Bichos ganham tratamentos de saúde caros; conheça
Exames de imagem,
cirurgias e até quimioterapia ajudam animais idosos.
Expectativa média atual de bichos de estimação gira em torno dos 15 anos.
Considerada idosa aos 11 anos, a poodle Khiara vive bem após vencer um
câncer de mama detectado e tratado graças aos recentes avanços da medicina
veterinária. A doença começou com um pequeno nódulo, cresceu rápido e foi
preciso retirar toda a glândula mamária. Para que o tumor não se espalhasse
para outros órgãos, a cadelinha passou por cinco meses de quimioterapia.
O caso de Khiara é um exemplo de animais domésticos que se curaram de
doenças até pouco tempo atrás fatais. Os gastos com diagnóstico, cirurgia e
tratamento são altos, mas, para muitos donos que consideram seus
"pets" verdadeiros membros da família, o custo-benefício é igualmente
grande.
“A quimioterapia terminou há um ano e hoje ela está ótima, nem parece
que teve câncer. Só caíram os pelos, mas nasceu tudo de novo”, conta a dona da
poodle, a consultora comercial Carla Cardenuto, que ainda tem em casa um
jabuti, uma coelha, uma papagaia, um peixe, dois canários e quatro periquitos.
Segundo
a médica veterinária especializada em oncologia Gabriela Rodrigues, as drogas
quimioterápicas aplicadas em animais são as mesmas usadas em humanos, só que em
doses bem mais leves e com menos efeitos colaterais.
“A quimioterapia pode ser tanto injetável quanto oral e cada
sessão custa de R$ 200 a R$ 400, de acordo com o tamanho e o peso do animal,
pois a dose varia”, diz a veterinária. O tratamento inteiro pode incluir de
quatro a oito sessões, com intervalos de duas a três semanas entre cada aplicação.
e vivem em total harmonia
Exames e procedimentos modernos
A área de diagnóstico por imagem também tem avançado na medicina veterinária. Nos últimos dois anos cresceu muito o número de ressonâncias magnéticas e tomografias computadorizadas feitas em cães e gatos, para detectar e prevenir doenças, afirmam os veterinários ouvidos.
Isso tem permitido que os animais vivam em média 15 anos – quanto menor
o porte, mais longa é a expectativa. A relação entre a idade humana e a canina
ou felina oscila de três a cinco vezes mais que a dos homens. Ou seja, um cão
de 11 anos tem entre 33 e 55 anos na nossa contagem, dependendo da raça.
Exames como ressonância e tomografia têm um custo médio de R$ 800,
porque envolvem também anestesia geral – são raros os procedimentos em animais
realizados em estado de total consciência, já que eles precisam ficar calmos.
Os aparelhos são os mesmos usados nos seres humanos, mas muitas vezes passam
por adaptações.
Já as ultrassonografias têm sido oferecidas no meio veterinário há uma
década. Na área cardiológica, por exemplo, servem para avaliar o fluxo
sanguíneo, as variações da pressão arterial e a irrigação do coração e dos
tecidos. Tudo isso é monitorado por meio de um
"ecodopplercardiograma", um ultrassom colorido que dá um panorama geral
do músculo cardíaco e sai por R$ 150 a R$ 200.
Além desse exame, já é possível realizar um cateterismo no animal com
artérias obstruídas por gordura e colocar marcapasso para corrigir arritmias
cardíacas. O primeiro custa cerca de R$ 5 mil e o segundo, de R$ 8 a R$ 10 mil.
“Esses procedimentos ajudam o animal a ter uma vida mais tranquila,
confortável e com melhor qualidade. Um cão com 15 anos, se for bem tratado,
pode viver mais um ano ou dois”, destaca o veterinário especializado na aérea
de cardiologia pelo Instituto do Coração (Incor) Robinson Moreira.
Moreira diz que o ideal é que um animal de até 7 anos faça pelo menos um
check-up anual. A partir dessa idade, a frequência precisa ser semestral. Se
tiver uma doença cardíaca comprovada, a ida a uma clínica deve ser trimestral.
Genética, idade, problemas renais ou infecciosos e até tártaro nos
dentes podem afetar o coração. As raças também influenciam: boxers têm mais
fragilidade cardíaca, enquanto poodles, malteses e outros cães pequenos
apresentam mais deficiências em válvulas.
Com saúde na terceira idade
Aos 13 anos, o poodle Leonardo da Vinci é um idoso com regalias de filho único. Faz acupuntura contra dores na coluna provocadas por um bico de papagaio, só consome carne com baixo teor de proteína (como carneiro, coelho, rã e peixe) para não sobrecarregar os rins malformados e vai ao oftalmologista duas vezes por ano por causa de um envelhecimento na córnea, que resseca os olhos e demanda aplicação constante de lágrimas artificiais.
Os donos do cãozinho, a biomédica Rachel Chebabo e o
administrador de empresas Ricardo Leuzzi, fazem uma avaliação médica completa
nele duas vezes por ano. Isso porque Leo, como é chamado, também tem arritmia
cardíaca, gases e agora uma dor de garganta. Para manter a saúde em dia, ele
ainda toma um complexo vitamínico e já recebeu vacinas contra alergias.
“Estamos prolongando a vida dele com qualidade e saúde, sem exageros ou
intervenções. Quando papai do céu achar que é a hora dele, ele vai”, diz
Leuzzi, que, assim como a mulher, leva Leo para todo canto. Entre passeios terrestres
e aéreos, o poodle já viajou por todo o Brasil e conhece ainda Argentina,
Uruguai e Paraguai.
