"A CPI que todos apoiam e ninguém
quer"
O título acima é de uma reportagem do
jornal "Valor Econômico" de sexta-feira e define com perfeição os
rumos que o pedido de investigação das estripulias financeiras do
"corretor zoológico" Carlinhos Cachoeira no Cerrado (Goiás e
Brasília) e, provavelmente, alhures. Depois do entusiasmo inicial, os
governistas, principalmente o PT, estão procurando agora uma forma de evitar a
CPI ou, ao menos, torná-la inócua. E a oposição, que seria, segundo cálculos
iniciais dos petistas, a grande vítima da Comissão, e somente aceitou a
investigação porque, como minoria, não tinha outra saída, agora olha o circo
governista pegar fogo.
A CPI e o Planalto
Dilma já espalhou sua proverbial
irritação por todos os lados depois que percebeu que : (1) as investigações
podem tumultuar o Congresso e prejudicar votações importantes na Câmara e no
Senado; (2) os aliados insatisfeitos podem aproveitar o momento para jogar
combustível na fogueira e ainda fazer suas prosaicas cobranças (vulgo
chantagem); (3) um dos prováveis alvos da CPI, a Construtora Delta, queridinha
de Cachoeira, é queridinha também das obras do PAC; (4) O PT, com o governador
Agnelo Queiroz, também está na roda, ou seja, a bomba não deve estourar apenas
nas mãos do PSDB (Marconi Perillo) ou do DEM (Demóstenes Torres) e companhias
belas. A estratégia agora será ir segurando o quanto der a instalação da
Comissão. Para isso, foi providencial o período que o senador Sarney passará internado
em SP. A esperança é que, com esse jogo morno, dê tempo para a Comissão de
Ética do Senado propor e o plenário cassar Demóstenes e a punição deixar a
opinião pública satisfeita e relaxada.
Lembranças de outra CPI
Muitos dos que alertam para os riscos do governo da CPI lembram-se de um
episódio que poderia ter mudado os rumos do governo Lula, ocorrido na CPI do
Correios, a que desvendou o mensalão : acuado, o publicitário Duda Mendonça
confessou que havia recebido parte do dinheiro por seus serviços prestados da
campanha presidencial de 2002 em dólares e no Exterior. Foi quase o fim do
mundo. Quem estava em Brasília e no Congresso aquele dia viu petistas com
lágrimas nos olhos de desespero. Poderia ter sido o fim do governo Lula. E o
ex-presidente, para evitar um provável processo de impeachment, chegou até a
admitir a possibilidade de não se candidatar à reeleição no ano seguinte. A
oposição, não se sabe bem por quais razões se acomodou - diz-se que esperava
Lula sangrar sem precisar que ela brigasse. É o que dizem : se um publicitário
escolado como Duda escorregou diante dos parlamentares, o que pode acontecer
com gente mais inexperiente ou com contas a ajustar com o governo, nesta CPI do
Cachoeira ?
O medo baixou
Segundo uma analista com trânsito nos meios político e jurídicos, com a
decisão da semana passada autorizando o aborto de fetos anencéfalos, o STF deu
mais uma demonstração de que, em questões de grande relevância (ou no
"atacado"), não "decepciona". Foi assim, também, na
confirmação da validade da Lei Ficha Limpa. Pode até vacilar no
"varejo", porém não titubeia no essencial. Foi essa percepção, que
não passou despercebida no mundo político, que levou parte dos governistas a
considerar totalmente inoportuna uma fala do presidente do PT, Rui Falcão,
tentando ligar a CPI do Cachoeira ao mensalão. No dia seguinte à divulgação da
gravação de Falcão, ele mesmo tentou explicar que não era bem assim e petistas
de escol cuidaram de dizer que uma coisa não tem nada com a outra coisa. Baixou
o medo de que tal posição pudesse irritar os ministros do Supremo, pois pode
parecer uma tentativa de pressionar o tribunal no julgamento do caso dos
mensaleiros. Tudo que não se quer nos meios governistas é um Supremo irritado.
Aliás, o que o PT quer mesmo é evitar qualquer julgamento do mensalão este ano.
Para isto é que estão trabalhando os advogados dos mensaleiros, principalmente
o ex-ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos. Aliás, Thomas Bastos, por
coincidência, também é advogado de Carlinhos Cachoeira.
