Ostra triploide resiste a chamada mortalidade de verão
Laboratório produziu dez
milhões de sementes da nova variedade.
Primeira safra brasileira triploides começa a ser colhida em julho em SC.
A
variedade de ostras triploides está sendo introduzida em Santa Catarina para diminuir o
problema causado pela chegada do verão, quando a água do mar esquenta causando
a morte de muitos moluscos. Todo o processo começa em laboratório.
As fazendas marinhas do estado concentram quase toda a produção
brasileira de ostras. O cultivo começou há 20 anos, depois que estudos da
Universidade Federal de Santa Catarina mostraram a boa adaptação da espécie às
condições do mar catarinense. A última colheita chegou a duas mil toneladas,
cerca de 24 milhões de ostras.
De acordo com os especialistas, as baías da grande Florianópolis
estão entre os melhores lugares do mundo para a produção de ostras porque a
água é rica em nutrientes e em boa parte do ano a temperatura fica entre 18º e
22º, considerada ideal para o crescimento do molusco. Essas características
permitem um ciclo curto de produção. As ostras levaram de seis a sete meses
para estar prontas para o consumo. O mesmo ciclo de produção em países como a
China, a França e Chile, precisa de quatro anos. O problema é a chegada do
verão, quando a temperatura da água sobe atingindo 30º, o que afeta as ostras.
"Isso faz com que as ostras entrem em processo reprodutivo,
fazendo com que elas percam energia e emagreçam durante esse processo todo do
verão. Isso faz com que também aumente a taxa de mortalidade dos animais tendo
uma sobrevivência de apenas 40% do que está na água", explica o criador
Fábio Brognoli.
A chamada mortalidade de verão é a grande inimiga dos
produtores, que perdem seis de cada dez ostras cultivadas. A solução do
problema passa pela biotecnologia. A empresa de Florianópolis especializada em
aquicultura usa o sêmen de ostras chilenas para produzir uma variedade mais
resistente. A importação do sêmen foi autorizada pelo Ministério da Pesca.
A fecundação em laboratório gera ostras triploides, ou seja, com
três conjuntos de cromossomos. É uma a mais do que as ostras cultivadas até
agora em Santa Catarina.
“Ela é muito mais resistente a águas quentes. A mortalidade, que
é de uma média de 50% em Santa Catarina, cai para o máximo de 5%, o que permite
que ela seja produzida até em estado do Nordeste brasileiro. Ela produz muito
mais carne e é estéril. Como é estéril e não se reproduz, ela não se torna uma
espécie invasora”, explica Vinícius Volpato, engenheiro de Aquicultura.
O laboratório já produziu dez milhões de sementes de ostras. Com
pouco mais de um milímetro, é bem mais fácil enxergá-las em um microscópio.
Essa produção representa 25% da necessidade anual dos maricultores
catarinenses.
“É uma aposta do setor. A gente pode comparar com a agricultura,
com as variedades de milho mais resistentes, adaptadas às regiões; às
variedades de soja que foram desenvolvidas no Brasil para várias regiões. Na
maricultura, a ostra triploide é essa adaptação para nossas condições de
produção no Brasil. A gente quer conciliar taxa de sobrevivência, qualidade de
carne e taxa de crescimento diferenciada que nós temos em relação ao mundo
inteiro”, esclarece Brognoli.
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