Indígenas bolivianos lançam nova
ofensiva contra Evo Morales
La Paz, 28 Jun 2012 (AFP) -Indígenas da Amazônia
boliviana exigem em La Paz a suspensão definitiva de um projeto viário que
cruza seu território, em uma nova escalada dos protestos contra o presidente
Evo Morales, que viajou à Argentina para assistir às cúpulas da Unasul e do
Mercosul.
A marcha, que durante dois meses subiu das
terras amazônicas até o frio andino de La Paz, voltou o protesto para a
anulação de uma lei que convoca para consultas os povos do Território Indígena
e Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS) sobre a rodovia.
Centenas de manifestantes que chegaram esta
quarta-feira a La Paz rejeitam esta consulta que o governo quer realizar de
julho a agosto e pedem a simples anulação do projeto viário em que Morales está
empenhado.
"Pedimos a anulação da lei 222 porque
viola a Constituição, viola as convenções internacionais e viola a Declaração
de Direitos dos Povos Indígenas", proclamou Fernando Vargas, um dos
líderes da mobilização.
Na réplica, o ministro do Interior, Carlos
Romero, disse durante entrevista coletiva que "não há possibilidade de
anular a consulta" porque está amparada na norma nacional e nas convenções
internacionais, de forma que "não podemos não aplicar a
Constituição".
Apesar do antagonismo, tanto Vargas quanto
Romero manifestaram a intenção de negociar.
"Os líderes da marcha pediram o diálogo,
mas nenhum funcionário do governo esteve presente à marcha", queixou-se
Vargas. Romero respondeu que "o governo tem toda a disposição de instalar
o diálogo de forma imediata".
Além disso, os manifestantes insistem em
dialogar diretamente com Morales, que viajou nesta quinta-feira para a cidade
argentina de Mendoza para participar das cúpulas do Mercosul e da Unasul, que
debaterão possíveis sanções ao Paraguai, após a destituição de Fernando Lugo da
Presidência.
O cientista político e professor
universitário Carlos Cordero destaca que "a indiferença com que o governo
de Evo Morales recebeu os manifestantes do TIPNIS corresponde a uma estratégia
usada contra outros setores que consiste em jogar com o desgaste e o
descrédito, enquanto espera que estes, já enfraquecidos, aceitem
negociar".
Por enquanto, os indígenas suspenderam suas
mobilizações "porque morreu um bebê (uma menina levada para a marcha pelos
pais) e vamos nos dedicar a isso", disse Vargas. A menina, de 6 meses,
aparentemente morreu de uma complicação bronco pulmonar.
No entanto, são planejadas para os próximos
dias diversas mobilizações pelo centro de La Paz, onde ficam as sedes dos
poderes Executivo e Legislativo.
Morales insistiu repetidamente na construção
desta polêmica estrada de 300 km cruzando o TIPNIS, região rica em flora e
fauna, apesar da oposição de grupos indígenas que consideram que a via
provocará graves danos ambientais e abrirá a possibilidade de novos cultivos de
coca, insumo da cocaína.
No ano passado, os amazônicos fizeram uma
marcha à La Paz contra a construção da estrada, financiada pelo BNDES, forçando
Morales a vetá-la mediante uma lei, mas a situação, semanas depois, aprovou outra
norma para fazer uma consulta indígena a fim de construir a rodovia.
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