Ásia: geleiras em cordilheira ganham volume
e confundem cientistas
Algumas geleiras que cobrem montanhas na Ásia estão desafiando
uma tendência global de derretimento e ficando mais espessas, dizem cientistas.
Especialistas franceses usaram informações colhidas por satélite para
demonstrar que geleiras em partes da cadeia Karakoram, a oeste da região do Himalaia,
estão ganhando massa.
Não se sabe ao certo por que isso estaria acontecendo, já que
geleiras em regiões do Himalaia estão perdendo massa. As geleiras nessa região
são pouco estudadas, embora sejam fonte vital de água potável para mais de um
bilhão de pessoas.
A resposta das geleiras do Himalaia ao aquecimento global tem
sido um tema polêmico desde 2007, quando um relatório do Painel
Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), incluiu
uma afirmação errônea de que o gelo que cobre a maior parte da região poderia
desaparecer até 2035.
Embora sejam com frequência vistas como pertencentes à
cordilheira do Himalaia, tecnicamente, as montanhas Karakoram são uma cadeia
separada que inclui K2, o segundo pico mais alto do mundo.
A maior parte da região é inacessível, e há um reconhecimento
geral de que mais investigações são necessárias para esclarecer o que estaria
acontecendo.
Modelos
de elevações
Os cientistas franceses, do Centre National de la Recherche Scientifique e
Université de Grenoble, compararam dois modelos de elevações sobre a superfície
da terra obtidos a partir de observações por satélites, um datando de 1999, o
outro, de 2008. Suas conclusões foram publicadas na revista científica Nature Geoscience.
O método que a equipe usou para medir e comparar o volume de
gelo sobre a cordilheira Karakoram já foi usado antes em outras cadeias de
montanhas, mas ele é complexo.
(O método) "não é usado com mais frequência porque esses
modelos de elevações são bem difíceis de conseguir - você precisa de condições
de céu límpido e camadas reduzidas de neve", disse a líder do estudo,
Julie Gardelle.
Outros fatores que podem mudar a altura da superfície de gelo,
além de mudanças no próprio gelo, também precisam ser levados em consideração.
Feitos os cálculos, a equipe concluiu que, entre 1999 e 2008, a massa das
geleiras na região do Karakoram, com 5.615 km², aumentou por uma pequena
margem, embora haja variações amplas entre geleiras individuais.
Quadro
Nebuloso
As razões para esse fenômeno não são conhecidas, embora estudos em outras partes do mundo tenham revelado que a mudança climática pode levar a um aumento em precipitações em regiões frias. No caso de regiões suficientemente frias, essas precipitações acabam sendo acrescentadas à camada de gelo já existente no local
"Não
sabemos a razão", disse Gardelle à BBC. "Nesse momento, acreditamos que isso talvez
se deva a um clima regional muito específico (que existe) sobre (as montanhas)
Karakoram, porque medições meteorológicas vêm mostrando um aumento em
precipitações no inverno", disse. "Mas isso, nesse estágio, é pura
especulação".
Qualquer que seja a explicação, está claro que essa tendência
contrasta com o que vem ocorrendo em outras áreas da região do Himalaia e do Hindu
Kush, onde vivem cerca de 210 milhões de pessoas e onde geleiras funcionam como
reservatórios de água para cerca de 1,3 bilhão de pessoas que vivem nas bacias
dos rios abaixo delas.
No final do ano passado, o International Centre for Integrated
Mountain Development (Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado da
Montanha, Icimod, na sigla em inglês), com sede em Katmandu, divulgou
informações mostrando que, em dez geleiras estudadas com regularidade, o índice
de perda de gelo tinha dobrado desde a década de 1980.
No entanto, o centro também deixou claro que as informações
sobre a região são esparsas, e que essas dez intensamente estudadas geleiras
integram um conjunto de 54 mil geleiras.
Medições feitas pelo satélite GRACE, que detecta variações
minúsculas na força gravitacional da Terra, também identificaram uma perda de
massa na região como um todo.
Em comentário publicado na revista Nature Geoscience, Graham
Cogley, cientista da Trent University, em Ontário, no Canada, primeiro a
questionar publicamente a previsão do IPCC em relação ao ano de 2035, comentou
que interpretar os diferentes dados sobre perda de massa de gelo obtidos por
métodos diversos "vai manter os glaciologistas ocupados por algum
tempo".
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