Papa ordena investigação de vazamento de documentos do
Vaticano
CIDADE
DO VATICANO, 25 Abr (Reuters) - O papa Bento 16 criou uma comissão de cardeais
para investigar os vazamentos de documentos importantes à mídia, os quais
tratavam de corrupção e má gestão no Vaticano.
Os documentos incluem cartas privadas para o papa de um
arcebispo que foi transferido para Washington depois que denunciou o que chamou
de nepotismo na concessão de contratos, além de documentos alegando conflitos
internos sobre o Banco do Vaticano.
O Vaticano disse que a comissão seria composta por três cardeais
aposentados: o espanhol Julian Herranz, o eslovaco Jozef Tomko e o italiano
Salvatore De Giorgi.
Segundo um comunicado, eles "conduziriam uma investigação
oficial e "lançariam luz" sobre como os vazamentos aconteceram.
O escândalo, que passou a ser conhecido como "Vatileaks",
envolveu o vazamento de uma série de documentos para a imprensa italiana em
janeiro e fevereiro.
Uma reportagem na TV em janeiro divulgou cartas particulares ao
secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, ao papa, escritas pelo
arcebispo Carlo Maria Vigano, ex-vice-governador da Cidade do Vaticano e agora
embaixador da Santa Sé em Washington.
Vigano foi vice-governador de 2009 a 2011, e também foi chefe de
um departamento responsável por manter os jardins, edifícios, ruas, museus e
outras infraestruturas da pequena cidade-estado, geridos separadamente de Roma,
que a rodeia.
As cartas mostram que Vigano foi transferido para os Estados
Unidos depois de ter exposto o que ele chamou de uma teia de corrupção
relacionada com a concessão de contratos do Vaticano para empreiteiros
italianos a preços inflacionados.
Vigano reclamou em uma carta de uma campanha difamatória contra
ele por autoridades do Vaticano que não gostaram de ele ter adotado medidas
drásticas para limpar os procedimentos de compra. Ele pediu para ficar no cargo
até terminar o que tinha começado.
Bertone respondeu ao caso com a remoção de Vigano do cargo três
anos antes do término de seu mandato e o enviou para Washington, apesar de sua
forte resistência.
BANCO DO VATICANO
Outros vazamentos incluem um conflito interno sobre o quão
transparente o Banco do Vaticano deveria ser.
O Banco do Vaticano, formalmente conhecido como o Instituto para
as Obras de Religião, vem tentando deixar para trás escândalos passados. O
Vaticano quer entrar na "lista branca" de países que cumprem
plenamente as normas europeias de transparência financeira.
A Santa Sé já anunciou uma investigação criminal por sua própria
força policial sobre os vazamentos, além de um inquérito administrativo.
Qualquer funcionário comum considerado responsável por vazar
material sigiloso poderia perder o emprego, enquanto clérigos poderiam receber
punição canônica.
Investigações criminais são muito raras no Vaticano. Uma das
mais extraordinárias foi aberta após Cedric Tornay, um guarda suíço de 23 anos
cuja promoção foi rejeitada, ter matado seu comandante e a esposa, antes de
cometer suicídio em 1998.
O investigador do Vaticano concluiu que Tornay agiu em "um
acesso de loucura".
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