POLÍTICA &
ECONOMIA NA REAL
Dilma, tensão,
choro e lulodependência
A quaresma trouxe
pesadas cinzas políticas para a presidente Dilma, refletidas no choro por ela
exibido sexta-feira no Palácio do Planalto. Não há que se imaginar que ela,
durona como é tida, tenha soltado lágrimas por causa da dispensa do ex-ministro
Luis Sérgio, político petista fluminense que humilhou duas vezes. Menos ainda
se deve supor que a emoção tenha sido pela aquisição para o ministério da Pesca
do senador e bispo licenciado Marcelo Crivella. Seria muita vela para pouco
santo. A razão, segundo bons observadores políticos de Brasília, seria outra :
o alto grau de tensão a que Dilma está submetida em razão das confusões no
campo governamental, nada especificamente a ver com a economia, que é um outro
departamento. Vê-se a presidente assolada por :
1.
Rebelião na base aliada e as desavenças explicitadas publicamente entre o PT e
o PMDB. A insatisfação é grande e é diretamente com a presidente e a forma como
ele se conduz politicamente.
2.
O documento dos militares da reserva com críticas indiretas à presidente e
diretas do ministro Celso Amorim. Nasceu pequeno, cresceu e merece uma resposta
dura do governo. Porém, isto pode acender um rastilho de pólvora, pois junta
insatisfações com a Comissão da verba com desencantos salariais e com a falta
de recursos para reaparelhar as Forças Armadas.
3.
A disputa pelo poder dentro do BB; uma queda de braço entre petistas, com
reflexos no meio ambiente da equipe econômica.
4. A inesperada
(para quem não lê bem a política) entrada de José Serra na corrida eleitoral pela
prefeitura de SP, criando dificuldades para a montagem de uma coligação
governista ampla para apoiar a candidatura petista de Fernando Haddad. Com
isto, Dilma vai ter de mostrar mais sua cara na sucessão paulistana, coisa que
não estava em seus planos. E que já começou a fazer dando a Crivella o
ministério da Pesca.
Em consequência
dessa confusão, Dilma teve de correr para os braços de seu criador, reacendendo
a velha conversa da "lulodependência" coisa que ela vinha tentando
apagar, até com algum sucesso, nos últimos tempos.
Sistema esgotado
Toda essa confusão demonstra que o sistema de
coalizão partidária amplo, que sustenta o governo Dilma, montado
milimetricamente pelo ex-presidente Lula, está se esvaindo. É gato demais no
balaio para uma pessoa com pouca experiência e pouco apetite político como
Dilma. Quando o partido do vice-presidente da República, Michel Temer, que é
também seu presidente licenciado, faz circular um manifesto como o assinado
pela maior parte de sua bancada na Câmara, dá para ver o tamanho da encrenca
que Dilma tem pela frente. De agora em diante, a tendência é aumentar as
cobranças dos aliados e as concessões por parte do Palácio.
Não é esse o
problema
A questão preocupante não é o fato de o
bispo-senador Marcelo Crivella não entender de pesca, nem ao menos colocar uma
minhoca no anzol. Não tem importância. Os ministros que o antecederam na Pesca
também não sabiam e o ministério não tem razão de existir. Qualquer coisa, ou
nada, é a mesma coisa. O problema é o modo como ele foi escolhido e as
credenciais que o levaram ao posto - apenas razões eleitorais e partidárias.
Ainda é cedo
O PSDB está
exultante com a entrada de Serra na eleição paulistana, principalmente depois
que o DataFolha já o colocou em primeiro lugar na pesquisa da intenção de
votos. Por outro lado, baixou um mal estar no PT e no Palácio do Planalto, com
as dificuldades que agora se apresentam para Fernando Haddad. O PT, Lula e
Dilma já davam nas mãos a prefeitura de SP. E mais : um passo decisivo para a
tomada do Palácio dos Bandeirantes, em 2014. É cedo para tudo isso. A eleição
pode virar. O cacife dos eleitores de Haddad, do ex-presidente Lula e da
presidente Dilma, é pesado. E tanto para Lula quanto agora também para Dilma
ganhar a eleição na capital paulista virou ponto de honra.
