Desvalorização dos carros dificulta devolução em
caso de inadimplência
SÃO PAULO - A desvalorização rápida que os automóveis zero
quilômetro sofrem é a grande vilã do consumidor que deseja devolver o veículo,
por dificuldade de arcar com a dívida.
De acordo com o professor do curso de Engenharia Civil do Centro
Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana), Creso de Franco Peixoto,
os automóveis desvalorizam dois dígitos percentuais no primeiro ano e mantêm
significativa taxa de desvalorização nos anos seguintes, até a sua "morte
econômica", no final da vida útil. “Ao término do primeiro ano de
pagamento do longo e barato financiamento em ambiente de esfriamento de
produção industrial, inadimplentes encontram valor residual do financiamento
maior do que o valor real do bem”, completa.
Segundo Peixoto, há veículos com depreciação de 40% no primeiro
ano. Financiados em valor integral e linear por 60 meses, paga-se 20% do bem no
primeiro ano. Uma diferença de 100% em relação ao valor do consumo veicular, na
data do primeiro aniversário. “Com isso, fica devedor se quiser devolver”,
conta.
Financiamento Segundo Peixoto, a baixa taxa de juros do
financiamento se torna armadilha. “Caso tivesse optado por leasing,
arrendamento com direito de compra ao final, devolveria simplesmente o veículo
e ainda não pagaria IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Esta é a melhor
solução?”, questiona.
De acordo com o professor, a emoção incita os compradores. Ele
ainda afirma que exemplos de marketing automobilístico exultam beleza, enquanto
esquecem custos. “Financiadoras mostram felizes compradores assinando
contratos. Não há propaganda que cite custos anuais ou que apresente o risco da
prestação vencida, tal como ocorre em propaganda de cigarros, que deixam claros
os riscos do tabagismo”, completa.
“Carro deve ser comprado após se avaliar custos e necessidade.
Muitos compram gigantescos veículos para levar a família em raro passeio anual,
enquanto usam o produto de forma solitária, nas cotidianas viagens
casa-trabalho-casa”, comenta.
Peixoto ainda avalia que é possível viver sem ter um carro, desde
que sejam oferecidas as condições necessárias para o uso do transporte público.
“Sim, é possível não precisar ter carro! Infelizmente, a típica oferta
brasileira do transporte público ainda não premia esta possibilidade”, afirma.
Sem a dívida do carro para pagar, o consumidor poderia investir o
dinheiro em outros bens. “O dinheiro do carro poderia ser aplicado no mercado
financeiro. Imóveis, bens efetivos de aplicação de capital, que desvalorizam
menos de 2% ao ano, seriam ideais para o longo prazo e com risco baixo.
Minimizaria a deseconomia popular do consumismo desenfreado”, completa.
Mercado De acordo com o professor, a facilidade de financiamento
nos últimos dois anos, com longo prazo de pagamento e parcela reduzida, se
contrapõe ao prazo de 60 meses para pagar, pois soma-se ao quadro de
desaquecimento da indústria, à carga tributária excessiva e aos elevados custos
da energia elétrica, fatores de desaquecimento econômico. “O resultado desta
operação matemática tende a zero”, explica.
Para o especialista, a política de financiamento veicular fácil se
mostra, portanto, insustentável. “Alie-se ao quadro da forte motorização e de
insuficientes recursos e ineficientes programas de implantação e ampliação do
transporte público. Projeta cenário de congestionamento urbano sob modelo de
saturação, quando os atrasos nas viagens evoluem geometricamente”, afirma.
Ele ainda explica que a o quadro de inadimplência vem da
estratégia de venda de carros baseada no fato de que, para classes D e E, basta
viabilizar o valor da prestação, tirando o foco do valor final e da taxa de
juros. “Carro sem entrada, carro sem saída”, declara.
Nenhum comentário:
Postar um comentário