Putin seria dono de palácio digno de czar no Mar Negro?
Ex-aliado e
ativistas acusam líder russo de ter gastado rios de dinheiro público em
suntuosa mansão.
Na
encosta de uma montanha densamente arborizada com vista para a costa do Mar
Negro na Rússia, foi erguido um suntuoso palácio que muitos acreditam pertencer
ao líder russo Vladimir Putin, que teria usado enormes quantidades de dinheiro
público para erguê-lo.
Originalmente concebida, acredita-se, como uma modesta casa com
piscina, a construção agora ostenta uma magnífica fachada que lembra colunas
dos palácios de czares russos construídos no século 18.
Os enormes portões de ferro do pátio são cobertos com uma águia
dourada imperial. O complexo tem ainda jardins, um teatro privado, pista com
capacidade para três helicópteros e acomodações para guardas de segurança.
Não é difícil encontrar, na internet, imagens de satélite e
fotografias do local, assim como relatos de ativistas e operários que
trabalharam nas obras.
Difícil mesmo era tentar obter informações sobre quem pagou pela
construção.
Mas agora, com Vladimir Putin prestes a ser empossado para um
terceiro mandato como presidente da Rússia, pela primeira vez um importante
colaborador de Putin na empreitada veio a público.
Em entrevista ao programa Newsnight da BBC, Sergei Kolesnikov
deu detalhes de como a mansão foi construída, seguindo especificações do líder
para seu uso pessoal.
Kolesnikov, que agora trabalha na capital estoniana Tallinn após
deixar a Rússia, foi por vários anos um dos responsáveis pela construção do
palácio.
Ele diz que a obra representa um exemplo de 'corrupção do mais
alto escalão que ameaça destruir a economia do país'.
Equipamento médico
Kolesnikov diz que ele estava envolvido com dois amigos de Putin
- Nikolai Shamalov e Dmitri Gorelov -, em um esquema, proposto pelo próprio
Putin, para fornecer novos equipamentos a hospitais russos.
Vários oligarcas russos, incluindo o dono do time inglês de
futebol Chelsea, Roman Abramovich, doaram milhões de dólares para o projeto,
com o fim de modernizar hospitais da Rússia.
Kolesnikov diz que importou o equipamento médico com grandes
descontos, e que os milhões de dólares que sobraram foram, por sugestão de
Putin, colocados em empresas offshore - sem o conhecimento dos doadores - para
uso em outros projetos de investimento.
Esse fundos teriam sido usados para ajudar indústrias em
dificuldades, como a construção naval. Mas uma proporção cada vez maior deles,
segundo Kolesnikov, passou a ser destinada ao 'Projeto Sul' - como era chamado
o projeto do palácio do Mar Negro, perto da aldeia de Praskoveevka.
Kolesnikov disse à BBC que esteve em uma reunião com Putin em
sua casa de campo nos arredores de Moscou quando a questão do palácio foi
levantada diretamente.
Ele diz que o líder russo destacou seu poderoso
vice-primeiro-ministro, Igor Sechin, para discutir detalhes com ele. Após
várias reuniões com Sechin, Kolesnikow passou a coordenar os trabalhos de
construção diretamente no local, onde recebia instruções de Putin para
acessórios e mobiliário, passadas através do amigo e parceiro de Kolesnikov,
Nikolai Shamalov.
Segundo Kolesnikov, Shamalov não questionava essas instruções:
'Ele considerava que qualquer coisa que o czar decidisse, não era de nossa
conta discutir'.
Mas Koresnikov diz que ele começou a sentir repugnância pelas
altas somas sendo gastas com o palácio, e se desentendeu com seu sócio
Shamalov.
'Eu não tinha trabalhado 15 horas por dia, durante 10 anos para
construir um palácio', diz ele. 'Isso não me interessa.'
Carta aberta
Em dezembro de 2010, Kolesnikov escreveu uma carta aberta ao
então presidente russo, Dmitry Medvedev, detalhando seu envolvimento e os de
outros no projeto e descrevendo suas alegações contra Putin, então
primeiro-ministro.
A BBC tentou entrar em contato com Shamalov e outro ex-parceiros
de Kolesnikov, Dmitri Gorelov, mas suas empresas disseram que eles não estariam
disponíveis para comentar o assunto.
O porta-voz de Putin negou as acusações de Kolesnikov.
Oficialmente, o palácio pertenceu até recentemente a uma empresa
da qual Shamalov era dono parcial e agora pertence a outro empresário que
supostamente não está diretamente ligado a Putin.
Mas documentos obtidos por um dos poucos jornais da oposição da
Rússia, Novaya Gazeta e vistos pela BBC sugerem que o Kremlin omitiu a verdade
ao dizer que não teve qualquer envolvimento na construção do palácio.
Os documentos não provam que o palácio foi feito para o próprio
Putin, ou que ele esteve pessoalmente envolvido em sua construção. Mas o
certificado que permitiu a construção da mansão em terras do Estado foi
assinado pelo chefe do Departamento para Assuntos Presidenciais, Vladimir
Kozhin - que posteriormente negou saber qualquer coisa sobre o local.
Mas sinais de que Putin é o verdadeiro dono do local continuam
aparecendo. Quando ativistas anticorrupção se reuniram em frente ao palácio, no
ano passado, foram recebidos não só por seguranças particulares, mas também por
membros uniformizados do serviço de guarda oficial do Kremlin.
Mais tarde, a empresa de segurança privada afirmou que os seus
funcionários tinham simplesmente comprado os uniformes - e cartões de
identidade do Kremlin - em uma loja.
Kolesnikov diz que o palácio ainda se beneficiou da construção
de uma estrada que leva ao local e de uma linha de transmissão de energia
elétrica, ambas financiadas com dinheiro público.
'Se fosse apenas para o amigo de Putin, Shamalov, por que o
serviço de Guarda Nacional patrocinar e monitorar a construção do prédio? Por
que precisaria de três heliportos?'
'Uma pessoa privada não precisa disso. Mas para um presidente
são essenciais.'
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