Demasiado desumano
É certo que Lula não sabe ficar
quieto, e tem comichões quando vê um palanque. Mas quem viu a participação dele
no evento do PT sábado em São Bernardo do Campo, quando o ex-presidente teve de
suspender seu discurso por um acesso de tosse, percebeu que não são nada
corretas as exigências que o PT está fazendo a seu principal líder para
participar das campanhas municipais desde agora. O tratamento a que Lula se
submeteu exige que ainda passe por um período de repouso quase absoluto.
Notícias do manicômio tributário - I
Na coluna da semana passada,
lembramos que, a partir do momento em que as dobras do mais recente pacote de
incentivo à indústria lançado pela presidente Dilma fossem desvendadas, outros
aumentos de impostos poderiam aparecer, além do reajuste no IPI dos cigarros e
mais Cofins nas importações. Pois bem, já apareceu um. Na MP 563, estão
embutidos possíveis aumentos no IR e CSLL das empresas, como registra a
exposição de motivos que acompanha a MP : "Como algumas das alterações
introduzidas pelos artigos 38 e 40 da MP podem implicar aumentodo
tributo (grifo nosso), em atenção ao princípio da anterioridade foi
estabelecido que a produção de efeitos ocorreria em 2013".
Notícias do manicômio tributário - II
Depois da leitura mais acurada da MP
563, da troca da contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de salários
por um percentual de 1% a 2% sobre o faturamento de 15 setores da indústria, as
empresas começam a descobrir que a operação será tão confusa que em muitos
casos pode até não compensar a mudança. E que vai encarecer os serviços
contábeis fiscais das companhias. Só um exemplo : uma mesma empresa pode ter
produtos desonerados e outros não, o que exigirá que ele faça separação dos
custos com a folha para cada produto, pois uns continuarão recolhendo 20% e
outros 1% ou 2%.
A dona dos juros
Quem define o tamanho dos juros no
Brasil é a presidente Dilma. O ministro Guido Mantega é o transmissor do fato
consumado e o BC o executor, quando é o caso. Na "guerra" do spread o
BC continua calado. Aliás, o ministro da Economia de Dilma é...Dilma Rousseff.
No contexto atual a queda dos juros é possível em função da
tranquilidade cambial e da inflação. Assim sendo, uma queda de mais 0,75% da
taxa básica para 9% ao ano é provável. Os elementos analíticos do BC devem
reforçar a tendência declinante dos juros, mesmo porque a recuperação da
demanda doméstica não será tão rápida quanto se imagina, algo além deste ano.
O limite dos juros básicos
Há dois limites que devem ser obedecidos ex ante pelo governo no atual
contexto de redução de juros. O primeiro é a inflação controlada, a qual não se
pode fazer maiores previsões altistas. Os fatores de elevação da inflação estão
quase todos controlados. Apostar em alta contínua dos preços neste momento é de
alto risco. O segundo é o risco do país, representado pela diferença entre os
juros dos títulos do Tesouro dos EUA e a remuneração dos títulos soberanos do
país. Este spread gravita atualmente ao redor de 3,5% ao ano. Logo, se somarmos
uma inflação anual prevista de 4,5% com o risco país, a taxa de juros doméstica
presumivelmente "neutra" do país seria de 8%. Este nos parece o
limite da taxa de juros básica no atual contexto.
Movimento das commodities e
fundos hedge
Sabidamente, uma das razões para a tranquilidade da macroeconomia
brasileira diante dos colapsos financeiros dos últimos anos nos países de
capitalismo central é o fluxo expressivamente positivo advindo do segmento das commodities.
Pois bem : há um discreto movimento dos denominados hedge funds reduzindo
posições nesta categoria de ativos. Dados da Commodity Futures Trading
Commission, entidade fiscalizadora dos EUA, mostram que desde o final do
ano passado os contratos de commodities detidos pelos fundos hedge caíram
quase dez por cento. Em alguns casos, a queda das posições foi acentuada, como
no caso do cobre (-84%). Este movimento pode se acentuar em função da
expectativa de redução da atividade econômica da China. Eis um dado para ser
observado atentamente. É crucial para o Brasil.
