Homem de R$ 282 milhões está de
volta ao TRT do Rio
RIO - Apontado num relatório do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf) como responsável por 16 movimentações financeiras atípicas
no valor total de R$ 282,9 milhões em 2002, o servidor do Tribunal Regional do
Trabalho do Rio (TRT-RJ) Rogério Figueiredo Vieira, de 51 anos, está de volta
ao trabalho desde o início deste mês. Vieira está lotado na Seção de Protocolo
Integrado, que funciona no prédio do tribunal da Rua do Lavradio, no Centro.
Ele ficou afastado do serviço, alegando problemas de saúde depois que o caso ganhou
repercussão, em fevereiro. Agora, ele tenta levar uma vida normal.
A repartição onde Vieira dá expediente é responsável por coordenar
o serviço de distribuição de processos e de petições iniciais protocoladas por
advogados ou pelas partes envolvidas em ações. Apesar de ser concursado para a
função de analista, que exige nível superior, o servidor faz atividades
burocráticas, incluindo atendimento ao público. Os vencimentos para quem tem
este tipo de escolaridade variam de R$ 6 mil a R$ 10 mil, sem contar os
benefícios.
Vieira conversou com O GLOBO ontem. Na primeira entrevista após a
divulgação de seu nome no caso das operações financeiras atípicas, ele afirmou
desconhecer as movimentações.
- Estou esperando ser notificado. Se isso aconteceu em 2002, por
que o Coaf divulgou isso agora? Não prestei depoimento para a Polícia Federal e
nem para o tribunal. Não sei do que se trata. Estou esperando me chamarem para
eu falar - disse Vieira.
Os R$ 282,9 milhões estão descritos no relatório produzido pelo
Coaf a pedido do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e divulgado em janeiro. O
Conselho não revelou o nome de Vieira. A Polícia Federal do Rio, que abriu
inquérito para investigar a participação do servidor no caso, confirmou se
tratar deste servidor.
Já o TRT-RJ abriu sindicância para apurar se Vieira é dono das
empresas citadas em denúncias do Ministério Público Federal, como a MixTrade,
do ramo de informática e que atuava com importação e exportação de eletrônicos.
O prazo do tribunal para a conclusão do caso termina na próxima sexta-feira. A
participação de funcionários públicos na gestão de empresas privadas é proibida
pela lei que regulamenta o trabalho dos servidores. Se for punido, Vieira pode
ser demitido.
Vieira ingressou no TRT-RJ em1993 na gestão do desembargador José
Maria de Mello Porto, assassinado em 2006. Vieira era concursado do TRT do
Espírito Santo. Em 1998, ele foi cedido à Câmara dos Deputados para o gabinete
do então deputado Jorge Wilson. Em 2003, Vieira trabalhou com o ex-deputado
Carlos Rodrigues, o Bispo Rodrigues. No ano seguinte, o servidor foi preso, no
Rio, pela Polícia Civil do Paraná. Ele era suspeito de ter desviado, com
secretários municipais daquele estado, R$ 16,8 milhões da Companhia Estadual de
Energia paranaense (Copel). O servidor ficou apenas dois dias preso. Em 2007,
ele retornou ao TRT-RJ.
- Quem são os depositantes (das movimentações)? Que empresas são
essas? Eu era sócio de uma empresa de prestação de serviço, mas eu não atuava
como gerente. Agora, se esse dinheiro é atípico, não sei. Eu não usaria nada
irregular. Daqui a pouco, vou ter que andar com seguranças porque podem achar
que eu estou com esses milhões - ressaltou.
Ontem, na sede principal do TRT-RJ, na Avenida Presidente Antônio
Carlos, no Centro, o corregedor-geral do Tribunal Superior do Trabalho (TST),
ministro Antônio José de Barros Levenhagen, criticou o Coaf:
- Foi uma informação (das movimentações financeiras) inapropriada,
divulgada inadvertidamente - afirmou Levenhagen, que concluiu ontem uma
inspeção de rotina no tribunal.
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