Os terremotos e o anel de fogo do Pacífico
Semana passada um terremoto no México, na cidade turística de Acapulco, foi notícia em todos os telejornais. Há 15 dias foi o Japão que tremeu de novo, perto da mesma região atingida pelo tsunami há alguns anos. Na internet tem gente achando que é o sinal do fim do mundo, como se os terremotos não agitassem nosso planeta desde que ele se formou, há bilhões de anos. No caso do Japão e do México, ambos os países tem um litoral dentro do chamado "anel de fogo do Pacífico". É uma região onde as placas tectônicas colidem e que vai do sul das Américas até o Japão e as Filipinas.
Para entender como isso acontece é preciso dar uma
olhada dentro do nosso planeta. Os cientistas fazem isso com a ajuda dos
terremotos. As ondas sísmicas, produzidas pelos abalos, são captadas por
sismógrafos e permitem fazer uma radiografia do miolo do nosso planeta. Vivemos
em cima de uma enorme bola de fogo, ou mais precisamente, de rocha derretida. O
que chamamos de terra firme é uma casca formada por placas de granito, que
flutuam como balsas em cima deste mar de magma, ou pedra fundida em ebulição.
No meio dos oceanos, a quatro mil metros de
profundidade, as placas se separam lentamente. Lava borbulha do interior,
esfria e se solidifica em contato com a água gelada e vai formando uma nova
crosta sólida. À medida que uma região do fundo do mar vai se expandindo, em
outra região as placas colidem, uma se enfia embaixo da outra e o resultado são
vulcões e terremotos.
As regiões costeiras do oceano Pacífico são assim,
locais de colisão e subducção de placas tetônicas. Em frente a costa do Peru e
do Chile, por exemplo, a placa de Nazca mergulha por baixo da placa da América
do Sul. É por isso que tanto o Peru como o Chile enfrentam terremotos
constantes e são cheios de vulcões ativos. No México, onde aconteceu o
terremoto da semana passada, temos o contato da placa tectônica de Cocos com a
placa do Caribe.
No Japão é a placa do Pacífico que colide com a
placa norte-americana, que forma um arco sobre todo o norte do Pacífico, das
ilhas Aleutas até o Japão. Recentemente várias pessoas tiveram que fugir de
suas casas devido a erupção do vulcão Shinmoedake, que serviu de cenário para o
filme de James Bond "Só se vive duas vezes". É outro problema de quem
vive dentro do anel de fogo do Pacífico. Ele tem 452 vulcões e é lá que ficam
75% dos vulcões ativos do planeta.
Belo: Cenário do 007 o Shinmoedake faz parte do anel de fogo
Entenda
Outro fenômeno que resulta desse atrito e choque
das placas da crosta terrestre são os abismos marinhos. É no oceano Pacífico
que ficam os desfiladeiros mais profundos do mar. Um deles é o abismo das
Marianas, com onze quilômetros de profundidade, alvo das pesquisas do cineasta
James Cameron e do bilionário Richard Branson. O abismo das Marianas foi criado
pela colisão da placa tectônica do Pacífico com a placa das Filipinas. E uma
das coisas que os cientistas querem estudar com essas expedições submarinas é o
comportamento das estruturas geológicas nessas regiões de subducção.
Mas nem toda a atividade vulcânica é o resultado da
colisão de placas. Na placa do oceano Pacífico, existem "pontos
quentes" onde o magma sobe em direção a superfície e abre um buraco na
crosta terrestre, como se fosse um maçarico furando uma chapa de aço. O
resultado é o aparecimento de um vulcão no local.
O arquipélago do Havaí, um dos destinos turísticos
mais famosos do planeta, foi formado por um desses pontos quentes. A lava dos
vulcões havaianos é muito fluida e se esfria ao brotar na superfície. Milhares
de anos de erupções foram formando as ilhas de Maui, Molokai, Oahu e Kauai,
além de outras menores. É por isso que os havaianos adoram a deusa dos vulcões,
vista como uma força construtiva, já que foi do choque da lava com a água fria
do mar que nasceram as ilhas onde eles vivem.
Outros pontos quentes no fundo do oceano são o lar
de estranhas formas de vida, como os enormes vermes tubulares. São criaturas
sem boca, anus ou aparelho digestivo, com dois metros e quarenta de
comprimento, que vivem em simbiose com bactérias. E eles só sobrevivem na água
quente produzida pelos vulcões submarinos. Como os havaianos, eles devem sua
existência e seu lar a agitação e as erupções do nosso turbulento planeta.
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