PF INVESTIGA DESAPARECIMENTO DE R$ 5 MIL DA CASA DA MOEDA
Sumiço aconteceu em
janeiro de 2011, mas só agora polícia entrou no caso.
Comissão interna que apurou sumiço sugeriu arquivamento de investigação.
A Casa
da Moeda, considerada um dos lugares mais seguros do país, teve seu rigoroso
sistema burlado, conforme mostrou reportagem do Fantástico. Um total de R$ 5
mil, em 100 notas de R$ 50, desapareceu do local, em 14 de janeiro de 2011, sem
que até agora ninguém saiba onde foi parar o dinheiro.
O desaparecimento foi investigado por uma comissão interna da
Casa da Moeda e ficou guardado em segredo por mais de um ano pela presidência
da instituição. Sem descobrir onde foi parar o dinheiro sumido e sem ter certeza
do que aconteceu no dia do desaparecimento, a comissão acabou sugerindo, em
dezembro, o arquivamento do caso.
"A exteriorização do episódio", diz o relatório final,
"ecoa de forma negativa junto à sociedade, arranhando com certeza a imagem
de empresa segura". Só agora, oito meses depois de a investigação ter
terminado, a presidência da Casa da Moeda decidiu comunicar o caso à Polícia
Federal.
O delegado que vai investigar o caso diz que a Casa da Moeda
errou ao não informar o caso à Polícia Federal imediatamente.
“Eu considero um equívoco. Tomou conhecimento do fato, comunica
à Polícia Federal para instaurar o procedimento criminal, inquérito policial”,
diz o delegado Victor Hugo Poubel.
A Polícia Federal, agora, vai investigar se ocorreram outros
desvios.
O superintendente da Diretoria de Administração e Finanças da
Casa da Moeda, Álvaro de Oliveira Soares, que já ocupava o cargo quando as
notas sumiram, acredita que a quantidade de cédulas desaparecidas foi pequena.
E que o processo é seguro.
“O controle existe. Tanto que nós estamos falando de 100 cédulas
em 4 bilhões, que é o programa anual desse ano. Se você tem um controle que
detecta o desaparecimento de 100 cédulas num volume desses significa que você
tem um controle e que esse controle é efetivo”, acredita Álvaro de Oliveira
Soares.
Mas Soares diz que não é aceitável que se perca nem uma cédula sequer. “Não é aceitável perder nenhuma, mas acontece, e se acontece tem que ser apurado”, afirma Álvaro, sem saber dizer onde estão as notas.
Mas Soares diz que não é aceitável que se perca nem uma cédula sequer. “Não é aceitável perder nenhuma, mas acontece, e se acontece tem que ser apurado”, afirma Álvaro, sem saber dizer onde estão as notas.
O delegado Victor Poubel explicou que houve crime. “Fica
solidamente provado que realmente houve a subtração e a prática do crime. Essa
é a prova que a Polícia Federal precisa”, afirmou. “Alguém subtraiu. Dinheiro
não tem asa”, acrescentou.
O Banco Central, responsável por botar o dinheiro em circulação,
informou que essas notas são válidas. Quem tem uma dessas cédulas não cometeu
crime e ainda pode ajudar nas investigações.
As notas de R$ 50 desaparecidas estão entre os números de
série BA 27.787.201 e BA 27.787.300.
Descoberta
por acaso
A Casa da Moeda fica no bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde nascem os bilhões de reais que circulam todos os dias no país. Ninguém entra no local sem passar por um rigoroso sistema de revista.
O Fantástico teve acesso exclusivo aos documentos da comissão
interna que investigou o desaparecimento das notas.
O sumiço do dinheiro foi descoberto por acaso. No dia 15 de
janeiro de 2011, a funcionária responsável pelo controle de qualidade de
impressão percebeu que, em uma folha, havia um pequeno defeito. Um gerente
decidiu, então, verificar se outros lotes impressos no mesmo dia estavam com o
mesmo problema.
