Francisco Petros
Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira. Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000/02).
José Marcio Mendonça
Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde". Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).
Mercados nervosos
I
Dois países, duas
sociedades, decidiram que querem mudar o rumo das suas economias. A França e a
Grécia, esta última com maior intensidade, votaram neste último fim de semana e
a conclusão é que para os cidadãos o sofrimento com o desemprego e a depressão econômica
estão pesando muito para serem tratados como mero assunto econômico. A
liderança da Alemanha e a sua receita "tradicional" está sob risco.
Com isso, o mercado financeiro ficou novamente nervoso e temeroso de que um
cenário incrementado de risco venha a prevalecer. O certo é que na Grécia mais
de 50% dos jovens (até 30 anos) não tem emprego - a taxa de desemprego total é
de cerca de 25%. Na Espanha o cenário é igualmente grave. Na França está se
agravando. Em Portugal prevalece o pessimismo. E assim vai.
Mercados nervosos
II
Angela Merkel,
muito bem acomodada politicamente nas fronteiras alemãs, sabe que as coisas
mudaram e trabalhará para que tudo continue como dantes. Todavia, o tempo e o
sofrimento social não permitirão que os problemas sejam tratados como se as
economias funcionem como se fossem orçamentos domésticos. Lord Keynes já
descobriu nos anos 30 do século passado que num cenário depressivo receitas
tradicionais de nada servem. É preciso inventividade e liderança, ainda mais
quando a origem da crise surgiu pela irresponsabilidade dos governos no
tratamento de suas contas fiscais associadas a uma especulação secular. Nas
próximas semanas, as páginas políticas da mídia é que darão o tom dos mercados
e fazer apostas neste momento é tarefa arriscada. De nosso lado, a recomendação
é de cautela. De toda a forma, a tendência mais clara é que passaremos por uma
nova rodada de tensões nas próximas semanas. A começar pela Grécia dividida que
terá de anunciar para o seu povo que vem aí mais uma rodada de aperto fiscal
para pagar as contas de junho e julho. Quem viver, verá.
Riscos financeiros
A estabilidade do
sistema bancário europeu está mais do que tensa. O cenário de iliquidez está
voltando com tudo. Enquanto isso, as agências de classificação de riscos
continuam trabalhando como se fossem marinheiros do Titanic : sabem o que está
acontecendo, mas ficam com seus alertas inúteis.
Desconstruindo
Lula ?
Não por gosto, mas
por necessidade, o fato é que a presidente Dilma tem procurado afastar cada vez
a imagem de seu governo da de seu antecessor. Não passam despercebidos de
nenhum bom observador da cena política nacional os movimentos da presidente,
iniciado com a história da "faxina" - amainado em seguida porque,
insegura politicamente ainda, ela precisou de Lula para acalmar muitos aliados
- agora a faxina é retomada. O tiroteio contra os bancos, a firme determinação
de forçar o BC a continuar empurrando os juros básicos para baixo e a ousadia
política de alterar as regras de remuneração das cadernetas de poupança,
contrastam com a timidez de Lula nesta área. Auxiliares de Dilma discretamente
chamam a atenção para esta diferença entre os dois. Ousa-se até dizer que o
padrinho dela era um tanto submisso ao interesse do mundo financeiro e à
vontade do BC lembrando que o dito guardião da moeda era dirigido por um
ex-banqueiro, Henrique Meirelles, e hoje o é por um homem da instituição e com
uma diretoria de funcionários públicos comprometidos com a questão de Estado.
Mais evidências da
"faxina"
A ofensiva da
Dilma (com Graça Foster na presidência da Petrobras) para reduzir a influência
política na empresa, também é apresentada - e visto externamente - como parte
desse processo de "desconstrução" de certa herança lulista. Um
processo que atinge também parte do PT mais ligado ao ex-presidente,
especialmente sua vertente paulista. Dilma, avalia-se, continuará prestando
todas as homenagens que Lula merece, como a participação direta nas homenagens
que ele recebeu no Rio de Janeiro, das universidades públicas, na sexta-feira.
Até com direito a choro presidencial. Mas o distanciamento do estilo Lula de
governar será marcado cada vez mais.
Desconstruindo a
oposição ?