Espertinho demais
Kassab está
atirando em tantas direções que está com grandes possibilidades de terminar o
seu mandato falando sozinho e com um partido natimorto nas mãos. Se o PDB não
conseguir mais tempo no horário obrigatório no rádio e na televisão deixará de
ser uma noiva cobiçada em qualquer lugar do Brasil. E o despacho do ministro
Lewandowski, negando ao PSD o direito de ocupar presidências das Comissões
permanentes da Câmara, pode ser um indício de como os tribunais decidirão quando
chegar o momento de definir se ele terá direito a mais tempo na mídia. A tese é
que o partido ainda não passou pelo "teste das urnas" e esse teste
que define os direitos partidários.
Lula em repouso
Não há nenhuma
indicação de que a saúde do presidente Lula, em relação ao câncer do qual ainda
está se tratando, piorou. É efeito do tratamento a que foi submetido, agravado,
segundo bons especialistas, com alguns "descuidos" do presidente. Por
seu estilo, por exigências de seu partido e também de demandas da presidente
Dilma em alguns momentos de dificuldades, Lula se expôs mais do que o
aconselhável. E como diagnosticam seus médicos, ficou com a imunidade
comprometida. Agora, terá de ser mais obediente e se submeter a um repouso para
valer, mais prolongado, mesmo depois que sair do hospital. O que para a
presidente Dilma, com os pepinos que está vivendo, não é nada bom. E menos bom
ainda é para os candidatos petistas às prefeituras, especialmente Haddad,
politicamente ainda incapaz de andar sem as duas muletas de Lula a escorá-lo.
Economia em marcha
lenta I
Há poucos anos
discutia-se muito entre os economistas que o crescimento não era sustentável em
função das restrições cambiais que o país historicamente tinha. No governo FHC,
o crescimento per capita gravitou ao redor de zero. Na era
Lula, regada pela bonança internacional, o crescimento per capita pulou
para algo em torno de 3%. De todo o modo, este crescimento é substancialmente
inferior aos países mais importantes dentre os emergentes, os chamados BRICs, e
menor que os principais países da América Latina, excetuando-se o México. Esta
constatação se repete neste primeiro ano da presidente Dilma : o Brasil
continua patinando, a despeito do grande prestígio que tem perante o mundo
desenvolvido em crise. Note-se que estamos analisando em termos relativos o que
retira o argumento de que este baixo crescimento se deve a crise externa.
Economia em marcha
lenta II
Há muitas
possibilidades para se justificar este crescimento medíocre. O mais aparente é
que a taxa de investimento instável, ao redor de 20% do PIB, ainda é baixa em
comparação aos outros países com características semelhantes às do Brasil.
Logo, chegamos à taxa de juros básica e de crédito aberradamente
desequilibradas. De outro lado, a inflação brasileira acumula perdas
importantes em termos de poder de compra. Ademais, a taxa de câmbio está
supervalorizada, basta se verificar o desempenho dos preços do segmento de
serviços. Por fim, temos um resultado fiscal equilibrado, mas que onera em
excesso os segmentos mais produtivos da economia em favor de um obeso Estado.
Menor produtividade, menor crescimento.
