Francisco Petros
Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira. Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000/02).
José Marcio Mendonça
Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde". Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).
Dilma : mudanças e confronto ou
marketing ? (I)
Dilma aproveitou a entrevista à
revista "Veja" - à qual, aliás, nunca dedicou especial carinho,
sempre dedicou "mau olhado" porque partiram da publicação semanal as
principais denúncias de "malfeitos" que derrubaram um magote de
ministros herdados de Lula - para anunciar que está adotando novas práticas
políticas nas relações do Palácio do Planalto com o Congresso e os partidos
aliados. "Não gosto desse negócio de toma lá dá cá" - avisou ela. Por
"toma lá dá cá" entenda-se o amálgama da ampla e amorfa base aliança
eleitoral e legislativa formada por Lula para facilitar a eleição de Dilma e
dar sustentação a seu governo na Câmara e no Senado.
Dilma : mudanças e confronto ou
marketing ? (II)
Antes, já se havia providenciado a
divulgação dessa recente disposição da presidente com um bombardeio da imprensa
com informações de fontes oficiosas a partir das derrotas recentes da
presidente no Senado e na Câmara e da troca abrupta dos líderes governistas nas
duas casas do Legislativo. Providenciou-se até uma declaração de apoio de
ninguém menos que o presidente Lula, criador e mentor do monstrengo político
que agora assombra o sono de Dilma. Como Lula está com a voz sob embargo,
portou-a, para certa incredulidade geral, o novo líder da presidente no Senado,
Eduardo Braga. Torce-se para que tal propósito presidencial seja para valer e
que, principalmente, seja exequível. Há dúvidas fundadas, porém, entre muitos
analistas de que isso seja possível e de que seja para valer por uma simples e
boa razão : qual o real cacife da presidente para se confrontar com os partidos
que a apóiam ? Qual a disposição dos partidos, inclusive e principalmente o
PMDB, em abdicarem do "toma lá dá cá" que os sustenta a falta de
programas, ideologia e identificação real com os eleitores ? A desconfiança é a
de que não passa de mais um lance de marketing para desviar a atenção da
opinião pública do corner político em que ela se encontra.
Encontros com visibilidade
É por essa razão que os encontros dos últimos dias entre a presidente e
um grupo selecionado de empresários e a primeira reunião pública de Dilma com
os líderes sindicais, patrocinados e badalados pelo Palácio do Planalto estão
sendo vistos muito mais como uma estratégia de Dilma para acuar partidos e
Congresso do que como encontros de trabalho. Afinal, os problemas que afligem
empresários e trabalhadores são conhecidos até pelos bebês candangos. E para
eles urge apenas soluções. Diagnóstico e receituário estão à disposição de
Dilma, de Mantega, de Alexandre Tombini e de quem mais de direito para que
exerçam na plenitude a tal de "vontade política" que tanto faltou aos
governantes brasileiros antes de Lula. Segundo ele mesmo, Lula.
Economia : sustentáculo sob risco
Não há nenhum risco iminente para a economia brasileira do ponto de
vista cambial ou fiscal. Mais do que as mágicas de marqueteiros, vozes
empresariais e sindicais a favor, o apoio irrestrito de Lula e outros que tais,
os pilares que sustentam a presidente são mais chãos : a economia e a inflação
sob controle. Dilma controla a economia com as mãos de ferro, e, em segunda
instância, nas de Guido Mantega e Alexandre Tombini, com os palpites dos
conselheiros externos para esta área, Luis Gonzaga Belluzzo e Delfim Neto. De
outro lado, o desempenho da atividade econômica dá evidências que o quadro de
criação sustentada e empregos e aumento do consumo e do investimento que
prevaleceu nos últimos anos não é mais um "porto seguro". Ao
contrário, o PIB de 2011 foi decepcionante e os indicadores deste ano são
sofríveis e declinantes. O governo terá de combater os riscos que vem de fora e
que permanecerão por muito tempo e a deterioração das expectativas no front interno.
Dilma e Mantega sabem disso e parecem correr contra o relógio. Todavia,
falta-lhes a clareza sobre o rumo estratégico que vão tomar com o objetivo de
traçar políticas de curto, médio e longo prazos. A reunião da semana passada,
apesar de ser uma tentativa de acuar a classe política, também deixou rastros
de que o grau de improvisação da política econômica é significativo. Os empresários
sabem disso, mas não falam. Agem com discrição, reduzindo investimentos e vagas
de trabalho.
Os parâmetros da economia
Os números oficiosos que o governo
sob a batuta (e o tacape) da presidente Dilma está perseguindo este ano são os
seguintes :
1. Crescimento do PIB não inferior a
4%, a ser alcançado a ferro e fogo.
2. Dólar na faixa de R$ 1,80 a R$
1,90, o mais próximo possível do número superior.
