Petrobras leva tombo de R$ 22
bilhões
RIO - "Frustrante, pequeno demais, tarde demais". É como
os investidores qualificaram ontem o reajuste no preço dos combustíveis
anunciado pela Petrobras na última sexta-feira. Resultado: as ações da empresa
despencaram ontem e tiveram a maior queda desde novembro de 2008, auge da crise
financeira internacional. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto)
recuaram 8,95% e os ordinários (ON, com direito a voto), 8,33%. Em um único
pregão, as ações perderam R$ 22,3 bilhões de valor de mercado, mais do que vale
a Natura (R$ 20 bilhões).
O reajuste nos preços da gasolina (7,83%) e do óleo diesel (3,94%)
entrou em vigor ontem. E, em apresentação para analistas de mercado do Plano de
Negócios 2012-2016, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, deixou
claro que os preços terão que sofrer novos reajustes nos próximos anos para
garantir os recursos para os investimentos de US$ 236,5 bilhões previstos no
plano. Segundo ela, a defasagem em relação os preços internacionais não foi
totalmente eliminada, mas o aumento ajudará a companhia a seguir com seu
programa de investimentos.
- O plano aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras
pressupõe paridade de preços internacionais - disse Graça.
Segundo ela, os investimentos também levarão em conta redução de
custos, preço do petróleo e os atrasos nas obras:
- O controlador aprovou o plano de US$ 236,5 bilhões, em que o
primeiro item é a paridade de preços. Nós não passamos a volatilidade dos
preços internacionais ao consumidor, e vamos continuar não passando. Agora,
vamos estar sempre que necessário, pelo menos uma vez por mês, mostrando ao
nosso controlador a nossa condição de dar continuidade aos nossos projetos.
Hersz Ferman, gestor da Yield Capital, explica que o mercado
esperava um reajuste maior, na faixa de 10% a 15%. Segundo estimativas do banco
Credit Suisse, com o reajuste, a defasagem segue elevada na gasolina (7,5%) e
no óleo diesel (18,6%). Além disso, como o governo zerou a Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para não haver repasse ao consumidor do
aumento aplicado nas refinarias o aumento praticado nas refinarias, a companhia
terá cada vez mais dificuldades para negociar reajustes, afirma Emerson Leite,
analista do banco. Isso porque o governo já não tem mais margem de manobra para
evitar impacto na inflação.
- A Petrobras tem um plano de investimentos muito grande e precisa
de caixa para executá-lo. Mas, se foi tão difícil e demorou tanto conseguir um
reajuste na gasolina mesmo sem impacto na inflação, imagine agora - afirma
Ricardo Corrêa, analista da Ativa Corretora. - Muita gente ficou otimista com a
entrada de Graça Foster no começo do ano. Mas a realidade é que a empresa
continua um mecanismo do governo para controle de inflação..
Obra em Itaboraí sem previsão de acabar
Os analistas também não gostaram da apresentação do plano de
negócios. Segundo Gustavo Gattass, do BTG Pactual, a Petrobras fez uma
"apresentação para engenheiro" e não para investidores. Ele explicou
que os diretores da companhia falaram muito sobre gestão e metas e pouco sobre
as estratégias da companhia. Graça embarcou ontem com diretores para apresentar
o plano das empresas a investidores em Nova York, Boston e Londres.
Graça anunciou ontem que a Petrobras adiou o início da operação do
Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em construção em Itaboraí,
no Rio, e das duas refinarias Premium previstas para serem construídas no
Maranhão e no Ceará. Ela garantiu que os projetos não foram cancelados, mas que
seus prazos sendo reavaliados considerando seus custos e recursos disponíveis.
Pelo cronograma anterior, a primeira refinaria do Comperj deveria entrar em
operação em 2014, e a segunda em 2016. No momento não tem prazo algum definido.
Segundo o último balanço do PAC 2, divulgado em março, até o fim de 2011 o
Comperj já tinha 25% de suas obras realizadas. O governo exigia da Petrobras no
balanço do PAC realizar até 29% das obras até abril. Foram investidos até 2010
(último dado disponível) R$ 2,9 bilhões no Comperj e a previsão são de mais R$
19,2 bilhões para concluir a obra.
- Nenhum projeto foi retirado do plano. No Comperj, estamos
reavaliando os prazos, de uma forma mais detalhada possível - destacou.
Já as refinarias Premium saíram do Plano de Negócios 2012-2016. No
plano anterior, a Premium I, no Maranhão, deveria iniciar produção em 2016 e a
Premium II, no Ceará, a partir de 2017. As obras da Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco, tiveram atraso de um ano em sua conclusão. A primeira unidade está
prevista para novembro de 2014, contra setembro de 2013 previsto anteriormente.
A segunda entrará em operação em novembro de 2015. Ao detalhar o novo plano de
negócios com novos prazos para todos os projetos da companhia, Graça informou
que o custo passou para US$ 17 bilhões, contra US$ 13 bilhões anteriores.
Empresa não cumpre metas desde 2003
Graça e toda a nova diretoria apresentaram também as novas metas
de produção de petróleo que foram reduzidas em relação ao plano anterior de
2012-2015. Pelas novas metas a produção nacional de petróleo caiu para 2,5
milhões de barris em 2015, contra 3 milhões em 2015 previstos anteriormente.
Graça fez questão de demonstrar que, desde o início do Governo Lula, em 2003, a
Petrobras nunca conseguiu cumprir as metas previstas.
Com o tombo das ações da Petrobras, o Ibovespa, índice de
referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou em queda de
2,95%, aos 53.805 pontos. Também influenciou um clima externo negativo, com
investidores apostando na falta de resolução na cúpula da União Europeia no fim
da semana. O volume de negócios da Bolsa ficou em R$ 4,6 bilhões, num pregão
marcado ainda por sérios problemas de conexão com o sistema da Bolsa. O dólar
comercial fechou em leve alta de 0,09%, a R$ 2,066.
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