Vampiros búlgaros ofuscam romenos
na busca pela origem desta lenda
Sófia, 21
jun (EFE).- A Bulgária passa a questionar a vizinha Romênia sobre a origem pagã
da lenda dos vampiros, ao abrigar em Sófia o esqueleto de um suposto
"bebedor de sangue", que, por sua vez, foi encontrado há alguns dias
em um túmulo medieval na cidade de Sozopol e às margens do Mar Negro.
O suposto vampiro, ou melhor, o esqueleto de um homem, cuja
identidade e idade ainda são desconhecidas, foi enterrado em uma casa com uma
barra de ferro cravada em seu coração. A partir desta sexta-feira, os restos
mortais desse "vampiro" serão expostos no Museu Nacional de História
em Sófia.
O personagem, que data do século XIV, é uma clara mostra de um
costume pagão, o qual consistia em atravessar o coração dos mortos com uma
lamina metálica para que o mesmo não conseguisse ressuscitar.
Assim explicou à imprensa o diretor do museu, Bozhidar Dimitrov,
ao apresentar o achado. Na ocasião, Dimitrov datou a origem dessa crença em
vampiros na Idade Média e, inclusive, mais cedo, na época dos conventos
cristãos no reino búlgaro.
"Os vampiros são parte da mitologia búlgara e essa crença é
fruto do pré-cristianismo, mas o próprio cristianismo rejeitou essa
lenda", explicou Dimitrov, um reconhecido historiador búlgaro.
Segundo o estudioso, a crença popular daquela época consistia na
morte, já que somente as pessoas justas e sem pecados teriam sua alma elevada
aos céus.
Pelo outro lado, as almas dos maus ficavam em seus corpos e,
muitas vezes, precisavam sair de baixo da terra para beber sangue,
primeiramente de animais e, posteriormente, de seres humanos, reza a lenda.
Com a intenção de evitar que um ser se transformasse em vampiro,
um grupo de valentes locais exumava o cadáver, na noite posterior ao enterro e
antes da meia-noite, e cravava uma barra de ferro ou de madeira no peito do
morto.
"Nos mais ricos, usavam ferro e, nos mais pobres, cravavam
uma adaga de madeira", assegurou Dimitrov, após acrescentar que assim se
achava que o peso do material pressionaria o morto para que ele não conseguisse
se levantar.
O pesquisador ressaltou que o fato registrado nas terras do que
hoje é Romênia não deve estranhar ninguém, já que este território fazia parte
do reino búlgaro até o século XIV, quando o país caiu sob o império otomano.
Dimitrov coloca em xeque a lenda de que a Romênia seja o berço do
vampirismo, criada graças ao livro "Drácula", publicada em 1897 pelo
irlandês Bram Stoker e baseada em contos populares da região sobre um
governante local chamado Vlad Tepes.
O diretor do museu também disse que o esqueleto em questão foi
achado atrás de uma igreja medieval, um lugar reservado especialmente para enterrar
pessoas importantes e de alto nível social, como prefeitos, arrecadadores de
impostos, conselheiros municipais e sacerdotes.
"Mas também poderia ser de um pirata marítimo que atuava
nesta região naquela época. Era conhecido como Krivich", supôs Dimitrov.
Segundo o pesquisador, após o primeiro achado, um segundo túmulo
também foi encontrado com uma barra de ferro atravessada no peito. Pela
constituição dos ossos e pela proximidade do primeiro túmulo (apenas 50
centímetros), Dimitrov suspeita que esta poderia ser a esposa do tal nobre ou a
do pirata.
"Infelizmente, os ossos da suposta esposa estão em muito mal
estado e não podem ser transferidos. Por isso, fomos obrigados a divorciar o
casal", brincou Dimitrov.
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