3. Juros básicos no máximo em 9%.
4. Inflação abaixo da do ano passado,
que bateu em 6,5%. Sem sacrifícios, porém, para atingir o centro da meta de
4,5%.
5. Manutenção do consumo pelo menos nos níveis do ano passado e
continuidade da ascensão das famílias das classes D e E para a classe C.
Como ainda não tem - e nem se sabe se
conseguirá - criar condições políticas para colocar o Brasil nesta rota sem
riscos de percalços, adotando as tão necessárias reformas estruturais no país,
o governo apela para expedientes de curto prazo e muito artificialismo na
política econômica. Dois exemplos :
1. Para garantir que a inflação não
saia dos eixos, apesar dos apelos quase desesperados do Petrobras, protela um
necessário (e já atrasado) reajuste no preço dos combustíveis.
2. Para cumprir a promessa de fazer um superávit primário de 3,1% do PIB,
está forçando as estatais a aumentar a entrega de dividendos ao Tesouro
Nacional, vai ficar este ano com mais de R$ 3 bi do FGTS e, apesar do dito em
contrário, estanca seus planos de investimentos, segurando a liberação de
recursos.
O problema é que, em algum momento,
tudo que é artificial desmancha no ar.
Não seria melhor assim ?
Na conversa com os jornalistas de "Veja" a presidente Dilma
admitiu (até que enfim uma autoridade diz isto !) que a carga tributária no
Brasil é alta demais. Como já havia acenado para os empresários, prometeu
reduzi-la. Como e em que condições, porém, ficou no vazio. Anteontem, domingo,
o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou um estudo mostrando que os
incentivos que o governo concedeu a determinados setores da economia,
pontualmente, em seis anos custaram R$ 97,8 bi aos cofres do Tesouro. Ingênua
pergunta a economistas e tributaristas oficiais e não oficiais : se os mesmos
recursos viessem sido utilizados para uma diminuição linear de impostos, para
todos os setores e não para alguns escolhidos, o resultado final para a
economia brasileira não teria sido muito melhor ?
Conselheiro marqueteiro
Diz o sempre bem informado jornalista
Ricardo Kotscho (por meio de seu blog "Balaio do Kotscho"), com a
experiência de alguns anos vividos no Palácio do Planalto nos tempos de Lula,
que o principal conselheiro de Dilma, na ausência temporária mais efetiva do
ex-presidente, é João Santana. Nada contra ele, cuja competência no seu fazer
de marketing político é inquestionável. Mas quando um marqueteiro passa a dar
as cartas no campo da política real, algo está fora do lugar. E tem muito para
não dar certo. Dilma disse, na reveladora entrevista à "Veja", que
somente há crise política de fato quando se perder a legitimidade política.
Porém, legitimidade, que só se conquista com o voto popular, pode ser perdida
de várias maneiras e por diversas razões. Collor, por exemplo, perdeu por
"malfeitorias", Sarney por inapetência gerencial e inflação nos
infernos.
Do macro ao micro
A serem totalmente fiéis alguns
relatos, sem identificação da fonte, a respeito do encontro da semana passada
da presidente Dilma com 28 dos maiores empresários brasileiros, ela teria
ouvido do presidente do grupo JBS Friboi, José Batista Junior, críticas a seu
modo de governar, já referidas aqui nesta coluna e apontado como um dos maiores
entraves a que o governo seja mais eficiente. Centralizadora, detalhista, rude
a ponto de intimidar e inibir a iniciativa de ministros e colaboradores, Dilma
leva sua administração a uma semiparalisia, a atrasos constantes em liberar
projetos, à demora em tomar decisões. Pela expressão atribuída a Batista
Junior, ela se prenderia demais ao micro em detrimento do macro. Para uma
língua maldosa de Brasília, ela dá mais atenção ao consumo de grampos que ao
buraco da estrada.
Assim como a mestre ?
Definição do líder do governo no
Senado, Eduardo Braga, por um empresário amazonense bem informado e
frequentador das rodas políticas locais : "Ele é realmente muito
inteligente, articulado, por isso se julga quase um Deus. É arrogante,
autoritário, prepotente e não escuta o que lhe falam por, como uma
semidivindade, já saber tudo". Arlindo Chinaglia é visto pelos colegas da
Câmara como pessoa de muitas arestas e também um tanto prepotente. A ministra
Ideli Salvatti é histriônica, um elefante em loja de louças em matéria de
habilidade política. Dois outros possíveis auxiliares de Dilma na tarefa de amainar o
Congresso estão fora : Lula, por causa da voz prejudicada pelo tratamento médico
e porque precisa manter ainda um bom repouso ; Michel Temer, sumido por razões
que não se entendem (mas se explicam facilmente). O clima está, assim, mais
para o confronto que para a conciliação.
