Argentina pede que Reino Unido
retome diálogo sobre Malvinas
Nações Unidas, 14 jun (EFE).- A presidente da Argentina, Cristina
Kirchner, pediu nesta quinta-feira na tribuna da ONU que o Reino Unido atue com
"mais inteligência" e aceite retomar o diálogo sobre as Malvinas, uma
questão que classificou como problema regional e global.
"O Reino Unido deveria atuar com mais inteligência, porque
uma negociação levaria a parceiras benéficas para a América do Sul e para todo
o mundo", disse a presidente durante seu discurso perante o Comitê
Especial de Descolonização das Nações Unidas, que estudou hoje o caso das
Malvinas.
Cristina exigiu ao Governo britânico o retorno das negociações
sobre o futuro do arquipélago, ocupado pelo Reino Unido desde 1833. As duas
nações, inclusive, se enfrentaram em uma guerra sobre o tema que terminou há 30
anos.
"Não pedimos que nos deem razão, mas que se sentem na mesa
para dialogar. Pode alguém no mundo contemporâneo se negar a dialogar e depois
se transformar em líder da liberdade e do mundo ocidental e cristão? Acho que
não", disse a presidente argentina.
Cristina foi a primeira chefe de Estado a participar de uma sessão
do Comitê de Descolonização. Na ocasião, ela disse não ter nenhum tipo de
rancor nem ofensa, e defendeu construir com os britânicos "uma nova
história na base do diálogo" e de acordo com as distintas resoluções
aprovadas pela ONU. "Não queremos mais mortes nem guerras, porque sofremos
interna e externamente", disse.
O Comitê de Descolonização da ONU aprovou nesta quinta por
consenso uma resolução - apresentada por Bolívia, Chile, Cuba, Equador,
Nicarágua e Venezuela -, que pediu mais uma vez à Argentina e ao Reino Unido
negociações para chegar a uma solução "pacífica, justa e duradoura".
Além do diálogo, a presidente pediu ao Reino Unido, que suas
autoridades, comecem a cumprir os pedidos do Comitê de Descolonização organismo
e argumentou que a questão tem um impacto regional e global. "É regional,
porque defendemos os recursos da América do Sul e global porque amparamos o
papel de um organismo internacional", disse a governante.
A participação de Cristina no Comitê coincidiu com o 30º
aniversário do fim da Guerra das Malvinas, mas a presidente argentina disse que
esse não foi o motivo de sua ida. "Não por isso, mas porque em poucos
meses completa 180 anos que fomos usurpados". Além disso, garantiu que a
guerra de 1982 foi uma decisão unilateral da ditadura.
Cristina esteve acompanhada por vários ministros de seu Gabinete,
como o chanceler Héctor Timerman, e por representantes da maioria das forças
parlamentares argentinas.
Antes de seu discurso, que encontrou respaldo dos representantes
de vários países, entre eles Rússia, China e Síria, dois representantes da
Assembleia Legislativa das Malvinas defenderam a permanência da atual relação
com o Reino Unido e a realização de um referendo de autodeterminação.
Um dos integrantes da Assembleia, Mike Summers, convidou a
Argentina a escutar as os malvinenses e iniciar um diálogo, algo, que o Governo
argentino só concebe com o Reino Unido como interlocutor.
Os representantes das Malvinas tentaram sem sucesso entregar uma
carta a Cristina quando a presidente saía do Comitê, e alguns deles a seguiram
até os elevadores da sede nova-iorquina da ONU, mas também não a alcançaram.
Na carta, os participantes da Assembleia fazem o pedido de diálogo
e pedem ao Governo argentino que termine sua tentativa de retomar o domínio das
Malvinas. "Pedimos o fim da campanha de assédio e intimidação contra os
malvinenses, e que nos permita viver em paz nas ilhas que foram nosso lar
durante quase 180 anos".
O embaixador britânico perante a ONU, Mark Lyall Grant, disse à
imprensa ao término da sessão e acusou a Argentina de usar dados errôneos sobre
as Malvinas "por propaganda". Ao mesmo tempo qualificou de
"decepcionante" o fato de o país ter aumentado a retórica nos últimos
meses.
"Lamentamos. Temos boas relações com a Argentina em quase
todos os temas, mas não neste. Não vamos fazer nada para agravá-lo", disse
o diplomata.
Nesta quinta-feira, completa 30 anos do fim da Guerra das Malvinas
de 1982, um conflito que ocorreu depois que as tropas argentinas ocuparam o
arquipélago e no qual morreram 255 militares britânicos e pelo menos 650
argentinos.
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