Mais
ignorante não é
O famoso Padre Levy, que gostava mais de voto do que de Deus,
era candidato a deputado estadual na região de Patos, na Paraíba. Disputava a
eleição com o deputado José Gaioso, velho sertanejo atrasado e desabusado. Na
campanha, o Padre Levy fez, com sucesso, uma passeata de jumentos em Santa
Terezinha, então distrito de Patos. Os aliados de Zé Gaioso cobraram dele uma
reação. Zé Gaioso mandou arranjar um burro novo, forte, para atravessar a vila
e chegar à feira montado. Quando montou, o burro saiu pulando e derrubou Zé
Gaioso na frente de todo mundo. O deputado mal conseguiu levantar-se, todo
quebrado e dolorido. Avançou no burro, pegou uma orelha, deu uma dentada que
lhe deixou sangue escorrendo na boca e gritou bem no pé da orelha :
-
"Você pode ser mais burro do que eu. Mas mais ignorante não é não."
(Do grande narrador Sebastião Nery)
Demóstenes e as oposições
As oposições saem feridas do tiroteio que abate o senador
Demóstenes Torres. A razão é simples : ele encarnava um canhão das oposições.
Atirava quase todos os dias no governo e nas malfeitorias que enxergava. Logo,
seu nome se incrusta no arsenal oposicionista. Derrubado, o senador goiano
atinge, na queda, o baluarte que fustigava os paredões situacionistas. O DEM,
que pediria a expulsão do senador da sigla caso ele não houvesse se antecipado,
mesmo assim sai chamuscado do episódio. Como já o fora por ocasião da renúncia
do governador do DF, José Roberto Arruda.
O novo artilheiro
O presidente do DEM, que acumula a liderança do partido no
Senado, José Agripino, vai de ter de esperar um pouco até poder recuperar o
poder de fogo. Porque sair atirando agora, quando um de seus companheiros é
flagrado em gravações comprometedoras pela PF, seria um bumerangue. O projétil
acabaria caindo sobre sua cabeça. Por isso, as oposições vão ter de procurar um
novo artilheiro. Quem se habilita ? Aécio Neves, que já começou a disparar
tiros mais fortes ? Aécio é mineiro. E mineiro acaba embalando o tiro em
pacotes de algodão. Para amortecer o impacto.
Usando as próprias pernas
Se
quereis atingir as alturas, usai as vossas próprias pernas.
(Nietzsche em Zarustra)
Situação confortável
Vejamos, agora, o affaire Demóstenes sob a perspectiva do
situacionismo. Parcela expressiva de governistas gostaria de apertar os
cinturões do governo Dilma. Os deputados queixam-se de que as verbas aprovadas
no Orçamento são liberadas a conta-gotas. Deram alguns recados. E aí os
recursos começaram a ser despejados nas regiões. Mas continua a existir certa
má vontade do Executivo para com as demandas parlamentares. Daí o motivo de
continuada insatisfação. Mas o episódio que assola o senador goiano acaba
contribuindo para arrefecer ânimos situacionistas mais exaltados. Ou seja, na
esteira do enfraquecimento das oposições, os governistas mais aguerridos também
perdem fôlego.
Pacote cheio
Desta vez, ao que parece, o pacote para amparar a indústria veio
cheio. O governo deixará de arrecadar cerca de R$ 10 bilhões. Entre as medidas,
uma é bem expressiva : desonerar empresas de 15 setores mais afetados pela
crise da economia mundial (11 setores e mais quatro contemplados no programa
Brasil Maior - confecções, couro e calçados, tecnologia da informação e
"call centers"). O governo libera-as do pagamento dos 20% de
contribuição patronal do INSS, barateando, assim, o custo do trabalhador.
Atraso nas obras
As obras para a Copa do Mundo de 2014 estão muito atrasadas.
Faltando 800 dias para o início da competição, 8 das 12 arenas exibem apenas
50% de realização. Só duas obras estão mais adiantadas : o estádio Castelão, em
Fortaleza (60,4%) e os estádios de Belo Horizonte e Salvador, ambos com 55%. O
de Brasília está com 54%. Os mais atrasados são os estádios do Beira-Rio, em
Porto Alegre, com 20%; a Arena das Dunas, em Natal, com 20,5%; o Itaquerão, em
São Paulo, com 30% e o Maracanã, no Rio de Janeiro, com 39%.
Razão e loucura
Há
sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre, também, alguma razão na loucura.
(Nietzsche em Zaratustra)
Pré-candidatos
Há 131 pré-candidatos no Congresso : 13 do PT; 19 do PMDB; 20 do
PSDB; 10 do PSB: 14 do DEM; 10 do PSD; 9 do PR; 3 do PV; 6 do PC do B; 2 do
PDT; 2 do PPS; 2 do PSC; 2 do PTC; 4 do PP; 1 do PRP; 1 do PT do B; 1 do PMN; 3
do PV e 3 do PRB. Pode haver algumas desistências.
Campanha paulistana
As atenções se voltam para a campanha paulistana. A interrogação
que todos fazem é : Lula conseguirá carregar seu pupilo, Fernando Haddad ? Este
consultor aventura-se a responder : sim. Apesar de Lula não ter dado a vitória
a Marta Suplicy, na campanha para a prefeitura, ou a Aloizio Mercadante, para o
governo do Estado, o PT tem obtido, em todos os pleitos, um índice em torno de
30% dos votos na capital. Cada campanha é diferente de outra. Lula poderá obter
um resultado melhor neste pleito. Tudo vai depender do clima ambiental.
