Reservas falham na proteção de
espécies, diz pesquisa
Criadas para conservar a biodiversidade, áreas
protegidas em florestas tropicais estão falhando neste compromisso. Análise de
dados dos últimos 20 a 30 anos de 60 reservas na África, na Ásia e na América,
incluindo o Brasil, aponta que metade delas está experimentando uma queda na
quantidade de indivíduos de diversas espécies analisadas.
Apesar de serem
tecnicamente preservadas, essas reservas continuam sofrendo ameaças como perda
de hábitat, caça e superexploração de produtos florestais. Falta, em boa
medida, proteção às áreas protegidas.
“Alguns parques não
passam de linhas desenhadas nos mapas. A biodiversidade naqueles mais
desprotegidos certamente está indo pior, na média, do que naqueles que contam
com melhor proteção”, disse o biólogo William Laurance, da Universidade James
Cook, na Austrália. Ele coordenou um grupo de mais de 200 cientistas que
assinam nesta quinta-feira um artigo de alerta na revista Nature.
Os pesquisadores
analisaram indicadores de 31 grupos de espécies (de árvores e borboletas a
primatas e grandes predadores) e observaram que nas reservas com a “saúde mais
frágil”, como eles chamaram, o declínio é amplo entre várias espécies.
O levantamento
apontou que a queda mais significativa foi observada em três locais: Kahuzi
Biega, na República Democrática do Congo, na Reserva Botânica Xishuangbanna, na
China, e no Parque Nacional Sierra Madre do Norte, nas Filipinas.
No Brasil, apenas
quatro reservas foram incluídas na pesquisa (três na Amazônia e uma em São
Paulo) e uma acabou entrando na metade mais crítica do levantamento (a Reserva
Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba). Na métrica da saúde das reservas
usada pelos pesquisadores, ela ficou nos 10% com a pior performance, explica
Laurance.
“O problema que
percebemos lá é a contínua perda de cobertura florestal e o crescimento, ao
longo do tempo, de caça ilegal e da ação de madeireiros tanto dentro quanto
fora da reserva. O aumento da população fora do parque também está pressionando
a área”, diz o pesquisador.
A condição do entorno
é um dos principais fatores apontados pelos autores como responsáveis pela
saúde das áreas voltadas para a preservação. Em alguns casos, as reservas são
verdadeiras ilhas no meio de um ambiente muito pressionado ou já bastante
degradado e sem nenhum tipo de ligação com outros remanescentes florestais -
situação bastante conhecida no Brasil. Os pesquisadores propõem a criação de
zonas de amortecimento, onde haja algum tipo de controle do uso da terra.
A proximidade com a
cidade, por exemplo, é um dos fatores que pressiona a reserva Ducke, próxima de
Manaus, também analisada no estudo. O pesquisador australiano William
Magnusson, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, lembra que a
poluição da cidade, tanto do ar, quanto de um riacho que corre para a reserva,
é um dos problemas. Lá o macaco-aranha está quase extinto e as onças-pintadas e
pardas estão mudando seus hábitos alimentares, o que é sinal de pressão. Para
ele e Laurance, que atuou por anos na Amazônia, a pesquisa serve como alerta
para as pressões que as unidades de conservação nacionais estão sofrendo.
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