A primeira vítima
A "guerra" do spread já fez sua primeira
vítima : o presidente da Febraban, Murilo Portugal. Ex-dirigente do FMI,
Portugal não deverá perder o emprego, mas perdeu a utilidade para os banqueiros
: não é mais interlocutor aceitável para o governo Federal. Em 2006, quando o
mesmo Guido Mantega, nesse caso em apoio de Lula, como o que está tendo de
Dilma, começou um movimento, via bancos oficiais também, para reduzir o spread bancário,
o então economista-chefe da Febraban, Roberto Luis Troster, deu uma entrevista
criticando a medida, dizendo que ela não daria certo. Pelo que se vê seis anos
depois, nessa nova investida do governo, os juros persistem elevados. Troster,
porém, perdeu o lugar. Há quem diga que Portugal vai para a geladeira por ter
enfraquecido a posição dos bancos particulares.
Erro de cálculo
Muitos dos que se incomodam hoje com algumas ofensivas, na área política
e econômica da presidente Dilma, como agora do spreadbancário, não
imaginaram o que sempre estava na cara : a presidente é diferente de seu
protetor, o ex-presidente Lula. Enquanto Lula é dado a acomodações, negociações
e conciliações, Dilma tem menos "cintura", é muito mais ideológica e
mais determinada a fazer acontecer aquilo que acredita.
A CUT e o imposto sindical - a farsa
Não deve ser colocada no rol das
coisas sérias a campanha da CUT contra o imposto sindical. No fundo ela retoma
um mote do Lula sindicalista, dela mesmo e do PT antes de apearem no Palácio do
Planalto. Só seria meritória se enterrasse de vez esta herança do getulismo e
forçasse os sindicatos e suas centrais a sobreviverem apenas da contribuição
voluntária de seus associados. Também associados voluntários. Não é bem isto o
que a CUT prega. Ela defende a substituição do imposto por outra contribuição
disfarçada do trabalhador, também compulsória, para filiados e não filiados.
Muda-se o nome para permanecer tudo como está.
O tempo político de Aécio
Um voo sobre a sucessão presidencial,
do lado da oposição, visto da terra das Alterosas :
1. Não passa pela cabeça do senador
Aécio Neves outra coisa que não ser o candidato tucano à Presidência, com o
apoio dos atuais aliados do PSDB, PPS e DEM e, provavelmente, com incorporação
de outros parceiros - PSB, PDT, PP, PTB e, se vingar, o PSD de Kassab.
2. Não adianta cobrar agora do
ex-governador mineiro uma oposição agressiva ao governo da presidente Dilma.
Primeiro, porque não é o estilo dele, mais voltado para o modelo do avô,
Tancredo. Depois, porque é contraproducente num momento de alta popularidade da
presidente.
3. O momento de Aécio é procurar
alianças e firmar sua imagem fora do circuito Minas - Rio de Janeiro -
Brasília. Fará cada vez mais viagens para outros Estados, para conquistar
tucanos e apresentar-se ao eleitorado.
4. Agora, ele fará apenas críticas no "atacado", procurando
mostrar os equívocos da política econômica e em outras políticas como de saúde,
educação. Chama-se a atenção para discursos que tem feito no Senado nesta linha
e artigos semanais na "Folha de S.Paulo". Por aí vai formando uma
espécie de plataforma de campanha. Acredita-se que Dilma começará a fraquejar
quando a economia entrar em dificuldades. Será, então, a hora de atacar. Não
antes do ano que vem, nem antes dele próprio Aécio se firmar como candidato com
visibilidade.
Sempre a imprensa
Em entrevista ao jornalista Fausto
Macedo, do "Estadão", o novo presidente do TRF da 3ª região, Newton
De Lucca, usando expressões como "jornalismo trapeiro",
"bandoleiros de plantão", "niquices", "meandros de
certos poderes midiáticos no Brasil" e que tais, defender a criação de um
"habeas mídia" no Brasil, lançado em seu discurso de posse.
Apesar do estilo e do linguajar, De Lucca não consegue disfarçar sua verdadeira
intenção que é de criar um instrumento capaz de constranger o livre exercício
da liberdade de imprensa. Nesse item ele corre na mesma linha de parcelas do PT
que nunca deixaram de sonhar com algum tipo de "controle social da
mídia" e pensam aproveitar uma possível CPI do Cachoeira para voltar ao
ataque a jornalistas e meios de comunicação. Em tempo : De Lucca é poeta, autor
dos livros "Pintando o Sete" e "Odes e Pagodes".
Radar NA REAL
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alta
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(1) Títulos públicos e privados com
prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
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