“Ele já fez rafting em Bonito (MS), andou de maria-fumaça e fica sempre
com a gente na cabine do avião”, conta o administrador. Ultimamente, por conta
da idade avançada, os donos não viajam mais para longe nem mudam os móveis de
lugar em casa, para o animal não bater em algo ou se machucar por conta da
visão prejudicada.
O gasto médio com Leo gira em torno de R$ 500 por mês, incluindo
despesas com veterinário e pet shop. Entre as intervenções complexas que ele já
fez está uma cirurgia aos 9 meses de idade para reconstruir três costelas
quebradas após a mordida de uma labradora. Para não abrir os pontos, o cachorro
não podia latir, e o casal “interditou” o andar em que mora para ninguém subir
e causar uma reação inesperada.
O cãozinho também já foi “ressuscitado” depois de sofrer duas paradas
cardíacas ao levar uma anestesia geral para limpar os dentes. A traqueia dele,
que já é estreita, se fechou e o coração, sem oxigênio, parou de bater.
“Só submeto esse bichinho a uma
nova cirurgia se for para salvar a vida dele. Também não vou deixá-lo sofrer
nem ser egoísta a ponto de preservá-lo ao máximo. Se necessário, não
descartamos a eutanásia”, afirma Rachel.
Cirurgia de catarata
Uma das cirurgias que mais avançaram e tiveram resultados satisfatórios na área da saúde animal é a que remove a catarata, doença que causa opacidade do cristalino dos olhos. O problema está geralmente associado à velhice e ao diabetes, mas também pode ser genético e surgir em animais jovens, de 2 ou 3 anos.
De acordo com a veterinária especializada em oftalmologia Angélica
Safatle, que cuida de Leo, raças de pequeno porte como poodle, lhasa apso,
shih-tzu e yorkshire têm mais incidência de catarata por uma questão
hereditária.
“A cirurgia é rápida, dura 30 minutos, mas é delicada, porque o animal
precisa ser entubado”, explica a médica. Operações oftalmológicas em bichos de
até 15 anos também são feitas em casos de traumas, tumores e pálpebras viradas
para dentro.
O procedimento para retirar a catarata custa de R$ 2 mil a R$ 3 mil, mas
tem um custo-benefício igualmente alto. O animal passa a andar mais rápido,
cair e bater menos em obstáculos. E o problema não corre o risco de voltar,
segundo Angélica. No pós-operatório, é preciso aplicar um colírio durante um
mês.
Sete vidas
Não são só os cães que vivem mais: os gatos também, e não por causa das hipotéticas seis vidas extras. Aos 17 anos, o siamês Milu é um idoso com diabetes totalmente sob controle. A dona e bióloga Célia Pavan aplica insulina no animal duas vezes por dia, pela manhã e no fim da tarde.
A doença foi descoberta há três anos, pois o gato estava urinando muito
e bebendo mais água que o normal. Por conta disso, Milu mantém uma dieta
especial, com ração própria para diabéticos e carpaccio de carne ou filé de
peixe. Segundo Célia, ele também adora requeijão, queijo branco e leite
condensado, mas atualmente está impossibilitado dessas regalias.
“Acho que é o comecinho do fim.
Descobrimos uma pancreatite nele. Há uns dias, o Milu está com hipertensão e
insuficiência renal”, cita a dona, que tem aplicado soro diariamente no bichano.
Por mês, Célia gasta com o animal de estimação cerca de R$ 300, o que
inclui ração, areia e tapete para o xixi, cobertores e mantas. Nesse valor,
também estão somadas as despesas do cãozinho Oliver, um lulu-da-pomerânia que é
o xodó do marido dela.
“O Milu dorme na minha cama desde os 45 dias de vida. Agora ele merece
todo o tratamento, conforto e bem-estar do mundo. Se a gente não cuidasse, ele
já teria ido embora. O que puder fazer, dentro das minhas possibilidades, vou
fazer”, diz Célia, que chama carinhosamente o gato de Gugu.
Plano de saúde
Para manter o controle dos gastos com os animais, alguns donos já optam por um plano de saúde. Há várias opções em todo o Brasil e muitas têm cobertura nacional.
Segundo a assessoria do plano Mister Saúde Animal, que atua em São Paulo
há dez anos, a empresa oferece dois tipos de convênio: executivo e plus. O
primeiro custa R$ 67 por mês e abrange 70% das necessidades do animal, como
vacinas, exames e cirurgias simples. O segundo sai por R$ 96 mensais e inclui
exames e cirurgias de alta complexidade, unidade de atendimento móvel e até
unidade de terapia intensiva (UTI).
O valor independe da idade do paciente e é o mesmo para cães e gatos. Os
dois planos também cobrem pré-natais e eventuais cesarianas, indicadas em caso
de feto morto ou impossibilidade de parir, pelo tamanho ou pela posição dos
filhotes.
Há apenas um pré-requisito: os donos não podem ficar sem usar o plano. A
cada 60 dias, precisam comparecer a uma clínica credenciada para submeter o
animal a, pelo menos, um exame clínico.
Apesar dos aparentes benefícios, donos e veterinários de clínicas
particulares costumam ser contra o serviço, pois acham que ele não inclui tudo
o que pode ser necessário e, principalmente, coloca à disposição apenas os
profissionais da rede conveniada – o que impossibilita a escolha de um veterinário
de preferência da família.
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