Governo quer facilitar entrada de médicos formados no
exterior para trabalhar no Brasil
A ideia é corrigir a falta
de profissionais no interior do país, nas periferias e nos programas de
assistência básica. Para o governo, a carência precisa ser solucionada o quanto
antes. E medidas estão sendo analisadas.
Todos
os anos, centenas de novos médicos saem das universidades brasileiras. Ainda
assim, faltam profissionais no interior do país, nas periferias das grandes
cidades, nos programas de assistência básica. E nem mesmo salários de R$ 20 mil
ou R$ 30 mil atraem o interesse de médicos.
O Governo Federal está estudando uma série de medidas para
corrigir essas distorções. Uma delas é facilitar a validação do diploma de
médicos estrangeiros, para que eles assumam as vagas.
Entidades médicas já disseram que vão entregar aos ministérios
da Saúde e da Educação um manifesto contra essa medida. Já os pacientes que
percorrem longas distâncias para conseguir atendimento esperam que a medida
comece logo e que faça efeito.
Na porta do hospital, Maria das Graças Oliveira Bernardo
esperava havia 12 horas pela consulta. A aposentada depende do SUS e reclama:
“todos os lugares em que você vai, falta médico. Não tem médico. Não tem médico
ginecologista, médico clínico, não tem médico disso, não tem médico daquilo”.
O Brasil tem hoje mais de 370 mil médicos registrados nos
conselhos de medicina, o que representa uma média de dois profissionais para
cada grupo de mil habitantes, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. É
menos do que na Argentina, no Uruguai e em Cuba, por exemplo. Para o governo, a
carência de profissionais precisa ser solucionada o quanto antes. Por isso,
algumas medidas estão sendo analisadas.
O Governo Federal quer estimular a formação de novos médicos e
pretende incentivar a criação de mais vagas em universidades que tenham cursos
de Medicina bem avaliados pelo MEC. Por outro lado, se discute o afrouxamento
das exigências para um médico formado no exterior trabalhar no Brasil.
Entre as medidas em estudo pelo governo, está a possibilidade de
oferecer um estágio de até dois anos para os médicos vindos de fora. O curso
seria pago pelo poder público, e o profissional trabalharia na rede do SUS e no
Programa de Saúde da Família. Ao fim do estágio, o médico teria o diploma
automaticamente validado no Brasil.
“Acho que não deveriam entrar. Um país que já está com fama de
quinta economia mundial ter que importar serviço de saúde é brincadeira”,
critica o joalheiro José Mendes. “Desde que atuassem com amor. Muitos trabalham
sem amor, não têm um pingo de atenção com uma pessoa ali jogada”, afirma a
aposentada Elza Méier.
Hoje, um profissional vindo de fora precisa revalidar o diploma
fazendo um teste em universidades brasileiras ou passando pela prova do
‘revalida’, do Ministério da Educação. Mas o índice de reprovação é alto. No
ano passado, dos 677 candidatos inscritos no ‘revalida’, só 65 passaram.
A nefrologista Zaida Cabrera veio da Bolívia e para conseguir
trabalhar no Brasil foi até o estado do Mato Grosso, duas vezes, fazer a prova
de revalidação do diploma de médica. Ela diz que foi difícil, mas justo: “eu
acho justo e até para a própria população, para a saúde do indivíduo, a saúde
de varias comunidades que vão ter no poder do médico como tal”.
Entidades que representam a classe médica no Brasil argumentam
que no país há profissionais em número suficiente e são contra facilitar a
entrada de médicos formados em outros países.
“São pessoas que não têm uma formação adequada para exercer a
medicina em nosso país. Nós temos a certeza de que o problema é outro, que é a
falta de políticas públicas para fixar os médicos nesses municípios mais
distantes onde existe a carência de profissionais. Sem política pública, ou
seja, sem laboratórios, exames complementares, radiológicos e as possibilidades
de realização de procedimentos, não há como fixar um médico nessas regiões”,
declara o presidente da Associação Paulista de Medicina, Florisval Meinão.
Números do Conselho Federal de Medicina comprovam a diferença na
quantidade de médicos pelo país. No Sudeste, a média é de três médicos para
cada grupo de mil habitantes. No Norte e Nordeste, tem apenas um médico para a
mesma quantidade de habitantes.
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