Por CPI, Planalto negocia indicações para cargos com
aliados
BRASÍLIA,
18 Abr (Reuters) - O Palácio do Planalto voltou a negociar cargos e indicações
políticas com partidos aliados nos últimos dias como forma de evitar ser vítima
de fogo amigo na CPI que vai investigar as relações de agentes públicos com o
empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar uma
rede de jogos ilegais, afirmaram fontes ouvidas pela Reuters.
O temor dos articuladores políticos do governo é de que a CPI,
que deve ser instalada na próxima quarta-feira, sirva de palco para a vingança
de aliados insatisfeitos com o tratamento recebido pelo Planalto - em especial
indicações para estatais e cargos públicos.
Há preocupação do Planalto com a fidelidade dos aliados,
confirmou à Reuters uma fonte do governo, sob condição de anonimato. Segundo a
fonte, a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, voltou a se
reunir na terça com o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN) para
"aparar as arestas".
"O PMDB preocupa pelo tamanho da bancada, mas também pelo
histórico", disse outra fonte do governo, ao relembrar a rejeição pelo
Senado de um nome indicado por Dilma à Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT). A não recondução, decidida em voto secreto, foi para a conta
do PMDB, principal aliado na coalizão que elegeu Dilma.
Na conversa com Alves, Ideli se comprometeu a monitorar
nomeações e acelerar o processo. Na segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff
- que sempre insiste no discurso de que não há "toma lá, dá cá" na
relação do Executivo com o Legislativo - já havia nomeado um nome de Alves para
a direção do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). A
indicação dormia no Planalto havia pelo menos dois meses.
Segundo a fonte, a atuação na CPI de parlamentares do PMDB, que
tem a segunda maior bancada na Câmara e terá muita força na comissão mista,
preocupa o governo. Outros aliados também devem receber "afagos" do
Planalto nos próximos dias para garantir que a CPI não seja utilizada como arma
política para atingir o governo.
"Os deputados da base estão bem felizes com a perspectiva
da CPI", afirmou um parlamentar aliado do governo ao comentar a
necessidade do Executivo de melhorar a relação com o Congresso em épocas de
CPI.
Oficialmente, o discurso do governo tem sido de não
interferência nas decisões do Legislativo. O presidente da Câmara dos
Deputados, Marco Maia (PT-RS), tem dito que em momento algum recebeu pedido do
Planalto para evitar ou atrasar a CPI.
DISPUTA NO PT
Enquanto monitora aliados, o Planalto acompanha a disputa
interna na bancada do PT na Câmara para a indicação do nome do relator da CPI.
A presidência ficará com o PMDB do Senado.
Segundo uma fonte do PT, a disputa é entre o grupo do presidente
da Casa, Marco Maia, e do líder do PT, Jilmar Tatto (SP), que tem a simpatia de
Ideli, contra nomes como o do ex-líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza
(PT-SP).
"É o grupo petista da Dilma contra o grupo petista do
Lula", brincou um deputado aliado.
Tatto afirmou que a decisão sobre o nome do relator será tomada
até terça-feira. Os dois principais candidatos são Odair Cunha (MG), que tem
apoio do Planalto, e Cândido Vaccarezza, nome defendido pelo ex-presidente
Lula.
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