Prisão de
Cachoeira leva crise a Anápolis
Em Anápolis, 50 quilômetros ao
norte de Goiânia e 150 ao sul de Brasília, a queda nas vendas do comércio não
costuma ser associada à crise na Europa. Nas ruas e lojas da mais dinâmica
economia do Centro-Oeste, a crise é chamada de Carlinhos Cachoeira. Foi a
partir da prisão, em fevereiro, de Carlos Augusto Ramos, contraventor que
começou aqui seus negócios na área de jogos eletrônicos, que o desânimo dos 5
mil comerciantes e lojistas aumentou.
"É
só soltar o Cachoeira para o dinheiro voltar", diz Sebastião Carlos do
Couto, dono de uma banca de DVDs na Avenida Brasil, uma das principais.
"Parece brincadeira, mas a crise do Cachoeira deu uma balançada. O pessoal
está cismado. Acabaram os bares que tinham máquina de jogos e derrubaram os empregos",
relata. Ele diz que vendia antes da crise cem DVDs. Agora, vende 40.
A
Câmara dos Dirigentes Lojistas de Anápolis registra uma queda de cerca de 30%
nas vendas nos últimos três meses em relação ao mesmo período do ano passado.
Ninguém se arrisca a associar esse porcentual de queda ao caso Cachoeira, mas o
sentimento na cidade de 350 mil habitantes está mais perto de problema local
que resultado de uma conjuntura internacional.
"Após
a crise política, as pessoas ficaram com medo de gastar", diz o
comerciante Reginaldo Regis, dono de uma loja de máquinas de costura na cidade.
"O caça-níquel dava emprego, movia a economia. Agora, queira ou não, o
comércio de Anápolis e de toda as cidades próximas caiu", avalia.
Nos
primeiros dias após a prisão de Cachoeira, a Polícia Civil de Goiás apreendeu
1.801 máquinas caça-níqueis em Anápolis e nas cidades vizinhas. Açougues,
padarias, salões de beleza tinham suas despesas de aluguel, água e luz pagas
pelas máquinas, que ficavam escondidas nos fundos das lojas. Os comerciantes
ficavam com 10% a 15% da arrecadação das máquinas. A maioria se acomodou.
A
Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, resultou no fechamento de bares e
lanchonetes que lucravam com os jogos na Praça do Bom Jesus e nas ruas em volta
do terminal rodoviário, onde nos anos 1970 o então desconhecido cantor
sertanejo Mirosmar de Camargo, agora Zezé di Camargo, se apresentava.
Empresários
da região ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo avaliam que a crise
política, mesmo que atinja apenas o humor dos comerciantes, ainda deverá trazer
mais desgaste para a imagem de Anápolis, que aposta no setor de logística e no
comércio interestadual. Embora a CPI do Cachoeira instalada no Congresso não
avance nas investigações da PF, os empresários dizem que ainda é incerta a
situação do governo do Estado, por exemplo, nesse processo.
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