terça-feira, 6 de março de 2012

REFLEXO DA GREVE DO TRANSPORTADORES DE COMBUSTÍVEIS


Motoristas correm a postos de SP para encher tanque após paralisação


Caminhões que abastecem postos estão parados desde segunda-feira.
Caminhoneiros protestam contra restrições na Marginal Tietê.

Motoristas fazem fila para abastecer em posto na Marginal Tietê (Foto: Juliana Cardilli/G1)
A paralisação dos motoristas de caminhões-tanque, que não abastecem os postos de combustíveis da Grande São Paulo desde esta segunda-feira (5) em protesto contra as restrições de circulação na Marginal Tietê, levou a uma corrida aos postos que ainda possuem combustíveis na manhã desta terça-feira (6). Os estabelecimentos que ainda tinham etanol e gasolina nas bombas relataram aumento no movimento, e, em alguns, havia filas. Muitos motoristas tiveram que passar em pelo menos três postos para conseguir encher o tanque nesta manhã.
Foi o caso da professora Maria Antônia Herrera, que só conseguiu abastecer no terceiro posto que parou e ainda teve que colocar gasolina aditivada. “Os outros postos não tinham nada. Meu namorado já tinha me avisado que muitos postos estavam sem. Eu sempre abasteço no meio da semana, espero o tanque de álcool chegar na reserva para encher com gasolina. Desta vez resolvi adiantar, tudo para não ficar sem”, contou.
No posto em que ela parou, na Marginal Tietê próximo à Ponte Julio de Mesquita Neto, a gasolina comum e o etanol acabaram na noite desta segunda. “Agora só tem aditivada, mas logo acaba também, está todo mundo enchendo com ela por falta de opção. O movimento está bem maior”, afirmou o frentista Miguel Rodrigues.
O analista de sistemas Leandro Lopes só conseguiu abastecer no segundo posto em que parou. “Não estava sabendo do problema, cheguei no posto e o frentista falou que não tinha. Pensei, deixa eu procurar o próximo, se não tiver lá entro em desespero. Já estava na reserva, e vou encher o tanque, porque nunca se sabe quando eles vão voltar”, disse. “Muita gente chega já perguntando se tem gasolina, porque não achou em outro lugar”, contou o frentista Roberto Silva Santos.
O aposentado Marco Antônio Papini, de 75 anos, achou combustível no primeiro posto em que parou, também na Marginal Tietê, perto da Ponte da Vila Guilherme, mas aproveitou para abastecer um pouco mais do que o normal. “Esse carro é da minha mulher, anda pouco. Normalmente coloco 20 litros, hoje estou colocando 30. O meu já está com o tanque cheio”, contou.
Já Joselito Jesus Santos, gerente de uma lavanderia, abasteceu o carro e também iria levar combustível para fazer as caldeiras do estabelecimento operarem. “A distribuidora normalmente entrega direto, mas com os caminhões parados não recebemos. Só achei no terceiro posto que parei. Vai sair mais caro, mas é o jeito.”

Problemas

De oito postos visitados na Marginal Tietê e suas proximidades na manhã desta terça, dois já não tinham nenhum combustível, outros dois tinham apenas gasolina aditivada e os restantes ainda tinham combustível, mas temiam seu fim entre esta terça e quarta-feira (7). Há relatos de postos sem combustíveis na região do Morumbi e na Avenida Santo Amaro, na Zona Sul, e na Pompeia, na Zona Oeste.
Em um estabelecimento perto da Ponte da Freguesia do Ó, no sentido da Rodovia Ayrton Senna, caixotes e cones ocupavam o lugar dos carros nas bombas, sinalizando que elas estavam secas. “Só tem diesel, o resto acabou ontem [segunda], no início da tarde. E a procura também está maior, temos que ficar recusando cliente toda hora”, contou o caixa José Lairton da Cunha. “Meu tanque já está no fim, vou ter que procurar um posto para encher para poder voltar para casa.”
O supervisor de segurança Edgar Betarello foi um dos clientes recusados. Ele buscava encher o tanque para viajar a trabalho para a região de Campinas. “Não tenho o suficiente para pegar a estrada, tenho que abastecer antes. Vou ter que procurar outro posto. Não estava sabendo do problema, fui pego de surpresa. Vou aproveitar na volta para encher o tanque na estrada”, afirmou.
Na Avenida Otto Baumgart, também na Zona Norte, um posto está sem nenhum combustível desde 7h desta terça. “O que tinha vendeu tudo em uma hora. Tem muita gente procurando, que já passou em três postos, e não acha. Estamos com os funcionários parados, mas não tem o que fazer, é só aguardar.”, contou Luiz Carlos Simões, dono do estabelecimento.
A falta de combustíveis também leva a alta dos preços nos que ainda têm bombas cheias. O corretor Rogério Delela deixou de abastecer em um posto devido ao preço. “O normal era R$ 1,65, e agora estava R$ 1,99 o litro do etanol. Resolvi procurar outro. Aqui esta R$ 1,79, ainda é caro, mas menos que no outro”, contou. No posto em que ele abasteceu, a gasolina comum já havia acabado nesta segunda.

Posto colocou bloqueios nas bombas vazias para alertar motoristas (Foto: Juliana Cardilli/G1)
Serviços essenciais

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (Sindicam-SP), caminhões passaram a abastecer nesta terça os serviços considerados essenciais – hospitais, Samu, bombeiros, polícias Civil e Militar, coleta de lixo e aeroportos. Empresas de transporte público não foram incluídas no abastecimento. Excluídos esses serviços, todo o restante do abastecimento está parado. Além disso, o abastecimento aos pontos considerados essenciais está sendo feito apenas com a quantidade necessária para um dia.
O vice-presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) informou que a categoria entrou em contato com a Secretaria Municipal de Transportes para pedir que a restrição seja suspensa no período da manhã, apenas na Marginal Tietê. “Precisamos de uma válvula de escape para todos os caminhões. Depois, em um período de 120 dias, poderia ter um acordo, um aumento gradativo”, disse Claudinei Pelegrini vice-presidente da Abcam.
A restrição entrou em vigor nesta segunda e proíbe caminhões na Marginal Tietê e em outras vias da região entre 5h e 9h e das 17h às 22h de segunda a sexta e das 10h às 14h aos sábados.
Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes informou que já realizou um série de reuniões com representantes das indústrias, sindicatos e empresas de transporte para a determinação dos horários de restrição. “O período de oito horas [de permissão de circulação] representa uma jornada de trabalho do caminhoneiro e, com isso, ele poderá fazer a entrega dos produtos pela Cidade durante o dia e retornar ao seu destino. No período da noite e madrugada, os motoristas de caminhões terão sete horas para transitarem”, diz a nota.
Já a São Paulo Transporte (SPTrans) informou que "a maioria das empresas que presta serviço de transporte coletivo na cidade possuem transporte próprio de combustível e não apresentam problemas de abastecimento. As empresas e cooperativas que não possuem transporte próprio de combustível, se necessário, contarão com escolta da Polícia Militar para conseguir reabastecer seus taques."

Restrição de caminhões (Foto: Editoria de Arte/G1)

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