriam ideais para o longo prazo e com risco baixo. Minimizaria a deseconomia popular do consumismo desenfreado”, completa.
Mercado De acordo com o professor, a facilidade de financiamento nos últimos dois anos, com longo prazo de pagamento e parcela reduzida, se contrapõe ao prazo de 60 meses para pagar, pois soma-se ao quadro de desaquecimento da indústria, à carga tributária excessiva e aos elevados custos da energia elétrica, fatores de desaquecimento econômico. “O resultado desta operação matemática tende a zero”, explica.
Para o especialista, a política de financiamento veicular fácil se mostra, portanto, insustentável. “Alie-se ao quadro da forte motorização e de insuficientes recursos e ineficientes programas de implantação e ampliação do transporte público. Projeta cenário de congestionamento urbano sob modelo de saturação, quando os atrasos nas viagens evoluem geometricamente”, afirma.
Ele ainda explica que a o quadro de inadimplência vem da estratégia de venda de carros baseada no fato de que, para classes D e E, basta viabilizar o valor da prestação, tirando o foco do valor final e da taxa de juros. “Carro sem entrada, carro sem saída”, declara.

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