Sem alarde, mas
com atitudes de gosto popular, tal qual a cruzada contra os bancos e a campanha
dos juros baixos, a presidente está também tirando o fôlego da oposição. Seus
líderes não têm nada a dizer - de bom e de concreto - sobre essas últimas ações
da presidente. Nem propostas alternativas. Nem mesmo sobre as mudanças na
caderneta de poupança, um risco político calculado que Dilma resolveu tomar, os
oposicionistas sabem o que falar. Perplexos, sem discurso, parecem estar esperando
algum Godot : um possível, eventual fracasso das medidas da
presidente. Correm risco de completa inutilidade.
O PMDB
desconstruído
O partido de
Sarney, Temer, Jucá, Henrique Alves e Renan viu os movimentos para a convocação
da CPI com um sorriso maroto e com aquele arblasé de quem não tem
nada com os fatos e estava esperando o circo incendiar-se para cobrar alto
pelos serviços de bombeiro para controlar a crise que, ao gosto peemedebista,
engolfaria a oposição e o PT e pelo menos parte de gente do governo, com Lula e
Dilma. O PMDB de tantas batalhas inglórias sentia-se desta vez nas nuvens.
Mandou até um segundo time para a CPI. Errou o cálculo quando na liça entrou o
volúvel governador do Rio, Sérgio Cabral, amigo de fé e irmão camarada de
Fernando Cavendish e da empreiteira Delta. Sérgio Cabral nunca foi da cozinha
dos caciques peemedebistas, era mais lulista que tudo - e até ousou, em suprema
audácia, insinuar-se para uma vice-presidência de Dilma em 2014. Mas o comando
do PMDB, mesmo a contragosto, não pode jogar Cabral aos leões - respingaria no
partido, cujo currículo nesse campo nunca foi dos melhores. O PMDB já mergulhou
na CPI, agora não mais como um simples e isento observador. O momento de
"vestal" ao modo Demóstenes Torres dos peemedebistas durou muito
pouco.
A meta de Dilma
Sai
definitivamente do ar a meta de inflação e entra a meta do PIB. Todas as
decisões do governo só têm este objetivo : alavancar o crescimento da economia.
E como o ritmo ainda está lento para o lado da indústria, com estoques
elevados, não se descartam novas medidas de incentivo ao setor,
independentemente da baixa dos juros.
Conselhos do
Conselheiro
Do ex-ministro
Delfim Neto em artigo no jornal "Valor Econômico" :
"Devido à finitude dos fatores de produção
internos e do limite do crédito para financiar as importações, não é
permanentemente possível maximizar, ao mesmo tempo, o crescimento econômico e a
inclusão social sem produzir ou um aumento da taxa de inflação, que anula e
torna uma ilusão a inclusão social, ou um déficit em conta corrente não
financiável, que acaba matando ao mesmo tempo o crescimento e a inclusão. O
problema é físico e não ilidível por mágicas monetárias, fiscais ou cambiais".
Em tradução livre
: não é possível fazer a economia crescer a tapas e pontapés.
A batalha dos
juros
Enquanto os bancos
oficiais, por "indução" da presidente, ampliam os cortes de suas
linhas de crédito, os bancos privados, depois de reduzirem marginalmente suas
taxas, parecem ter adotado um modelo "Gandhi" - resistência passiva
para ver o que vai dar.
O credo
presidencial
Da presidente
Dilma no dia em que anunciou as alterações na poupança :
"Queremos um país com taxas de juros compatíveis
com aquelas praticadas no mercado internacional. Queremos que o nosso câmbio
não seja objeto de políticas [monetárias] expansionistas, que, de forma
artificial, sobrevalorizem a moeda brasileira e tornem também de forma
artificial os nossos produtos pouco competitivos. É a chamada amarra do câmbio. E
queremos que o país tenha impostos mais baixos para segurar a produtividade dos
seus produtos, dos seus processos de trabalho (grifo nosso)".
Para a primeira
oração do credo, Dilma já botou toda a sua fé, ameaça e os bancos oficiais no
ar. Para a segunda, está fazendo o que pode com o BC agindo para desvalorizar o
real. Nas duas, porém, nem tudo depende dela. A terceira, porém, a dos impostos
mais baixos, está totalmente no colo do governo e do Congresso. Por isso, a
pergunta : quando, com a mesma vontade do ataque aos juros, ela vai botar o
governo na linha dos impostos mais decentes. E como um todo e não apenas
pontualmente, para alguns setores apenas ?