Economia em marcha
lenta III
Como se vê nas
notas acima, a economia brasileira não parece tão saudável quanto se apregoa
mundo afora. Ocorre que quem está muito adoentado são os países centrais do
capitalismo. Nesta comparação, o Brasil brilha e talvez aí resida a negligência
generalizada em torno de reformas essenciais para dotar a economia brasileira
da vitalidade necessária que justifique os excessos verbais quando se comenta
sobre a economia brasileira por aqui e lá fora. A economia, neste ritmo lento,
de fato, e "atraente", na aparência, faz jus ao desempenho político
da presidente Dilma, e vice-versa. A presidente gosta de ser conhecida pelo seu
caráter de "gerente". Uma imagem bem discrepante com a realpolitikda
coalizão partidária que preside, onde cabe tudo, de comunistas errantes pelo
mundo, no ministério dos Esportes até a vanguarda do atraso, nas Minas e
Energia. De Sarney às políticas da condição feminina. De Dilma à Lula. A
economia imita a política. E vice-versa. Não há reformas relevantes e não há
gerência competente. O que se vê é um Brasil muito melhor perante um mundo
muito ruim.
BC cheio de
dúvidas
Se fosse pelo
crescimento frágil da demanda no final de 2011 e o fraco desempenho da
atividade destes dois meses iniciais do ano, bem como o comportamento bem mais
moderado da inflação, o BC poderia ser mais agressivo em reduzir a taxa de
juros básica, bem mais rápido que se espera. Há quem aposte nisso. A nosso ver,
a questão não é quem ganha esta aposta, mas o quanto isto é possível num
momento em que uma boa parte dos resultados positivos da inflação se deve ao
câmbio valorizado e, de outro lado, o quanto o petróleo em alta lá fora pode
contaminar a dinâmica de preços por aqui. Alguém poderia chamar a atenção para
os riscos chineses, mas vamos combinar que, por enquanto, chega a ser uma
grande pretensão tentar adivinhar o que seria uma crise da China a estas
alturas dos acontecimentos. A crise pode (deve ?) até acontecer, mas não há
possibilidade de se prever quando. O que nos parece, por ora, é que Alexandre
Tombini e sua turma vai continuar reduzindo o juro básico obedecendo a máxima
de que "quando não se sabe exatamente o que se está fazendo, faça
devagar". Se o BC apertar o passo e for mais rápido na redução dos juros,
é possível que tenha de voltar a aumentar os juros mais cedo. A opção pela
segurança nos parece mais óbvia.
Palpites e apostas
Hoje, o IBGE divulga os resultados oficiais do PIB
do ano passado. Até os mais empedernidos governistas, aqueles que há pouco mais
de um ano imaginavam que a economia nacional poderia crescer até 5% em 2011,
estão conformados com uma elevação do PIB entre 2,7% e 2,9%. O discurso oficial
será que isto é o que mostra o "retrovisor", o importante é que está
em andamento. Um PIB para fechar 2012 crescendo ao ritmo de 5%. Esse dado de
baixo desempenho, porém, poderá ser útil para o Copom, cuja reunião para
definir a nova taxa básica de juros começa hoje e termina na quarta-feira.
Alguns analistas acham que o BC pode cortar a Selic com mais força, algo entre
0,75 e 1%, sob a alegação de que é necessário incentivar o crescimento da
economia. Segundo eles, o presidente do BC, Alexandre Tombini, deu a senha
quando, na semana passada, em depoimento no Congresso, fez questão de enfatizar
que a economia brasileira está crescendo há três trimestres abaixo de seu
potencial. Faça-se o jogo.
Juros da poupança
Semana passada, discretamente, o ministério da
Fazenda negou que esteja estudando rever a forma de remuneração da caderneta de
poupança. Como se sabe, eis um assunto delicado, sobretudo porque envolve uma
multidão de famílias das classes mais pobres do país. Não tenhamos ilusões :
qualquer baixa consistente dos juros no patamar de um dígito requererá uma nova
forma de remuneração da caderneta de poupança. A combinação de uma remuneração
fixa com um "índice" é incompatível com um cenário de juros mais
baixos. Resta o imenso problema político a ser gerido pelo governo de plantão.
Só para lembrar : num dado momento do governo Lula esse assunto aflorou, mas
foi logo descartado, tais as reações que provocou. A memória de Fernando
Collor, Zélia Cardoso de Mello e seu plano econômico ainda é muito presente.
