Nem bancos
brasileiros escapam da crise global
RIO - O Brasil não passou incólume à revisão
da classificação de risco de bancos feita pela agência Moody's em todo o mundo.
Depois de rebaixar grandes grupos internacionais, como o Bank of America,
Goldman Sachs, Santander e HSBC, na quinta-feira foi a vez de oito instituições
financeiras brasileiras terem a nota reduzida. Itaú, Bradesco, Banco do Brasil
(BB), Santander, Safra, HSBC, Votorantim e ING Bank, mais a BM&FBovespa, caíram
até três níveis para ficarem mais próximos da avaliação dos títulos públicos
brasileiros. Todos continuaram sendo considerados grau de investimento,
qualificação dada a países e empresas seguros de se investir. A revisão teve
impacto nas ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e fez
os papéis de quatro bancos fecharem em queda.
Segundo a Moody's, a mudança ocorreu depois
que depois que a agência aprendeu, nas crises financeiras recentes, que os
bancos são altamente atrelados ao grau de confiança nos títulos públicos dos
países onde estão sediados. Isso porque os papéis dos governos são alvo de
grandes parcelas de investimentos das instituições.
- Entendemos agora que os ratings dos bancos
ou de instituições financeiras não podem estar muito acima dos seus governos,
porque a correlação de risco de crédito de um país e dos seus bancos é muito
forte - explicou Ceres Lisboa, vice-presidente de crédito da Moody's no Brasil
e última responsável pelo estudo que revisou notas de bancos brasileiros.
Apenas Itaú, Itaú BBA e Bradesco continuaram
com notas superiores à da dívida brasileira. Os três caíram três níveis, de
"A1" para "Baa1". BB teve a qualificação equiparada ao do
país ("Baa2"), por ser público e pela elevada dependência do Tesouro
brasileiro. O Safra foi rebaixado de "Baa1" para "Baa2". Já
HSBC e Santander sofreram os reflexo da piora nas suas matrizes no exterior e
caíram dois níveis, de "A3" para "Baa2".
Captações podem ficar mais caras
A subsidiária do holandês ING no Brasil caiu
também por reflexo da piora da avaliação de sua controladora. Apenas o Banco
Votorantim, um dos que mais sofreram recentemente com a alta da inadimplência,
ficou com nota inferior ao Brasil e perdeu um nível, de "Baa2" para
"Baa3". Essas notas consideram apenas a solidez financeira dos bancos
- não são avaliados eventuais apoios do governo ou de suas matrizes.
Desde que a revisão da Moody's começou em 24
de fevereiro deste ano, 84 bancos em todo o mundo foram colocados em análise.
Para ilustrar a exposição dos bancos brasileiros a títulos públicos, a Moody's
citou que, em média, os bancos têm aplicados em títulos federais o equivalente
a 167% de seu patrimônio de referência de nível 1 (considerado o mais seguro).
"Nossa revisão indica que existem poucas
razões para acreditar que esses bancos possam ficar isolados de uma crise de
dívida pública", diz o relatório da Moody's.
Na Bolsa, as ações unit do Santander Brasil
recuaram 0,52%, enquanto a ação ordinária (ON, com direito a voto) do BB perdeu
0,21%. O papel preferencial (PN, sem direito a voto) do Bradesco recuou 0,82%.
Itaú Unibanco PN perdeu 0,95%, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa
brasileira, caiu 0,86%, aos 52.652 pontos.
Segundo João Augusto Salles, analista da
consultoria Lopes Filho, a piora das notas pode tornar mais caro para os bancos
captarem recursos nos mercados externo e interno.
- Quanto pior o rating, a percepção de quem
empresta recursos para esses bancos é de que o banco ficou com risco mais
elevado. Logo cobra-se um juro maior - diz João Augusto Salles, analista da
consultoria Lopes Filho.
Santander diz que foi ajuste técnico
O presidente do Santander no Brasil, Marcial
Portela, minimizou a decisão. Segundo ele, a medida foi mais um ajuste técnico
do que uma revisão decorrente da piora das condições dessas instituições.
- Os bancos brasileiros nunca estiveram tão
sólidos - disse o presidente do Santander.
Para ele, o sistema bancário brasileiro é um
dos mais sólidos do mundo.
- O Santander está com um nível de
capitalização muito bom, perto de R$ 60 bilhões em Bolsa, enquanto o Itaú está
com R$ 118 bilhões e o Bradesco, com R$ 95 bilhões - explicou o executivo, em
entrevista a jornalistas brasileiros na Espanha.
Procurados, Itaú Unibanco, Bradesco, HSBC e
BB informaram que não iriam se pronunciar sobre a mudança em suas notas.
Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora,
admitiu que o rebaixamento assustou num primeiro momento, mas que depois ficou
claro ter se tratado muito mais de um ajuste metodológico.
- Na prática, não mudou nada em relação ao
Brasil. Os bancos grandes do país estão num bom momento.
Carlos Hamilton de Araújo, diretor de
Política Econômica do Banco Central, concorda:
- Eles não estão enxergando nenhum problema.
É um procedimento generalizado. Certamente, essa crise recente ensinou alguma
coisa e eles mudaram esse procedimento.
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