Manda quem pode...
... obedece quem
tem juízo. O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou como iminente
a demissão do diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, um dos poucos
remanescentes da era José Sérgio Gabrielli na diretoria da empresa. Sem
subterfúgios, Graça Foster desmentiu secamente a informação. E Lobão calou. Que
a Petrobras não dá bola, a não ser formalmente, ao ministério das Minas e
Energia não é novidade. Lobão sabe das decisões da empresa na última hora,
quando elas são fato consumado - quando não sabe pela imprensa. No entanto,
alguns atribuem o "escorregão" do ministro, agora, a um lance
político calculado. Seria uma tentativa de embolar as mudanças que Graça Foster
está fazendo na direção da empresa, criar algum constrangimento para ela e
salvar a cabeça de dois protegidos do PMDB que também estão quase na porta da
rua : o diretor internacional, Jorge Zeleda, e o presidente da Transpetro,
Sérgio Machado. Inútil tentativa.
Fala quem pode
Estranha-se no
universo político o silêncio dos mais midiáticos dos ministros da presidente
Dilma : Aloizio Mercadante, da Educação, e Alexandre Padilha, da Saúde. Eles
estão agora falando para dentro ou, como diz em Brasília, roucos de tanto
calar. Outro cujo silêncio deixou de incomodar, falar agora somente sobre o que
é pertinente a sua área, deixou de ter opiniões próprias sobre a política
econômica, é o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. São coisas que confirmam
cada vez mais o temor que os auxiliares têm da presidente Dilma, de seus
humores e de suas cobranças.
Poupança : só as
cadernetas ?
Não há analista
sério, do ponto de vista econômico, estritamente técnico, que não tenha
aplaudido a presidente Dilma no caso da alteração das cadernetas de poupança.
Mas, há, pelo menos, três observações que são repetidas :
1.
Alterou-se a remuneração, mas não se eliminou a indexação.
2.
É preciso avançar na desindexação da economia brasileira, iniciada com o Plano
Real e nunca completada. Outras amarras emperram mudanças mais profundas no
sistema financeiro brasileiro.
3.
O governo pegou a sua parte na história, pois a alteração na caderneta visa
também garantir a manutenção dos clientes para os títulos da dívida pública.
Quando ela vai dar uma contribuição maior, reduzindo mais velozmente essa
dívida ?
4. Será preciso
atacar agora também os juros do crédito imobiliário.
A poupança e a
política
Em princípio,
Dilma não enfrentará resistências políticas no Congresso no caso das
cadernetas. Mas tudo vai depender de como a população reagirá, se ela vai
entender as mudanças, com regras mais complexas, e aceitá-las. O governo tem
agora pela frente uma batalha da comunicação e vai precisar da ajuda dos bancos
particulares. Por precaução, Dilma não saiu para defender a medida. Para atacar
os bancos, aproveitou todas as oportunidades possíveis. Nas cadernetas, deixou a
exposição mais para Mantega e o BC.
Os efeitos da
política de juros
Em que pese os
acertos que o governo tem conseguido na política de juros e de câmbio, não há
que se esperar uma taxa de crescimento robusta para este ano. Além dos efeitos
nefastos da crise internacional, tem-se de considerar que o emprego se
estabilizou, que a renda disponível dos assalariados está comprometida com
empréstimos do passado e a confiança do consumidor e do investidor está mais
baixa relativamente a fase de prosperidade do período entra 2009 e 2011. Talvez
tenha chegado o momento do governo fazer um "choque de gestão" no PAC
de forma a dar uma injeção de ânimo no setor privado.
Radar NA REAL
4/5/12
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TENDÊNCIA
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Cotação
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- Pós-Fixados
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NA
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baixa
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Câmbio ²
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- EURO
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1,3059
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estável
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baixa
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- REAL
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1,9206
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estável/baixa
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estável/baixa
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Mercado Acionário
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- Ibovespa
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60.820,93
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estável
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estável
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- S&P 500
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1.369,10
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estável
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alta
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- NASDAQ
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2.956,34
|
estável
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alta
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(1) Títulos
públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
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