Ele entrou no local que deveria ser o mais seguro do prédio: o
cofre onde fica o dinheiro pronto para ser enviado ao Banco Central. Ao
verificar os lotes, que são numerados e lacrados com plástico, encontrou um dos
pacotes abertos. Ao conferir o conteúdo, o gerente percebeu que, em vez das mil
notas que deveriam estar ali, havia somente 900. Ou seja: 100 cédulas de R$ 50
tinham desaparecido.
Quando as imagens do circuito interno de segurança foram
revisadas, veio a descoberta de uma falha grave: a câmera número 3, que mostra
o setor de embalagem de notas já prontas, não cobria toda a área. Ou seja:
havia um ponto cego, um lugar onde alguém poderia estar sem ser detectado pelas
câmeras.
Segundo a comissão de investigação da Casa da Moeda, foi
exatamente o que fez um dos operadores de máquinas.
Luz vermelha na linha de produção
O operador trabalhava em uma máquina seladora, que lacra o lote de dinheiro com uma embalagem plástica. Às 14h45 do dia 14 de janeiro de 2011, uma luz vermelha se acendeu na linha de produção, indicando algum problema de qualidade.
Nesse momento, o funcionário pegou o lote de dinheiro, ainda sem
estar lacrado, e saiu do alcance da câmera, voltando em seguida. Enquanto isso,
outro lote foi reposto na esteira por uma funcionária. Um procedimento normal,
para dar continuidade à produção.
O operador, então, aparece fazendo a conferência das notas que
retirou. Ele devolve o lote para a máquina de embalagem, que lacra as cédulas.
Em seguida, outra funcionária, responsável por encaixar
proteções de papelão nos pacotes de dinheiro, percebe algo estranho no lote
manuseado pelo operador.
Ainda segundo o relatório da comissão de investigação, o
operador se aproxima da funcionária e diz algo. A mulher, então, libera o
dinheiro para o cofre.
No dia seguinte, quando o sumiço já tinha sido descoberto, os funcionários pararam a produção e fizeram um pente-fino para tentar achar o dinheiro. Máquinas de impressão foram desmontadas.
No dia seguinte, quando o sumiço já tinha sido descoberto, os funcionários pararam a produção e fizeram um pente-fino para tentar achar o dinheiro. Máquinas de impressão foram desmontadas.
Segundo a direção da Casa da Moeda, o lote de onde sumiram as
cédulas só foi manuseado pelo operador da máquina seladora.
Ele disse à comissão que "não tem ideia do que possa ter acontecido".
Ele disse à comissão que "não tem ideia do que possa ter acontecido".
Já a funcionária contou que "não se lembra do teor da
conversa que teve com o operador" e que pode ter sido algo sobre algum
problema no empacotamento das notas.
As ações do gerente também chamaram a atenção da comissão,
porque, ao abrir o lote onde faltavam as notas, ele destruiu o lacre que tinha
o nome de quem fechou pela última vez o pacote de dinheiro.
Na época em que o dinheiro sumiu, a instituição estava
modernizando as linhas de produção.
Segundo o texto do relatório, os funcionários não davam conta do trabalho e, por isso, havia até cédulas inacabadas, impressas pela metade, se acumulando no meio da gráfica. Várias eram guardadas até em sacos de lixo.
Segundo o texto do relatório, os funcionários não davam conta do trabalho e, por isso, havia até cédulas inacabadas, impressas pela metade, se acumulando no meio da gráfica. Várias eram guardadas até em sacos de lixo.
O presidente da Casa da Moeda na época era Luiz Felipe Denucci.
O afastamento dele da instituição nada tem a ver com o sumiço das notas.
Denucci foi exonerado do cargo, em janeiro, depois de denúncias de que teria
recebido propina de fornecedores da Casa da Moeda através de empresas no exterior.
Depois que máquinas lacram o dinheiro produzido, a Casa da Moeda
envia os lotes de cédulas para o Banco Central. De lá, o dinheiro é distribuído
para os bancos comerciais. Como o Banco Central não conta novamente os pacotes
recebidos, a falta de pequenas quantias só seria percebida nas agências do
varejo bancário.
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