Experimento sobre a 'Fertilização
do Oceano' armazena CO2
Experimentos para 'fertilizar' os oceanos com ferro e favorecer
assim a floração de fitoplâncton capaz de "capturar" CO2 no fundo do
mar mostram novos caminhos para lutar contra o aquecimento do planeta, embora
existam muitas questões, segundo um estudo divulgado na revista Nature.
"A fertilização do oceano com componentes a base de ferro
provocou a floração do fitoplâncton, dominado por complexos de espécies
microscópicas, arrastando uma quantidade considerável de dióxido de carbono em
direção ao fundo dos oceanos", ressalta a equipe de pesquisadores.
Este trabalho é um dos maiores e mais detalhados testes da chamada
fertilização do oceano, uma prática que está proibida pela legislação
internacional, embora sua pesquisa seja permitida.
Enquanto os cientistas do mundo inteiro buscam maneiras de
armazenar e neutralizar o carbono, um dos principais gases de efeito estufa,
responsável pelo aquecimento do planeta, a experiência realizada em 2004 nos
mares austrais por uma equipe dirigida por Victor Smetacek, do Instituto de
Pesquisa Marinha de Bremerhaven, na Alemanha, não conseguiu "avaliar com
exatidão a duração deste sequestro" de carbono.
As cinco semanas de observação que passou na Antártida mostraram
que a floração da diatomácea (algas unicelulares microscópicas) estava em seu
apogeu quatro semanas depois da fertilização.
Posteriormente, ocorreu a mortalidade de um grande número de
espécies de diatomáceas formando massas viscosas de elementos, que incluíam
materiais fecais dos zooplânctons, que caíam rapidamente no fundo do oceano.
"Todos estes elementos e múltiplos testes - cada um com um
enorme grau de incerteza - nos conduzem à conclusão de que ao menos a metade
desta biomassa foi para além dos 1.000 metros de profundidade e que uma
proporção substancial sem dúvida chegou ao fundo do oceano austral",
asseguram os pesquisadores.
Assim, a floração de fitoplâncton fertilizado com sulfato de ferro
"pode sequestrar carbono em escalas de tempo calculadas em séculos nas
camadas de água até acima do fundo do mar e inclusive durante mais tempo nos
sedimentos destas profundidades", acrescentaram.
Resumindo os resultados deste estudo, Michael Steinke, da
Universidade britânica de Essex, explica: "como as plantas em terra firme,
o fitoplâncton, procedente da fotossíntese, que flutua no mar, capta CO2 na
superfície do oceano e, quando o fitoplâncton morre, afunda para o fundo do
oceano, onde boa parte fica presa nos sedimentos profundos durante alguns
anos".
Esta transferência de CO2 contribui, segundo ele, para manter a
temperatura ambiente em um nível que facilite a vida em nosso planeta.
"Isto abrirá caminho para métodos de engenharia em grande
escala que utilizem a fertilização do oceano para atenuar as mudanças
climáticas?", se pergunta. "Sem dúvida não, porque encontrar o local
adequado para tais experimentos é difícil e caro", segundo ele.
Em 2007, os especialistas da União Internacional para a
Conservação da Natureza (UICN) advertiram para os riscos desta técnica,
sobretudo para o ambiente marinho, um aspecto ausente do estudo publicado pela
Nature.
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