Antes de mexer na poupança, Dilma e Mantega terão de fazer uma demorada
catequese. E em ano eleitoral, nem os mais fiéis aliados se sentirão com vontade
de meter a mão nessa arapuca.
A "guerra
cambial"
A presidente Dilma
adotou a terminologia do ministro Mantega e passou a apregoar contra a
"guerra cambial". Há muitas coisas desconhecidas no mundo atual a
despeito do avanço científico que vivenciamos. Definir uma "guerra
cambial" é complicado, mas aparentemente devemos acreditar na presidente e
seu ministro com muita boa vontade. Todavia, talvez seja o caso de acreditarmos
mais na guerra comercial, marcada pelas barreiras alfandegárias e não-alfandegárias
que rodeiam a Terra. Nossos hermanos do sul, por exemplo,
estão fazendo acrobacias de todo tipo para evitar déficits comerciais
crescentes. Os EUA estão tentando de tudo para barrar os produtos chineses que
campeiam pelo país e os europeus tentam se resguardar dentro do próprio Velho
Continente contra os produtos mais baratos do Leste Europeu. No que diz
respeito às moedas a coisa parece comportada. As moedas flutuam de lá para cá
sem grandes efeitos propriamente "cambiais". Os chineses, por exemplo,
estão onde sempre estiveram : com a moeda desvalorizada para bancar as suas
exportações que inundam o mundo. O Brasil, por sua vez, tem de desatar o
histórico e problemático mundo dos juros altos. Não é à toa que o real é o
campeão de valorização.
Eleições e crise
internacional
Os olhos inundados
de lágrimas de Vladimir Putin, vencedor da eleição deste fim de semana na
Rússia, inauguram o período de eleições em países importantes. Até o meio do
ano teremos eleições na França, país mais importante na estratégia alemã de
colocar ordem na eurolândia. A Grécia se encontra com as urnas em meio a sua
tragédia, em abril. A Itália continua com um cenário instável para o governo
"tecnocrático" do professor Mario Monti. Por fim, temos a corrida
eleitoral norte-americana, marcada pelo desacreditado Obama e pela oposição
estridente dos "napoleões perdidos" republicanos. Neste ano haverá
enorme rebuliço político no hemisfério norte. A sustentação para os planos
reformistas e salvacionistas dos países centrais dependerá destes resultados.
Olhada pela política, a economia será volátil.
Radar NA REAL
2/3/12
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TENDÊNCIA
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SEGMENTO
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Cotação
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Curto prazo
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Médio Prazo
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Juros ¹
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- Pré-fixados
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NA
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estável
|
estável/alta
|
- Pós-Fixados
|
NA
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baixa
|
baixa
|
Câmbio ²
|
|||
- EURO
|
1,3221
|
baixa
|
baixa
|
- REAL
|
1,7353
|
estável/baixa
|
estável/baixa
|
Mercado Acionário
|
|||
- Ibovespa
|
67.781,60
|
estável/alta
|
estável
|
- S&P 500
|
1.369,63
|
estável/alta
|
alta
|
- NASDAQ
|
2.976,17
|
estável/alta
|
alta
|
(1) Títulos
públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Mendes, um
militante ?
Chega parecer
coisa de militante partidário a "cruzada" do ministro do STF, Gilmar
Mendes, contra a chamada Lei da Ficha Limpa. Na sessão do STF que confirmou a
validade da norma, usou argumentos um tanto canhestros, bem rebatidos por
colegas como a ministra Carmem Lúcia, e deu a nítida impressão, pelo estilo e
tom de voz, de querer constranger (e influenciar) a nova ministra Rosa Weber.
Neste domingo, voltou ao ataque no "Estadão" preconizando a alteração
da lei pelo Congresso, alegando que ela é uma roleta russa. Mas não fica claro,
na entrevista, porque ela seria essa ameaça.
A coluna Política
& Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José
Marcio Mendonça e Francisco Petros.
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