Penúltima casa da Avenida
Atlântica, em Copacabana, é posta à venda por R$ 29,8 milhões.
RIO - Ela nem é tão bonita assim, mas pertence à realeza carioca e está
sendo cortejada por dezenas de pretendentes - alguns estrangeiros. Ninguém
parece se importar muito com o dote: para tomar posse de uma das últimas casas
da Princesinha do Mar, na orla de Copacabana, será preciso desembolsar, no
mínimo, R$ 29,8 milhões, valor exigido pela República da Áustria, dona do
imóvel de dois andares, instalado num terreno de cerca de mil metros quadrados
na Avenida Atlântica. Após a negociação, nada de final feliz: a casa, na altura
do Posto 6, será demolida para dar lugar a um prédio de alto luxo ou a um hotel
cinco estrelas. Com isso, restará apenas mais uma casa em frente ao mar de
Copacabana. Tombada, ela está protegida da especulação imobiliária. Em Ipanema
e Leblon, ainda restam quatro casas e um clube.
O destino da casa
rosa onde funcionou o Consulado da Áustria até 2009 já está traçado: no dia 16
de agosto, termina a primeira rodada da negociação. A Sivbeg, agente imobiliário
que representa a Áustria, receberá as propostas encaminhadas à Jones Lang La Salle
Hotel, empresa responsável pela intermediação do negócio. Depois de analisadas
as condições de pagamento dos interessados, serão selecionados alguns para uma
segunda rodada de negociações, onde o preço final oferecido vai ter papel
decisivo na hora de se bater o martelo. O negócio milionário, uma espécie de
leilão, é cercado de sigilo. Todos os interessados são obrigados a fazer um
acordo de confidencialidade:
- Quem der mais, vai
levar. Fizemos três avaliações para se chegar ao valor mínimo de R$ 29,8
milhões. A área permite a construção de prédios residenciais e hotéis.
Acreditamos que a rede hoteleira seja a maior interessada porque o potencial
construtivo para estes empreendimentos é maior - diz Roberta Oncken,
vice-presidente da LaSalle. - Já recebemos mais de uma dezena de interessados.
O endereço é muito disputado.
A Secretaria de
Urbanismo diz que o gabarito da área depende de vários fatores: se o prédio a
ser erguido vai ficar grudado na divisa dos vizinhos, ou não, se vai fazer
sombra na praia, entre outras variáveis. Especula-se no mercado que possa ser
erguido no terreno um prédio de até 13 andares. O mesmo vale no caso de hotéis.
- Nem passamos nada
sobre o gabarito para os interessados. Vai ser preciso apresentar o projeto à
prefeitura para depois saber exatamente o que é possível ou não - diz Roberta.
Especialista no
mercado imobiliário, Rubem Vasconcelos diz que nenhuma construtora deve ficar
desanimada diante do valor pedido. Segundo cálculos dele, é viável fazer um
prédio de sete andares, com apartamentos de 375 metros quadrados cada. Se cada
um for vendido por R$ 12 milhões, o negócio terá valido a pena:
- O edifício teria
que ser de alto luxo. O metro quadrado sairia a R$ 30 mil. É alto para a
Avenida Atlântica, mas bem menor do que o da Delfim Moreira, que pode chegar a
R$ 70 mil.
Em Copacabana, vizinhos
do imóvel que será derrubado estão divididos.
- Poderiam fazer um
centro cultural, um teatro. Ela é tão bonita, é uma pena que vá ser posta
abaixo - diz Inês Barbosa.
Já Adriana Barbosa
defende o fim da casa da Áustria:
- Está feia,
abandonada. Ficava mais bonito um prédio de luxo.
Uma casa de pedra, na
altura da Rua Santa Clara, será a única a resistir na Avenida Atlântica. Em
Ipanema, além da casa onde funciona o Centro de Cultura Laura Alvim, há o
Country Club e duas casas na esquina da Farme de Amoedo. Numa delas, funciona o
restaurante Vieira Souto, que guarda em quadros histórias da construção. Quem
visita o imóvel pode descobrir que dois amigos ingleses, identificados apenas
como Mister Roger e Mister Bailey, ergueram casas geminadas em 1938. Em 1951, a
família da médica Sylvia da Silveira Mello passou a morar na casa 234. Um
depoimento dela está na parede do restaurante. Alguns trechos mostram como o
bairro era diferente: "Na época, Ipanema só tinha três prédios".
Depois, outra passagem saborosa: "Eu ia com meus amigos à praia e tinha um
código com a casa. Usava toalhas sobre a barraca para pedir refrigerante,
sanduíches ou cerveja. Vendedor só tinha de refresco de limão, biscoito de
polvilho e pirulito".
A casa ao lado, de
outra família, virou um galpão abandonado. Sócio do restaurante, André
Vasconcelos, diz que a especulação é menor porque o imóvel é tombado.
No Leblon, o médico
Marcos Polônia, morador da última casa da Delfim Moreira, diz que sequer
consegue andar em paz pelo bairro, tamanha a quantidade de propostas que
recebe. Perguntado se não venderia o imóvel por R$ 30 milhões, como a casa da
Áustria, ele ri:
- Me ofereceram R$ 60
milhões. Mas vou sair daqui para quê? Não mesmo!
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