Produtores aprendem a conviver com doença em bananais de
SP
Doença da bananeira vinda
do Oceano Pacífico mudou o perfil do produtor.
Quando a sigatoka negra apareceu, muitos acharam que seria o fim.
Difícil
cruzar o Vale do Ribeira em São Paulo e não encontrar um bananal. São 36 mil
hectares plantados com as variedades nanica e prata e uma produção de 900 mil
toneladas por ano.
Os produtores locais podem se considerar vencedores: conseguiram
ganhar uma batalha que foi dada como perdida quando surgiram os primeiros
registros da sigatoka negra na região.
A sigatoka negra é causada pelo fungo mycosphaerella fijiensis,
que é transportado pelo vento. Ele pode percorrer até 70 quilômetros de
distância e desenvolve-se bem em condições de alta temperatura e umidade
elevada. A infecção se dá com a chegada de esporos na folha vela ou charuto,
que é a mais nova.
A doença assustou até quem já está no ramo há mais de 40, como
José Teixeira. Os bananicultores pensaram que teriam que largar a cultura. E é
comum ver bananais inteiros abandonados ao longo da estrada, alguns até com
frutos.
Em uma bananeira é possível observar que ela até conseguiu
formar um cacho, mas por causa do fungo, ele está perdido. É que a banana para
crescer e amadurecer precisa das folhas, que transformam a energia do sol em
açúcares no processo conhecido como fotossíntese. Com as folhas assim, a banana
não cresce e deste tamanho, comercialmente não tem valor nenhum.
Foi
preciso muito estudo para encontrar o jeito certo de lidar com a sigatoka
negra, considerada a mais séria e destrutiva doença da bananeira. Várias
pesquisas foram feitas na Apta, a Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios. Em uma delas, foram cultivadas 1.900 plantas, de cinco maneiras
diferentes, variando o espaçamento e os tratos culturais.
Depois de três anos, a conclusão: o adensamento ideal ficou em
2.500 plantas por hectare, com espaço de dois metros entre as plantas.
Nos tratos culturais, o resultado mostrou que não foi possível
controlar a doença sem fungicida e que a prática de desfolha, que é a retirada
das folhas mais velhas, é fundamental.
E é de olho nas folhas que está o controle da sigatoka negra. A
técnica do monitoramento foi trazida dos países da América Central, onde o
ataque da doença está bem avançado. O sistema permite que o produtor saiba
exatamente o momento de fazer a aplicação do fungicida. A técnica usa um
esquema de pontuação para avaliar se as lesões estão mais ou menos graves.
Em um bananal de 50 hectares, são selecionadas 10 plantas que
serão monitoradas desde o surgimento da folha vela até o lançamento do cacho. A
observação será feita nas folhas dois, três e quatro. Toda semana, é preciso
ver se surgiram lesões e em que estágio elas estão.
Em uma fazenda considerada modelo no cultivo de banana, a
produtividade média é de 60 toneladas por hectare por ano, enquanto que o
número da região é de 24 toneladas por hectare. Ao contrário do que a gente
podia imaginar, lá também tem sigatoka negra, só que o produtor aprendeu a
conviver com ela.
Silvio Romão acompanha a avaliação do agrônomo José Carlos de
Mendonça. Os números são anotados na própria planta e depois levados para o
computador. Quando o gráfico aumenta dois pontos é hora de pulverizar de novo.
Os números mostram que a técnica do monitoramento está dando
certo no Vale do Ribeira: enquanto na Costa Rica são necessárias 52
pulverizações por ano e no Equador 32, aqui os produtores estão conseguindo
segurar a agressividade da doença com 10 aplicações por ano.
O investimento mostra que o uso da tecnologia e o empenho do
produtor podem afastar até a mais assustadora das ameaças.
Uma boa drenagem do solo também ajuda no controle da sigatoka
negra. Os técnicos recomendam fazer uma vala no bananal para o escoamento da
água.
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