Pragmatismo lulista
Frase do ex-presidente Lula em entrevista ao jornal "Folha de
S.Paulo" anos atrás, citada semana passada pela colunista Dora Kramer :
"Qualquer um que ganhar a eleição, pode ser o maior xiita ou maior
direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o
que se quer e o que se pode fazer vai uma diferença do tamanho do oceano. Se
Jesus Cristo viesse para cá e tivesse votação num partido qualquer, Jesus teria
de chamar Judas para fazer uma coalizão".
Agora é fazer a unidade de fato
Tucanos eram todos sorrisos, no
domingo, depois da prévia que escolheu Serra como o candidato do PSDB à
prefeitura de SP. Plumados federais, estaduais e municipais pareciam ter
descoberto a pólvora da unidade partidária, sempre ameaçada pelo desfile de
egos na passarela partidária. Contudo, os 52% alcançados por Serra, quando se
esperava algo entre 70% e 80% para o ex-governador e ex-prefeito, foi, embora
eles não digam, uma decepção. Mostrou a divisão ainda existente no partido e
fortes resistências a Serra. Antes de começar a caçar alianças com outras
legendas, os tucanos precisam fazer mesmo é uma aliança entre si. Conseguiram
no domingo dar até alguma alegria à, no momento, cambaleante candidatura do
petista Fernando Haddad.
Dando lustro na imagem
O novo presidente do TJ/SP, Ivan
Sartori, está se saindo, no momento em que o Judiciário em todo o Brasil está
na berlinda, pior do que a pior das encomendas : em pouco tempo à frente do TJ
conseguiu desafiar a corregedora do CNJ, Eliane Calmon (voltou atrás), atacou a
imprensa e ameaçou retaliar o jornal "Folha de S.Paulo", e decidiu
mandar pagar auxílio alimentação a todos os magistrados do Estado,
retroativamente a 2006, com justificativas um tanto canhestras. Assim se vai
"lustrando" ainda mais a imagem da Justiça brasileira.
Radar NA REAL
23/3/12
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TENDÊNCIA
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SEGMENTO
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Cotação
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Curto
prazo
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Médio
Prazo
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Juros ¹
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Pré-fixados
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estável/alta
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-
Pós-Fixados
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NA
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baixa
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baixa
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Câmbio
²
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- EURO
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1,3329
|
baixa
|
baixa
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- REAL
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1,8151
|
estável/baixa
|
estável/baixa
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Mercado
Acionário
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|||
-
Ibovespa
|
65.812,95
|
estável/alta
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estável
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-
S&P 500
|
1.397,11
|
estável/alta
|
alta
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-
NASDAQ
|
3.067,92
|
estável/alta
|
alta
|
(1) Títulos públicos e privados com prazo de
vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Com a própria corda no pescoço
Diz o advogado contratado pelo
senador Demóstenes Torres (DEM/GO) para defendê-lo das suspeitas de ligações
suspeitas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que juridicamente nada atingirá o
político do Democrata, pois as possíveis provas conta ele seriam ilegais. A
questão não é esta, contudo. Politicamente, Demóstenes está liquidado. Se ficar
no Senado, será um morto-vivo, enforcado na própria corda ética com que
procurou (acertadamente) enforcar muita gente. É mais um político que não faz o
que apregoa, com o agravante de ser também um promotor de Justiça. Não há
relação de amizade possível entre um homem público e um contraventor. Há muita
gente no Congresso, no entanto, com receio de bater forte nessa história.
Afinal, o notório bicheiro Cachoeira está na origem do primeiro escândalo do
governo petista : a o caso Waldomiro Diniz.
Fed tentando manter a reputação
Ben Bernanke, o presidente do Fed,
está fazendo uma pregação de profeta para assegurar que a política de expansão
monetária e dólar fraco permaneça por muito tempo. Para ele a hora não é para
se pensar em ajustes fiscais para o imenso déficit que resta na maior economia
mundial. O que ele não diz explicitamente e que todos sabem é que o mundo
continua a financiar o projeto econômico norte-americano. Os investimentos em
papéis do Tesouro Americano continuam enormes e não há fuga de capitais na
direção de China e outros BRICS, apesar de todas as avaliações dando conta do
declínio do Império Americano.
Aviso aos analistas
A taxa de desemprego dos EUA que vem caindo nos últimos meses reflete
mais a desistência de desempregados em buscar empregos que a sustentação da
demanda. Portanto, ainda não é anúncio seguro para alimentar grandes
expectativas.
Em defesa da liberdade de expressão
Patrícia Blanco foi eleita para a
presidente do Conselho Diretor do Instituto Palavra Aberta, vago desde a
aposentadoria de Evandro Guimarães nas Organizações Globo. O Palavra Aberta tem
por mote defender o livre direito de expressão no Brasil e foi criado, entre
outros, a ANJ - Associação Nacional de Jornais, ABERT - Associação Brasileira
das Emissoras de Rádio e Televisão, ANER - Associação Nacional de Editores de
Revistas, e a ABAP - Associação Brasileira de Agencias de Propaganda.
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