Com economia em alta, cresce
busca por cursos 'made in Brazil'
RIO
e SÃO PAULO - Uma companhia que profissionaliza mão de obra para construção
civil foi o projeto que a aluna Renata Daflon montou e tentou vender para o
professor e empresário americano Bob Caspe. No último dia de aula na
americana Babson College - considerada uma das escolas de negócios mais
importantes dos Estados Unidos -, desenvolver e apresentar o projeto de uma
empresa foi a atividade final da primeira turma de estudantes do Instituto
Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), no Rio, que foi cursar parte de um
MBA em Babson, no segundo semestre de 2011. A relação entre as duas
instituições é um exemplo do crescimento no número de cursos de pós-graduação
em negócios no Brasil que tem parcerias com universidades estrangeiras -
interessadas em conhecer mais o mercado nacional e que também têm mandado
cada vez mais alunos para cá. Com o Brasil ultrapassando uma crise que deixou
muitas nações europeias para trás e se tornando a sexta maior economia do
mundo, era de se esperar que não demoraria muito para o país atrair atenções
para seu ensino em negócios - ou o que as instituições estrangeiras já
passaram a chamar de cursos "Doing business in Brazil".
No
caso de Renata, de 32 anos e diretora de produção de uma gráfica no Rio, o
MBA em gestão de negócios incluiu uma semana de aulas e atividades sobre
empreendedorismo em Babson:
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Algo que percebi foi que eles já tinham muita informação sobre o mercado
brasileiro. O próprio Bob Caspe, que lá é tido como uma espécie de guru em
empreendedorismo, tem investimentos em empresas aqui; outro professor de lá
também já tinha vindo ao Brasil fazer negócio. Está todo mundo olhando para
cá.
Em
2011, dobro de alunos do exterior
Depois
da turma de Renata, o Ibmec já prepara um segundo grupo de alunos para mandar
para lá, no que é uma das mais de 30 parcerias que o instituto tem com
instituições estrangeiras.
-
Estávamos agora, por exemplo, numa reunião com a Universidade de Columbia (em
Nova York), para montarmos um curso "Doing business in Brazil" com
eles por meio do BricLab (centro de estudos sobre os Brics - Brasil, Índia,
Rússia e China -, inaugurado em 2011 em Columbia) - contava há cerca de dez
dias José Luiz Trinta, diretor de Negócios do Ibmec. - Espanha e França
também têm se interessado em mandar alunos para cá. O crescimento brasileiro
com a crise no exterior é o que tem estimulado esse interesse de instituições
estrangeiras pelo comportamento do mercado e dos executivos brasileiros. Além
disso, instituições de fora veem que, em vez de criar cursos novos para o
mercado deles, em crise, é mais interessante formar parcerias num mercado
como o brasileiro; montar, por exemplo, um double degree (no qual o aluno
adquire diploma em duas instituições).
A
vontade de empresas estrangeiras se expandirem no país é outra razão citada
por Trinta:
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Para companhias como L'Oréal, Telefonica e Santander, é interessante que seus
executivos sejam dos países de origem das empresas mas estudem sobre o Brasil
aqui mesmo.
MBA
executivo brasileiro com a melhor posição em ranking divulgado pelo
"Financial Times", o OneMBA da Escola de Administração de Empresas
de São Paulo (Eaesp) da FGV-SP (no 26 lugar) permite que o aluno passe até um
ano em outro país, diz Julia von Maltzan Pacheco, coordenadora de Relações
Internacionais da FGV-Eaesp.
A
escola tem hoje 94 parcerias internacionais, conta ela. E o número de alunos
que vêm de fora quase dobrou em 2011:
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Além de EUA e Europa, há também instituições de América Latina, Índia, China
e outros países asiáticos, por exemplo. Em 2010, recebemos cerca de 370
alunos de fora; em 2011, foram cerca de 680 - diz Julia. - Com a
estabilização e o crescimento, o país passa a ser seguro para negócios. Com a
classe média maior, vira um centro de interesse, o que foi mais reforçado
ainda com a crise e a falta de oportunidades em outros países.
Aos
26 anos, o aluno Rafael Moura Robles, do MBA Executivo do Instituto de Ensino
e Pesquisa (Insper), em São Paulo, destaca a infraestrutura que encontrou na
Darden School of Business, da Universidade de Virgínia, onde participou do
intercâmbio Global Business Experience no fim do ano passado. Numa semana de
curso intensivo, Robles lembra uma discussão de caso sobre racismo.
-
O assunto é espinhoso. Mas a conclusão a que chegamos me impressionou: nunca
ter receio de debater qualquer tema, sempre respeitando a opinião do outro -
diz, lembrando outra aula que o marcou, a simulação de uma negociação, na
qual determinada meta deveria ser obtida: - Houve polêmica entre os colegas,
e a conclusão do professor foi: "Tome sempre cuidado com o que você pede
à sua equipe".
-
Alunos de Darden também passaram a vir para cá, porque a escola incluiu
recentemente o Brasil no seu Global Business Experience. Eles vêm ter aulas
sobre mercados emergentes e questões culturais em negócios. Também recebemos
estudantes de outras escolas, como as universidades de Toronto (Canadá) e
Saint Gallen (Suíça) - completa o coordenador geral de MBAs do Insper, Silvio
Laban.
Além
de aulas, Laban destaca as visitas feitas a "empresas brasileiras como
Natura e Embraer, não a filiais de multinacionais":
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É uma imersão acadêmica e cultural. Uma das primeiras aulas é
"Diferenças culturais". Também falamos de diferenças como as de
sistema tributário.
Assim
como a Darden School, o Iese Business School, da Universidade de Navarra, na
Espanha, outra que é referência no setor, também escolheu o Brasil. Desde
2011 passou a oferecer, ao lado de módulos já existentes em Nova York e
Shangai, um módulo aqui, por meio do Instituto Superior da Empresa (Ise), em
São Paulo, representante brasileiro do Iese.
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É um módulo sobre a cultura de negócios em cada um desses três países - diz
José Paulo Carelli, diretor-executivo do Ise. - Mas não vemos alunos chegando
com o pensamento "vamos conhecer uma realidade totalmente nova". Já
chegam pensando em investir em empresas aqui ou realizar negócios.
Diretor
do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti lembra que, além da
experiência insubstituível para a aprendizagem dos estudantes, o intercâmbio
internacional traz um ganho a partir das relações criadas:
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Acabamos numa rede de contatos que tem desdobramentos como nossa participação
no exterior, ou a de convidados ao Brasil, em seminários, cursos e outras
atividades.
Participante
do Cambridge Advanced Programme on Rethinking Development Economics, da
Universidade de Cambridge, na Inglaterra, em 2003, Sarti diz ter passado, há
oito anos, pela experiência do surgimento do interesse pelo Brasil no mundo
acadêmico global:
-
Naquela época, Cambridge queria discutir problemas do então terceiro mundo.
Agora a dimensão é outra.
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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
NOVOS TEMPOS
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