Consumo no país não sentiu crise, e o pior já passou, diz
economista-chefe do Credit Suisse
No fim de junho, o ministro Guido Mantega (Fazenda) chamou de
"piada" a estimativa de crescimento do economista Nilson Texeira, do
Credit Suisse. Ele projetava que a expansão da atividade neste ano ficaria em
1,5%.
Desde então, as projeções dos
demais analistas do mercado convergem para o "cenário Credit Suisse",
distante da estimativa oficial (3%).
Na semana passada, segundo
pesquisa do Banco Central, o consenso do mercado chegou a 1,8%.
Apesar do número que causou
desconforto no governo, Teixeira não se diz pessimista com o Brasil e suas
projeções mostram um retrato de recuperação da economia.
Ele elogia o pacote do governo, anunciado anteontem, e afirma que
o pior da contração da economia já passou.
*
Há uma retomada em curso?
Nossas projeções assumem um
crescimento bastante expressivo no segundo semestre. Isso dará uma expansão de
1,5% neste ano.
Mas o interessante é analisar os
componentes do PIB. O consumo das famílias, ao contrário do que alguns
imaginam, continua crescendo de maneira importante.
Quanto?
Bastante. Desde 2003, a expansão
média do consumo é de 1,1% ao trimestre. No primeiro trimestre deste ano, ficou
muito próximo disso (1%). Portanto, o consumo das famílias continua se
comportando muito bem.
E a gente não vê nenhum processo
de esgotamento desse lado. O que vemos, sim, vem dos investimentos. A
desaceleração da atividade vem ocorrendo por causa da contração dos investimentos.
Haverá recuperação dos
investimentos neste ano?
Olhando para a frente, a
expectativa é de retomada.
Mas é difícil precisar em qual
momento. Não nos parece que seja no início do terceiro trimestre, mas será em
meados do terceiro trimestre? Ou no quarto trimestre?
Não dá para saber, porque depende
também de fatores externos. Mas a gente continua argumentando que haverá
recuperação.
E, dado o consumo das famílias,
que já tem expansão forte, o PIB vai crescer mais no próximo ano do que neste e
no ano passado.
Então é basicamente uma
questão de confiança?
Nos parece que o setor
corporativo brasileiro tem condições financeiras favoráveis e balanços fortes.
É muito mais a perspectiva de curto prazo que faz com que investimentos sejam
postergados. Assim que o cenário externo melhorar, haverá recuperação.
Como ter essa certeza?
Em parte porque o governo tem
agido para tentar reduzir os custos desses investimentos. A taxa de juros vai
diminuir, vai de 12,5% para 7,5%, podendo ir até a 7%.
Fora isso, há uma redução dos
"spreads", bancários. E reduziram-se impostos. Alguns serão
revertidos, outros não. O conjunto tende
a estimular os investimentos. Mas o governo não é capaz de fazê-los acelerar imediatamente.
a estimular os investimentos. Mas o governo não é capaz de fazê-los acelerar imediatamente.
Como avalia o pacote de
concessões lançado anteontem?
O anúncio sobre ferrovias e
rodovias é bastante favorável. Mostra atitude do governo de buscar reduzir os
custos domésticos de produção de uma maneira estrutural.
É favorável saber também que, nas
próximas semanas, haverá anúncio para portos e aeroportos. Além disso, há a
leitura de que está por vir uma redução da carga tributária, que nesse primeiro
momento parece ser da energia.
Qual seria o impacto da
desoneração da energia?
Suponhamos que o corte seja de
20%. O impacto na inflação será de 0,7 ponto percentual. Mas, para as empresas,
a redução do custo de produção é bem expressiva. Então, o impacto pode ser uma
redução da inflação em até 1 ponto percentual.
As medidas de anteontem
podem ter efeito imediato?
Em 2012 podem provocar um
sentimento mais favorável na sociedade, mas não a ponto de alterar nossas
projeções. Nem no próximo ano.
Mas as medidas valem muito mais
do que os R$ 133 bilhões. Valem pelo governo mostrar que está no caminho de
privilegiar o setor privado.
A presidente Dilma verá o
resultado dessas concessões ainda no seu governo ou é algo para o longo prazo?
Verá. É difícil saber em quanto
tempo, pois não depende só do governo. Mas essas medidas estimulam os
investimentos e abrem espaço para investimentos maiores.
No ano que vem, na nossa
estimativa, o PIB crescerá 4%, e o investimento, 8%. Ou seja, é uma boa
recuperação.
Os juros vão permanecer
baixos por um período longo?
A curva de juros futuros diz que
vão parar em 7,25%. A atividade cresce menos do que a expectativa, e há menores
riscos inflacionários.
Assumindo que não haja uma
aceleração muito mais expressiva nos preços de commodities, que eles não se
transmitam para carnes e açúcar, a inflação ficará bem comportada, 5,1% ou
5,2%.
Nessas circunstâncias, é possível
que a redução dos juros seja prolongada. Se a atividade demorar mais tempo para
se recuperar, não se pode descartar uma nova redução dos juros em novembro, chegando
abaixo de 7,25%.
É um risco para a
inflação?
Não é a nossa leitura neste
momento. Há risco de a inflação ser maior do que a nossa projeção por conta dos
fatores que mencionei, mas em 2013 ela pode ficar igual ou um pouquinho abaixo.
Ou seja, uma inflação acima da meta [de 4,5%], mas estável e próxima à meta.
O sr. foi um dos primeiros
a projetar crescimento de 1,5% neste ano. Na época, o ministro Guido Mantega
chamou de "piada" a estimativa. O sr. se acha um pessimista?
Não, eu sou otimista. Estou no mercado
há muito tempo. No começo, eu era um analista pessimista com o Brasil. Mas, nos
últimos dez anos, eu me tornei mais otimista.
E, de fato, nossas projeções são
otimistas. A diferença entre a nossa projeção e as mais altas no mercado me
parece ser uma recuperação mais acelerada dos investimentos, o que não é
impossível, mas improvável neste momento.
O pior já passou?
A menos que haja uma nova onda de
crise externa, nos parece que o pior já passou.
Quando foi o pior momento?
Uma avaliação qualitativa com
nossos clientes mostra que o pior momento foi no segundo trimestre deste ano.
Daqui para a frente, há uma perspectiva mais favorável.
Os salários continuam crescendo. A taxa de desemprego está baixa. Daí a popularidade alta da presidente, muito associada a fatores econômicos.
Os salários continuam crescendo. A taxa de desemprego está baixa. Daí a popularidade alta da presidente, muito associada a fatores econômicos.
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