Dilma deve fazer reforma
ministerial depois das eleições
BRASÍLIA - Uma reforma ministerial já é tida como certa na
Esplanada de Dilma Rousseff para depois das eleições municipais ou, com mais
possibilidade, para depois da escolha dos novos presidentes da Câmara e do
Senado. Apesar de estar ainda distante, o assunto é constante nos comandos dos
partidos aliados e em alguns gabinetes mais aflitos dos ministérios. O resultado
da dança das cadeiras ainda não está definido, mas políticos se debruçam desde
já sobre cenários possíveis que tendem a ser desenhados após o processo
eleitoral. A lógica é: quem fizer mais prefeitos em cidades-chave deverá ser
beneficiado.
Para o principal partido aliado, o PMDB, pode haver mudanças. O
ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, vem sendo sondado pelo Palácio do
Planalto para resolver um impasse do governo: abrir espaço para que a senadora
Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA),
ocupe o ministério que deseja. Kátia é considerada uma peça fundamental pelo
Planalto para a aprovação do Código Florestal neste segundo semestre. Segundo
interlocutores palacianos, ela estaria hoje cumprindo um papel que, no passado,
ficava por conta do senador Blairo Maggi (PR-MT), que se afastou do governo
devido à crise do partido com o Planalto, por não conseguir emplacar um nome
para o Ministério dos Transportes.
Mas a senadora não é o nome preferido do seu partido, o PSD. Muito
pelo contrário. A briga que vem travando publicamente com o presidente da
sigla, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, pode dificultar a realização
dos sonhos de Kátia Abreu. Ela tem feito visitas constantes a Dilma Rousseff e
tem sinalizado apoio ao texto que a presidente pretende aprovar para o Código.
No entanto, desconversa quanto às suas pretensões, dizendo que é mais forte na
CNA. Experiente, a senadora sabe que, quanto mais discreta se mantiver a
respeito de suas intenções, menores serão as chances de sair frustrada. Mesmo
que não termine sentando na cadeira ministerial, ela certamente terá influência
na escolha do representante do PSD na Esplanada.
O PMDB, no entanto, não pretende ficar sem a Agricultura para que
Dilma resolva seu problema. Kátia Abreu já foi convidada a se filiar ao partido
e só teria o apoio da legenda que tem mais candidatos a prefeitos este ano se
passasse a integrá-la.
- Se a senadora não se filiar ao PMDB, não terá espaço em um
ministério que hoje é nosso. Quem terá que ceder nesse caso será o PT -, aponta
um cacique peemedebista. Caso isso ocorra, o PSD teria que arrumar outro lugar
no governo.
O PMDB ainda sonha em indicar um nome para o Ministério dos
Transportes no lugar do queridinho de Dilma, Paulo Sérgio Passos. Uma operação
difícil para Dilma engolir, mas que entra também nas negociações para as mesas
da Câmara e do Senado. Caso o Planalto não consiga fazer cumprir o acordo com o
PMDB de eleger Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para a presidência da Câmara no
próximo biênio, terá de compensar o partido de alguma maneira que ainda deverá
ser estudada.
Mendes Ribeiro, que no ano passado foi cogitado para assumir o
Ministério dos Transportes, no auge da crise com o ex-ministro Alfredo
Nascimento, poderia finalmente ir para a pasta. Segundo interlocutores do
Planalto, o PR, que foi defenestrado dos Transportes por conta de denúncias de
irregularidades, deverá ficar mais tempo de molho. Quando Paulo Sérgio Passos
assumiu o lugar de Nascimento, o partido insistiu em que Passos não
representava a legenda e rebelou-se no Congresso, declarando-se um partido
"independente". Na prática, o PR tem dado muito trabalho ao Planalto
em votações importantes, sempre na barganha por cargos ou emendas, estratégia
que aliados já perceberam não funcionar com Dilma Rousseff.
Outro xadrez a ser resolvido é com o PSB, partido que está em
disputa com petistas em ao menos quatro importantes capitais: Belo Horizonte,
Recife, Fortaleza e Curitiba. A avaliação de integrantes do governo é que, caso
o PSB sofra derrota nesses municípios, poderá perder o Ministério da Integração
Nacional, hoje ocupado por Fernando Bezerra, aliado de Eduardo Campos.
No início do ano, o ministro sofreu abalos por conta de denúncias
de nepotismo e favorecimento do filho na liberação de emendas. Mas Eduardo Campos
trabalhou e conseguiu mantê-lo no lugar, não sem arranhões na imagem.
Segundo aliados, o PSB, se sair mais fraco dessas eleições, com
derrotas nas capitais onde está rompido com o PT, poderá perder a pasta para o
PSD de Gilberto Kassab, que já conseguiu tempo de televisão e fundo partidário
e é aliado dos petistas em pontos importantes.
Há também os ministros que, apesar de serem da cota pessoal de
Dilma Rousseff, não têm apresentado desempenho satisfatório e, por isso, podem
entrar na dança das cadeiras. Um deles é o chanceler Antônio Patriota, a
despeito de ser amigo pessoal da presidente. Segundo interlocutores, sua
maneira de trabalhar não tem agradado Dilma, que interfere cada vez mais
diretamente nas questões internacionais. A presidente teria vontade de trazer a
representante na Organização das Nações Unidas (ONU), Maria Luiza Viotti, para
o lugar de Patriota.
Com isso, aumenta a cota feminina na Esplanada e se livra do
ministro cuja atuação tem sido considerada "apagada", já que o foco
da presidente das questões internacionais tem sido a economia, tema de seu
próprio domínio. Pastas menos cobiçadas como Igualdade Racial e Secretaria de
Política para as Mulheres também poderiam sofrer alterações pelo mesmo motivo.
O outro jogo que pode interferir na composição da Esplanada são as
eleições para presidente do Senado. Dilma pretende levar o ministro das Minas e
Energia, Edison Lobão, para presidir a Casa. Com isso, assumiria o atual
secretário-executivo, recentemente filiado ao PMDB, Márcio Zimmermann. Mas não
por muito tempo. Somente até o final de 2013, quando o governador do Rio de
Janeiro, Sérgio Cabral, poderá deixar o governo e passar a ocupar a pasta.
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