Exclusividade e preço levam brasileiros a casar no
exterior
Renata e Alan fecharam
pacote com castelo na Itália por R$ 98 mil.
Especialistas apontam que
festa similar sairia R$ 150 mil no Brasil.
Alexandre Samour e Mariana Rodrigues Pimenta se casaram em vinícola em Portugal
A
indústria casamenteira no Brasil tornou-se tão cara que começa a afugentar os
próprios noivos. Mesmo quem é do ramo, como a decoradora de festas Renata
Salvadego, 35, e consegue bons descontos com os fornecedores, reconhece que
ficou mais em conta fazer a festa fora do país. A dela vai ser em um castelo na
Toscana, a 20 minutos de Florença, na Itália.
Renata está pagando R$ 98 mil por um pacote com comida, bebida,
bolo, doces, iluminação, decoração, fotógrafo, quarteto de cordas, DJ, padre e
ainda as passagens dos noivos e hospedagem por 5 dias. No Brasil, segundo
especialistas, um casamento do mesmo nível não sairia por menos de R$ 150 mil.
“Tudo aqui é terceirizado, e isso encarece demais a festa.
Então, por exemplo, o fornecedor do bem-casado é um, o da forminha onde ele é
servido, outro, o da embalagem, um terceiro. Na Europa, você paga um preço
fechado, que dá direito a tudo de primeira”, diz a cerimonialista Camila Relva,
32.
Dependendo
da empolgação dos noivos, a festa no Brasil pode seguir uma planilha de 40
itens e custar R$ 300 mil. De acordo com a Associação de Profissionais,
Serviços para Casamento e Eventos Sociais (Abrafesta), em apenas um dia os
casamentos de São Paulo consomem 1,4 milhão de flores, 400 mil doces e mais de
mil horas de filmagem.
Ao escolher casarem-se na Toscana, Renata e seu noivo, o
corretor de valores Alan Cardoso, 30, não desembolsaram um tostão a mais com a
lua-de-mel, uma vez que já estarão no destino.
Alguém pode argumentar que os convidados gastarão com passagem e
hospedagem aquilo que Renata economizou na festa. Mas ela diz que isso não foi
impeditivo para que 100 pessoas, até agora, confirmassem presença. Com a
vantagem, diz ela, rindo, de que ninguém vai por obrigação.
“Eles estão curtindo horrores. A maioria aproveitou para
estender um pouco e fazer uma viagem de férias. No fim, meu casamento vai durar
5 dias. A gente já está programando passeios maravilhosos pela região.” O
casamento está marcado para setembro.
O aluguel do Castello di Vincigliata é por 5 horas. Para ter uma
ideia, no Brasil, se a noiva não quiser pagar por apenas uma hora de igreja
(para evitar de ser precedida e seguida por outras cerimônias) ela terá de
“comprar” todos os horários do dia (coincidentemente, o equivalente a 5 horas)
por cerca de R$ 15 mil. Isso, depois de enfrentar alguns meses de fila de
espera. Ok, as igrejas em questão são as mais concorridas de São Paulo, e as
festas, as mais incríveis. Mas na Toscana a igreja é um castelo, e a festa,
exclusivíssima.
Dezoito destinos
Os profissionais que produzem esses casamentos afirmam que é possível escolher entre 18 destinos idílicos nos EUA, França, Itália, Polinésia, Portugal. "Da África a Zanzibar", diz a empresária Jacqueline Mikhail, da gência de turismo Be Happy.
Os profissionais que produzem esses casamentos afirmam que é possível escolher entre 18 destinos idílicos nos EUA, França, Itália, Polinésia, Portugal. "Da África a Zanzibar", diz a empresária Jacqueline Mikhail, da gência de turismo Be Happy.
Ela, que no próximo dia 10 lança o livro "Destination
wedding, o casamento como destino", explica que a fantasia da noiva
costuma ser, em si, uma viagem: "Existe cliente que quer ter um casamento
de princesa e traz o cenário dos seus sonhos para um bufê em São Paulo; e tem a
que que só se contenta com um castelo de verdade. Essa faz viaja, faz in
loco."
Na bem sucedida experiência do fotógrafo Alexandre Samour, 32, e
da dermatologista Mariana Rodrigues Pimenta, 33, que se casaram em outubro de
2011 em uma vinícola na região do Douro, em Portugal, os garçons que serviram
os convidados eram estudantes universitários de gastronomia. "Eles sabiam
tudo sobre os pratos, inclusive como fazê-los. Imagina quanto você não pagaria
no Brasil por esse serviço", diz Mariana.
Se por um lado a lista de convidados é mais enxuta, por outro os
noivos estão dispensados de cumprimentar aquela parentada distante, ou os
amigos de infância dos pais - que eles mal conhecem. "A fila diminui
bem", brinca ela.
Para a apresentadora Ana Carolina Scaff, que se casou há 10 dias
em Punta Del Este, no Uruguai, o único senão foram as concessões que teve de
fazer para se ajustar à cultura local. "Precisei substituir o bem-casado,
na minha festa, pelo alfajor."
Ana Carolina escolheu casar-se em Punta porque ela, que é de
Cuiabá, e o marido, de São Paulo, queriam a festa em uma cidade de praia.
Abrir mão do bem-casado não chegou a ser uma decisão amarga,
especialmente se se levar em conta que, dependendo da doceira, da forminha e da
embalagem, o tradicional bolinho recheado com doce de leite pode chegar a
custar R$ 15 cada um. Calculam-se três por convidado.
Qualquer um concordará, ainda que temporariamente, que não há
nada mais delicioso nesse mundo que um bom alfajor.
Carol Scaff posa para foto após casamento em Punta del Este, no Uruguai
Casamento de Carol Scaff e Guilherme Golombek em Punta del Este, no Uruguai
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