sábado, 31 de março de 2012

ALGO MAIS POR BAIXO DA BURCA


Por baixo da burca: muçulmanas investem em lingeries sensuais de Nova Friburgo



O Alcorão diz que todas as mulheres fiéis devem conservar seus pudores e esconder seus atrativos. A máxima escrita no livro sagrado do Islã justifica, segundo as crenças que regem alguns países, a imposição das longas vestimentas que cobrem quase que por completo o corpo das mulheres muçulmanas. No entanto, entre quatro paredes e debaixo das burcas, as regras caem literalmente por terra. E a sensualidade ganha contornos bem brasileiros, graças ao talento do empresário paulistano Amin Mazloum, que vive em Friburgo, onde fabrica, há 14 anos, roupas íntimas que vêm balançando os alicerces das uniões poligâmicas de alguns países. Da Yasmin Lingerie, em Olaria, saem calcinhas, sutiãs e corpetes que arrebatam corações de diversas nacionalidades. Mazloum já chegou a exportar mais de duas mil peças por mês para Arábia Saudita, Dubai, Líbano e Jordânia e garante que, no fim das contas, as preferências nacionais e internacionais são iguaizinhas.
Debaixo das pesadas e sóbrias vestimentas femininas se esconde uma infinidade de cores e formatos. Mazloum conta que as calcinhas e os sutiãs que conquistam as brasileiras são os mesmos que, nas arábias, enchem os carrinhos das clientes em lojas especializadas e de departamentos, como as daqui.
Pelas bandas de lá, o fio dental e os cortes diminutos são os prediletos. Tudo isso em cores sedutoras, como o vermelho e o preto, e com detalhes dourados e de bijuterias, como dita o imaginário sexy no Ocidente ou no Oriente.
Mazloum explica que a disparidade entre os trajes diurnos e noturnos tem uma explicação mais complexa do que a da simples compensação, e que passa pela concorrência dentro de casa:
- Como os árabes são polígamos, acho que a mulher muçulmana também se preocupa em conquistar o marido e não ser substituída.
Há nove anos, Mazloum, filho de libaneses, vende lingeries sensuais para Arábia Saudita, Jordânia, Dubai e Líbano. Antes da valorização do real frente ao dólar, que, atualmente, dificulta as exportações, ele chegou a comercializar mais de duas mil peças por mês.
Hoje, a exportação chega a apenas 7% da produção mensal, de dez mil itens. O restante é vendido no Rio de Janeiro, em São Paulo, Minas Gerais e no Nordeste
O empresário afirma que o o sucesso da lingerie segue o rastro dos biquínis: enquanto as calcinhas e tangas europeias e americanas são mais comportadas, as nacionais têm modelagem cavada, que valoriza o bumbum.
- Por causa do biótipo das árabes, porém, as peças de tamanho médio são exportadas como pequenas e assim por diante - acrescenta o empresário.
Com duas coleções montadas por ano, cada uma com cerca de 60 novos modelos, Mazloum pode ser considerado um especialista no assunto, mas nem sempre foi assim. Farmacêutico por formação, ele transitou por diversos países, entre eles o Egito, onde exercia um cargo administrativo na embaixada brasileira.
- Como a jornada de trabalho era curta, e eu já conhecia de cor todas as pirâmides, eu e a minha mulher resolvemos fazer um curso de modelagem. Quando voltei para o Brasil, em 1992, tentei fazer a primeira calcinha. Foi desastre - confessa Mazloum.
Muitas tentativas e metros de tecido depois, o casal e os três filhos se mudaram para Nova Friburgo de mala e cuia e começaram uma confecção de lingerie.
- Não conhecíamos nem a cidade, mas quando cheguei fiquei apaixonado. Aqui tem tudo o que eu gosto, das montanhas à mão de obra qualificada - acrescenta o empresário.

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