Por baixo da burca: muçulmanas
investem em lingeries sensuais de Nova Friburgo
O Alcorão diz que todas as mulheres fiéis devem conservar seus
pudores e esconder seus atrativos. A máxima escrita no livro sagrado do Islã
justifica, segundo as crenças que regem alguns países, a imposição das longas
vestimentas que cobrem quase que por completo o corpo das mulheres muçulmanas.
No entanto, entre quatro paredes e debaixo das burcas, as regras caem
literalmente por terra. E a sensualidade ganha contornos bem brasileiros,
graças ao talento do empresário paulistano Amin Mazloum, que vive em Friburgo,
onde fabrica, há 14 anos, roupas íntimas que vêm balançando os alicerces das
uniões poligâmicas de alguns países. Da Yasmin Lingerie, em Olaria, saem calcinhas,
sutiãs e corpetes que arrebatam corações de diversas nacionalidades. Mazloum já
chegou a exportar mais de duas mil peças por mês para Arábia Saudita, Dubai,
Líbano e Jordânia e garante que, no fim das contas, as preferências nacionais e
internacionais são iguaizinhas.
Debaixo das pesadas e sóbrias vestimentas femininas se esconde uma
infinidade de cores e formatos. Mazloum conta que as calcinhas e os sutiãs que
conquistam as brasileiras são os mesmos que, nas arábias, enchem os carrinhos
das clientes em lojas especializadas e de departamentos, como as daqui.
Pelas bandas de lá, o fio dental e os cortes diminutos são os
prediletos. Tudo isso em cores sedutoras, como o vermelho e o preto, e com
detalhes dourados e de bijuterias, como dita o imaginário sexy no Ocidente ou
no Oriente.
Mazloum explica que a disparidade entre os trajes diurnos e
noturnos tem uma explicação mais complexa do que a da simples compensação, e
que passa pela concorrência dentro de casa:
- Como os árabes são polígamos, acho que a mulher muçulmana também
se preocupa em conquistar o marido e não ser substituída.
Há nove anos, Mazloum, filho de libaneses, vende lingeries
sensuais para Arábia Saudita, Jordânia, Dubai e Líbano. Antes da valorização do
real frente ao dólar, que, atualmente, dificulta as exportações, ele chegou a
comercializar mais de duas mil peças por mês.
Hoje, a exportação chega a apenas 7% da produção mensal, de dez
mil itens. O restante é vendido no Rio de Janeiro, em São Paulo, Minas Gerais e
no Nordeste
O empresário afirma que o o sucesso da lingerie segue o rastro dos
biquínis: enquanto as calcinhas e tangas europeias e americanas são mais
comportadas, as nacionais têm modelagem cavada, que valoriza o bumbum.
- Por causa do biótipo das árabes, porém, as peças de tamanho
médio são exportadas como pequenas e assim por diante - acrescenta o
empresário.
Com duas coleções montadas por ano, cada uma com cerca de 60 novos
modelos, Mazloum pode ser considerado um especialista no assunto, mas nem
sempre foi assim. Farmacêutico por formação, ele transitou por diversos países,
entre eles o Egito, onde exercia um cargo administrativo na embaixada
brasileira.
- Como a jornada de trabalho era curta, e eu já conhecia de cor
todas as pirâmides, eu e a minha mulher resolvemos fazer um curso de modelagem.
Quando voltei para o Brasil, em 1992, tentei fazer a primeira calcinha. Foi
desastre - confessa Mazloum.
Muitas tentativas e metros de tecido depois, o casal e os três
filhos se mudaram para Nova Friburgo de mala e cuia e começaram uma confecção
de lingerie.
- Não conhecíamos nem a cidade, mas quando cheguei fiquei
apaixonado. Aqui tem tudo o que eu gosto, das montanhas à mão de obra
qualificada - acrescenta o empresário.
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