A geografia do voto
O clima ambiental, por sua vez, é movido por fatores que começam
na economia. Ou, em outros termos, o voto obedece a uma geografia peculiar. A
geografia do voto começa no bolso. Quanto mais espaçoso o bolso e mais dinheiro
guardar, maior o índice de satisfação do eleitor. A seguir, a geografia do voto
abriga o espaço do estômago. O estômago, por sua vez, vale-se das geladeira;
quanto mais cheia, mais satisfeita a barriga do eleitor. Geladeira cheia
depende, claro, do bolso. Pois bem, continuemos com a geografia do voto. O
espaço adiante é o do coração. Estômago satisfeito manda um recado para o
coração e este envia a mensagem para a cabeça, que é o destino final. Ou seja,
o coração comovido diz à cabeça : vamos agradecer a situação e votar no perfil
que está no nosso coração.
Transformar-se no inimigo
"Transformar-se
no inimigo é colocar-se no lugar do adversário. Notamos que, em geral, existe
uma tendência de julgar forte o inimigo, mesmo sendo ele um ladrão que, após
cometer um roubo, se fecha numa casa. Mas, se soubermos nos colocar no lugar
desse inimigo, veremos o quanto ele deve se sentir perdido ao ter que enfrentar
todo o mundo ou fugir. Aquele que se isola é, pois, um faisão, e o que acossa
para matá-lo, um falcão. Essa situação exige uma boa reflexão."
(Miyamoto Musashi)
Quem será o beneficiário ?
Dito isto, indaga-se : quem será o beneficiário final do
processo ? Quem receberá o voto em agradecimento do coração e do estômago ?
Eixos de apoio
É evidente que a geografia do voto também é desenhada por outros
eixos que figuram na planilha da política : a proximidade entre o candidato e o
eleitor; simpatia gerada pelo perfil; empatia, que liga ainda mais o candidato
do eleitor; boa apresentação pessoal - semântica (expressão) e estética
(maneira de se vestir, falar, gesticular, etc.); histórico do candidato e
experiências anteriores junto ao eleitor; visibilidade; programas de ação,
projetos, compromissos, principalmente os que envolvem a micropolítica (coisas
voltadas para o cotidiano dos moradores das regiões e bairros, etc.).
Capital e trabalho
"Quando
o capital se acovarda, o trabalho morre." (Olavo Bilac)
Empate em Porto Alegre
Manuela D'Ávila (PC do B) está tecnicamente empatada com o
prefeito José Fortunati (PDT), segundo pesquisa feia pelo Correio do
Povo/Instituto Methodus. A vantagem de Fortunati sobre Manuela é ínfima,
variando de 0,9 ponto percentual a 3,1 pontos. As chances de Manu são muito
boas, até porque ela encarna renovação, mudança, avanço, valores ansiados pela
comunidade política.
Justiça do Trabalho
Ante recurso feito por espólio de técnico de informática
falecido em acidente de trânsito, o TST, em recente decisão, responsabilizou a
empresa contratante pela morte e consequente indenização por danos morais à
família do mesmo. A Corte entendeu que a função de "técnico de
informática" é de risco, uma vez que exige o constante deslocamento por
estradas. Fica no ar a indagação : a responsabilidade pela segurança nas
estradas não é do governo ?
Dano social
A mesma Justiça do Trabalho começou a condenar empresas por dano
social. Quando alguém é demitido e fica desempregado, mesmo por uma semana,
entende a Justiça do Trabalho que a empresa que o demitiu causou um "dano
social". Portanto, deve indenizar a sociedade por meio de multas e
recolhimentos extraordinários ao Fundo de Amparo ao Trabalhador. Mais uma
indagação fica no ar : qual o destino dos impostos recolhidos e de
contribuições compulsórias ?
Alavancas do discurso I
Nesse momento, os pré-candidatos começam a se preparar para o
pleito. Este consultor oferece pequena ajuda, mostrando como conseguir a adesão
dos ouvintes e participantes de um evento de massa ao discurso. Como conseguir
atrair a atenção da multidão ? Pincemos pequenas lições dos clássicos da
política. Existem alguns símbolos detonadores e indutores do entusiasmo das
massas em, pelo menos, quatro categorias. Eis as quatro alavancas psíquicas :
1.
Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os
programas, associando-se a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato
precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa.
2.
Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate à coisas ruins
(administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as
mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando,
para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento
de comprovação do discurso.
Alavancas do discurso II
3.
Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da
experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa
abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas
qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o
discurso consegue muita eficácia.
4.
Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que
usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à
solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das
massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais
homogêneas.
Sede de poder
Nordeste,
capital da sede
E é com sede que a sede cresce
E o Poder a poder da sede
Não deseja que a sede cesse.
E é com sede que a sede cresce
E o Poder a poder da sede
Não deseja que a sede cesse.
Quem
sepulta um cristão na rede
Vai vivendo a poder de prece
É sertão num pé-de-parede
Vendo tudo morrer de "EDE"
Pois ali já beberam o "S".
Vai vivendo a poder de prece
É sertão num pé-de-parede
Vendo tudo morrer de "EDE"
Pois ali já beberam o "S".
(Jessier
Quirino - Prosa Morena)
Conselho aos ministros do STF
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a
políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi
destinado aos organizadores da Rio+20. Hoje, sua atenção se volta aos ministros
do Supremo Tribunal Federal :
1. A
sociedade brasileira espera que o STF coloque em sua pauta o caso do mensalão.
Todo esforço se faz necessário para que não haja protelação.
2. Nesse
momento em que tanto se questiona a transparência das Cortes Judiciárias do
país, o julgamento do caso mais rumoroso/escandaloso de nossa história política
recente redundará em significativo avanço para a credibilidade da Justiça.
3.
Quanto mais se postergar a decisão sobre o mensalão, mais versões fantasiosas,
suspeitas e interrogações se multiplicarão, com danosos efeitos sobre a imagem
da Instituição Jurídica.
____________
Nenhum comentário:
Postar um comentário