Vendas de produtos orgânicos
crescem e preços tendem a cair
RIO - O faturamento com produtos orgânicos cresce mais no Brasil
do que nos maiores mercados de alimentos e bebidas do mundo. Para receber essa
classificação, o alimento ou a bebida precisam ser produzidos sem agrotóxicos,
cultivados com manejo sustentável do solo e da água e respeito ao ecossistema
local. Segundo estimativas preliminares da consultoria Euromonitor, aumentou
9,8% em 2011 o valor total das vendas de alimentos processados e bebidas
orgânicas no país, depois de uma alta de 40,6% em 2010. Nos Estados Unidos, as
receitas subiram apenas 5,7% e na Europa Ocidental, 4,3%, o que também permitiu
ao Brasil crescer o dobro da média mundial (5,5%).
Sem considerar a venda de frutas, legumes e verduras, a
Euromonitor estimou que foram vendidos US$ 109,9 milhões em orgânicos no ano
passado, sendo US$ 89,5 milhões em alimentos processados e US$ 20,4 milhões em
bebidas como café, sucos e chás.
É uma evolução lenta, com produção ainda em pequena escala, já que
o faturamento total do mercado brasileiro de alimentos processados chegou a US$
115,7 bilhões e o de bebidas leves, US$ 24,3 bilhões. Ou seja, os orgânicos
representavam menos de 1% das vendas.
Mas segundo especialistas e varejistas, a popularização dos
orgânicos vai ajudar a reduzir a diferença de preços entre eles e os produtos
convencionais.
A Euromonitor estima que orgânicos são, no geral, de 60% a 100%
mais caros do que convencionais. Mas espera que essa distância caia para algo
em torno de 30% a 40%. E prevê que a venda de comida orgânica experimente um
crescimento de 41% entre 2010 e 2015, puxada por biscoito orgânicos.
Supermercados querem tirar de orgânicos imagem de 'ruins para o
bolso'
Nos supermercados, além de reservar gôndolas específicas para os
orgânicos, a meta é fazer com que eles deixem de ser conhecidos como "bons
para a saúde" e "ruins para o bolso".
- Queremos terminar com o estigma de que o produto orgânico é 100%
mais caro que o convencional . Os produtos de hortifruti ainda são 40% mais
caros que os convencionais, as carnes, com preços 36% superiores. Já os de
mercearia, como açúcar, farinha e barrinhas de cereal já conseguem ser bastante
atrativos e alguns até mesmo mais baratos - afirma o gerente comercial de
orgânicos do Grupo Pão de Açúcar, Marcos de Freitas.
Segundo Freitas, em 2011, os produtos orgânicos vendidos nas lojas
do grupo em todo o Brasil corresponderam a R$ 86 milhões em valor de vendas e a
previsão é que, neste ano, totalizem R$ 110 milhões.
A rede americana Walmart revende orgânicos de 451 famílias no
Brasil e diz que certifica a autenticidade dos hortifrutigranjeiros adquiridos
diretamente dos produtores. Gerente de agronegócios do grupo, Ari Biondo espera
ver aumentar a oferta nos próximos anos e, assim, reduzir a diferença de
preços:
- Existe uma conscientização mundial para consumir orgânicos, não
só no Brasil. Contribui para isso a redução de custos, já que o consumo
limitava-se à classe de poder aquisitivo mais alto.
Preço maior ainda é barreira ao consumo
Os preços ainda são a principal barreira para aumentar as vendas
de orgânicos na classe média brasileira. Na classe C (renda média familiar de
R$ 1.024 a R$ 2.565), faixa que abriga a metade da população brasileira, apenas
12,3% dos domicílios compraram orgânicos ao menos uma vez na semana da
entrevista, no fim de 2010, segundo pesquisa com 802 adultos da consultoria
Market Analysis
O consumo ainda é mais popular nas classes A e B, em que 30,6% das
famílias compraram esse tipo de produto na semana da entrevista, ainda de
acordo com a pesquisa.
- A grande alavanca da compra de orgânicos é a busca de alimentos
livres de agrotóxicos. Obviamente o produto vai ficar mais competitivo e
permite esse crescimento - diz Fabián Echegaray, diretor da Market Analysis e
responsável pela pesquisa.
Empresário da região serrana quer abastecer hotéis para Copa e
Olimpíadas
O empresário Dick Thompson, do Sítio do Moinho, em Itaipava, que
faz entregas em domicílios e ainda abastece de orgânicos cerca de 40
restaurantes no Rio, não acha que será com um preço menor que os orgânicos
cairão no gosto popular. Ele lembra que produtores de orgânicos utilizam maior
quantidade de mão de obra, têm escala inferior a produtores tradicionais e
ainda têm de pagar pela certificação nos órgãos responsáveis todos os anos.
- Eu pessoalmente acho que não vai acontecer nunca (de os preços
se igualarem) - afirma.
O Sítio do Moinho já tem uma loja própria no Leblon e pretende
investir na ampliação de pontos de venda, com outra loja que deve ser
inaugurada na Barra da Tijuca no primeiro semestre deste ano.
Outra aposta é o abastecimento de hotéis: um território ainda
inexplorado pela empresa. Segundo Thompson, eventos como a Rio+20, Copa de 2014
e Olimpíadas de 2016 despertam o interesse de hotéis de oferecer pratos
orgânicos, sobretudo, para atender à demanda de clientes estrangeiros mais
exigentes com a saúde.
Para ele, desde o início do negócio, há cerca de 20 anos, o que
mais evoluiu no mercado foi a conscientização do consumidor.
- As pessoas entendem que é um consumo diferenciado, mais nobre,
sem pesticida ou agrotóxico. O produto custa mais, mas não acho que deva ser
considerado como caro - afirma.
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