‘Somos demasiados paraguaios’, diz agricultor
‘brasiguaio’
Família de Ewald Loblein
foi para o Paraguai no início do século XX.
Cidade de Obligado fica a 200 km da tradicional região de ‘brasiguaios’.
O agricultor paraguaio
Ewald Loblein, de 46 anos, filho de gaúcho e proprietário de aproximadamente
600 hectares de terra no Sudeste do Paraguai, faz parte uma antiga e diferente
geração de imigrantes brasileiros que deixaram o país em busca de oportunidades
no território vizinho, os chamados “brasiguaios”.
Loblein
vive na cidade de Obligado, perto da fronteira com a Argentina, cerca de 200
quilômetros ao sul de Alto Paraná, a região do Paraguai perto da fronteira com
o Brasil onde vivem as mais novas famílias de “brasiguaios”, que começaram a
ocupar a região no início da década de 1970.
Obligado, por sua vez, abriga terras de outros descendentes de
brasileiros que chegaram no país vizinho quase 60 anos antes, no início do
século XX, e que hoje estão ‘enraizados’ em solo paraguaio.
culturas foi proposital para aproveitar solo
“Já
somos demasiados paraguaios aqui, e também não falamos português, por isso não
se fala de nós. Mas, se forem analisar, somos parte dos ‘brasiguaios’”, diz o
agricultor paraguaio Ewald Loblein, de 46 anos, que é filho de gaúcho e
proprietário de aproximadamente 600 hectares de terra.
Em 1917, os avós de Loblein, descendentes de alemães, partiram
do Rio Grande do Sul rumo ao Sudeste do Paraguai em busca de terra fértil para
trabalhar. O pai do agricultor tinha apenas dez anos e já cresceu no país, por
isso, não foi mantido o português como idioma. “Não mantivemos os costumes do
Brasil (...). Não nego, meu pai é nascido no Brasil e tudo, mas já se passaram
muitos anos, somo muito paraguaios”, ressalta Loblein.
Obligado, contudo, não concentra agricultores majoritariamente
brasileiros, como ocorre na região Noroeste do país, perto da fronteira com o
Brasil. Pelo contrário, a cidade foi também destino de imigrantes alemães no
início do século passado e, em menor escala, de japoneses, ucranianos, russos,
argentinos, entre outros, explica o engenheiro agrônomo
Eduardo
Dietze, gerente da área de produção e abastecimento da cooperativa Colonias
Unidas, que tem cem anos, considerada a maior e mais antiga do Paraguai.
A mulher do agricultor, Renate Tiemann, de 46 anos, por exemplo,
também tem descendência brasileira por parte de mãe, mas por parte de pai é de
origem alemã.
O engenheiro Dietze, inclusive, é bisneto de gaúchos
descendentes de alemães. “Eles compraram terra aqui. Terras que se
comercializaram depois da guerra [Guerra do Paraguai] para recuperar recursos.
Eles venderam grandes parcelas de terra e se formaram colônias privadas”.
De acordo com Dietze, a cooperativa foi formada em 1912 por
esses pequenos agricultores estrangeiros. Atualmente, a Colonias Unidas tem 3,7
mil produtores associados.
No
início, a erva mate era uma das principais culturas, mas com o passar dos anos
a produção foi sendo ampliada. Atualmente, a cooperativa atua com diversas
culturas de grãos e oleaginosas, como soja, girassol, trigo e canola, além da
agropecuária.
Foram criadas indústrias processadoras de leite, com produtos
como longa vida e leite fresco, e também para extração de óleo para fabricação
de produtos como óleo de soja e azeite. A erva mate ainda tem participação e
são comercializadas folhas industrializadas, prontas para o consumo.
Em suas terras, o agricultor Loblein, que trabalha com a
cooperativa, afirma que ainda cultiva a erva mate, mas que o produto tem
pequena participação se comparado a outras culturas. “A erva mate eu cultivo
por trajetória do meu pai, por fanatismo, por tradição. As outras culturas
agrícolas nós plantamos para ter rotação de cultivo”, diz. “Há anos fazemos
este sistema [de rotação de cultura]. Trigo, por exemplo, eu nunca repito a
área em outro ano. Onde este ano tem trigo, no ano eu vem não vai trigo. Vai,
por exemplo, girassol ou uma aveia”.
Dos 600 hectares que possui, apenas três são destinados ao
produto – o que ele diz, porém, que pretende aumentar, por conta da maior
demanda e melhor preço. Entre as outras culturas, ele cultiva soja, granola,
milho, sorgo, trigo, aveia, azevem e ainda deu início ao ramo de pecuária, com
360 cabeças.
Seca
Neste ano, a seca prejudicou a colheita da soja na região, que hoje é uma das mais importantes culturas para a cooperativa. Com o calor, a colheita deve ser bem menor que as 360 mil toneladas da safra anterior, para uma previsão de 125 mil, de acordo com Dietze. A perda é de 60% sobre o previsto.
Neste ano, a seca prejudicou a colheita da soja na região, que hoje é uma das mais importantes culturas para a cooperativa. Com o calor, a colheita deve ser bem menor que as 360 mil toneladas da safra anterior, para uma previsão de 125 mil, de acordo com Dietze. A perda é de 60% sobre o previsto.
Com isso, de acordo com o gerente da cooperativa, muitos
agricultores precisarão fazer um refinanciamento das dívidas, o valor estimado
para isso é de US$ 15 milhões – o faturamento em 2011 foi de US$ 500 milhões.
Como um de seus serviços, aliás, a cooperativa também atua com serviços
financeiros.
Os grãos representam 60% do faturamento. Do 3,7 mil cooperados,
2 mil cultivam soja em uma área de 130 mil hectares - da erva mate, por
exemplo, são apenas 3.000 hectares, com cerca de 400 produtos.
Para
Loblein, a rotação de culturas é uma forma de se proteger dos imprevistos do
clima nos negócios. “O produtor hoje em dia tem que estar preparado para
qualquer adversidade do clima (...). A saída é a produção diversificada”,
opina.
Com três filhos, o agricultor espera que eles deem continuidade
ao trabalho no campo. A mais velha, Tatiana, de 19 anos, inclusive faz
faculdade de engenharia agrônoma. Ela pensa hoje em dar continuidade ao
trabalho da família com a industrialização do que o pai cultiva.“Não penso em
trabalhar no campo, mas em laboratório, transformar os produtos em algo
industrial”.
Se no passado seus bisavós partiram do Brasil para plantar erva
mate em solo uruguaio, ela não descarta pensar em atuar com a industrialização
do produto. “Sim, aqui tem bastante erva mate, tem campo para trabalhar com
isso”, diz.
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