Novos postos diplomáticos viram 'mico' no Itamaraty
O aumento do total de embaixadas no governo Lula (2003-2010)
esbarrou na falta de interesse dos diplomatas em atuar nesses postos.
Das 40 embaixadas abertas durante
a gestão do petista, 35 contam com um corpo diplomático abaixo do previsto --a
lotação ideal de cada representação é definida em portaria assinada pelo
ministro das Relações Exteriores.
A falta de servidores é
recorrente em postos na África, no Oriente Médio e no Caribe, classificados, em
grande maioria, como C e D. Essas categorias, as piores, são definidas por
critérios como grau de representatividade do posto e nível de vida no país.
Em Camarões, por exemplo, só há
um diplomata lotado na embaixada brasileira: o chefe do posto, embaixador
Orlando Galvêas.
Embaixadora em Acra, capital de Gana, Irene Vida Gala afirma que um dos
motivos para a dificuldade em ocupar postos mais áridos é o pouco
reconhecimento profissional.
"De um modo geral, ainda na atual geração, os funcionários mais
destacados da estrutura do Itamaraty nunca passaram por esses postos, sobretudo
na África. A mensagem é de que a África, ou postos menores e de sacrifício, não
podem estar no currículo daqueles que esperam fazer uma bela carreira na
Chancelaria", afirma. "Felizmente isso está mudando", avalia
ela.
Acra esteve por duas vezes na lista de embaixadas oferecidas aos
recém-formados.
Criada em 2007, essa relação prioriza os postos com "alta
carência" de pessoal. Mas nem sempre essas vagas são preenchidas.
Muitos diplomatas preferem ficar mais tempo no Brasil até conseguirem
postos mais tradicionais. Na última turma, só 11 dos 108 formandos aceitaram
lugares como Iraque, Paquistão e Haiti.
O terceiro-secretário Michael Lawson foi um deles. Atualmente, ele é o
único diplomata em Gaborone, capital de Botsuana. A expectativa é de que até
setembro o posto tenha um embaixador.
Lawson afirma que aceitou a oferta por ter interesse em atuar na África.
Ele cita ainda alguns benefícios.
Diplomatas em postos mais difíceis recebem uma remuneração maior, além
de ter a possibilidade de pagamento integral de auxílio-aluguel.
"Existe uma defasagem entre discurso e prática", afirma um
diplomata sobre a festejada expansão de postos.
O Itamaraty rebate e defende que o aumento do número de embaixadas foi
uma política bem-sucedida.
"A maior capilaridade da representação do Brasil no exterior,
inclusive em áreas de grande importância nas quais tínhamos presença esparsa,
tem ajudado na interlocução com os governos e contribuído para identificar
novas oportunidades de negócios rapidamente", afirma o ministério por meio
da assessoria de imprensa.
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